11/07/2014

Quando o Inesperado Acontece - 2º Capítulo


Kimberly Roberts é, definitivamente, a melhor amiga que eu alguma vez tive. Não que tivesse sido a única e muito menos que sejamos próximas desde infância, mas ela me entende. Ela sabe interpretar exatamente a forma como eu me sinto atualmente. Neste momento em que ela está ajoelhada no banheiro dela vomitando tudo o que já não existe no estômago é o exemplo perfeito disso.
— Aqui, eu te ajudo. — Falei segurando no seu cabelo. Ouvi um baixo agradecimento e ela logo voltou a atacar a privada.
Ao contrário de mim que sempre fui o tipo mais comum de garota, Kim é o modelo de perfeição. O estereótipo que os homens fazem de uma mulher, pelo menos. Com um corpo de dar inveja a muita cirurgia plástica e com uma inteligência nata, Kim sabe como fazer um macho virar um vira-lata. Ela tem esse tipo de poder sem ao menos se esforçar.
Já para não falar da força interior e da personalidade inabalável. Era por isso que eu não entendia o porquê de Kim estar vomitando as tripas neste momento. Ela tem uma saúde de ferro!
— Tem a certeza que não comeu nada estragado? — Perguntei quando ela finalmente terminou. Continuei sentada no chão, encostada aos azulejos enquanto a vi-a levantar-se, lavar os dentes e voltar para sentar de frente para mim. O silêncio reinou por dois minutos, eu diria, até que ela falou o que eu nunca pensei ouvir da boca dela.
— A minha menstruação está dez dias atrasada. — Soltou simplesmente. Arregalei os olhos e abri a boca para dizer alguma coisa, mas nada saiu. — Eu nem sei o porquê de te revelar isso. Não é da sua conta mesmo. — Falou por fim. Olhei-a ofendida e fiz questão de demonstrá-lo.
— Porque não? Que eu saiba somos amigas, certo? Acha que eu sou alguém para julga-la do quer que seja? — Perguntei um pouco mais brusca do que gostaria.
— Eu conheço você, Demi. Eu sei o que você está pensando. — Começou ficando agitada. — Que eu devia ter esperado até ao casamento para perder a virgindade e que eu pedi por isso. — Falou levando as mãos ao ar para depois soltá-las sobre as pernas. — Pois fique sabendo que eu não pedi por isso!
Suspirei e concordei com a teoria dela. Não me surpreende que ela pense assim, afinal, sou filha de Elisa Lovato. A maior feminista que Chicago já viu.
— Pode ter razão em algumas coisas, mas isso não quer dizer que todas elas se apliquem. — Falei aproximando-me e segurando suas mãos. Os olhos verdes de Kim já beiravam as lágrimas e ainda não tínhamos chegado ao ponto principal da situação. — Esqueça a minha mãe e a forma como fui educada. Neste momento não me importa se você perdeu a virgindade antes do casamento ou não. Foi uma escolha sua e é algo muito pessoal. A questão não é essa e você também sabe disso. — Disse procurando os seus olhos entre os cabelos negros. Quando ela levantou o rosto para me olhar firmemente, percebi que ela estava desmoronando.
— Eu não sei o que fazer, Demi. — Admitiu. — Eu faço desporto e tomo energéticos, mas mesmo quando fiz a medicação para a anemia a minha menstruação nunca se alterou tanto assim e agora ela simplesmente não veio. São dez dias Demetria. — Disse já com as lágrimas escorrendo. — Dez dias de atraso. E já é o terceiro dia que eu me sinto assim. Não tenho passado bem as noites e não me sinto minimamente capaz de ir trabalhar hoje.
Suspirei e puxei-a para um abraço apertado. Reconfortei-a pelo máximo tempo que podia e deixei-a chorar o que vinha guardando. Aquela era a primeira vez que eu via Kim vulnerável. Nunca no último ano eu lembro de vê-la perder o controlo de qualquer situação.
— Você sabe o que tem de fazer, não sabe? — Perguntei quando ela já estava mais calma. Senti-a afastar-se e limpar as lágrimas enquanto respirava fundo.
— Eu sei. Já até comprei os testes. A dúvida está acabando comigo. — Revelou. Notei como era difícil para ela me encarar agora. Foi quando percebi que esta devia ser a primeira vez em muito tempo em que ela se deixava ver frágil assim.
— Quer que eu fique com você enquanto acaba com a dúvida? — Perguntei com um meio sorriso. Kim não precisava de julgamento agora. Ela precisava sentir que não estava sozinha. E ela não estava.
Vi-a abrir uma gaveta no armário do banheiro e pegar as três caixas retangulares que estavam lá guardadas. Reparei que as três eram testes de gravidez e que os três eram de marcas diferentes. Apertei sua mão mais forte e dei um sorriso mais confiante, tentando de todas as formas encorajá-la.
— Vou aguardar lá fora. — Avisei dando um beijo em sua testa e sussurrando em seguida. — Você não está sozinha, Kim.
Passado meia hora ela finalmente abriu a porta que nos separava. Desencostei da parede do corredor e entrei assim que ela deu passagem. Olhei-a com uma expectativa que nem eu percebia, mas entendi que o resultado deu positivo quando ela me abraçou forte e chorou.
Minha relação com Kim nunca foi próxima, mas naquele momento senti que ela não sabia se podia contar com mais alguém. Apesar de nos conhecermos há pouco mais de um ano e de eu saber tudo o que uma colega de trabalho e amiga podem saber, nós nunca fomos próximas ao ponto de termos o mesmo grupo de amigos ou de irmos ao shopping juntas. Ela é mais como a irmã mais velha que sabe manter a distância da irmã caçula.
Duas horas depois terminei de fazer a macarronada e coloquei tudo sobre a mesa. Começámos a comer e reparei que Kim fazia questão de permanecer em silêncio e de vez em quando me encarava. Eu tinha um monte de perguntas pessoais em mente, mas sabia que devia ser ela a me dar abertura para fazê-las. Apesar de estarmos a partilhar uma refeição pela primeira vez, este ainda é o espaço dela.
— Pode perguntar Demi. — Permitiu. Corei envergonhada por deixar as minhas intenções tão na cara. Eu sou tão transparente assim? — A esta altura do campeonato estou aberta a todo o tipo de intromissões. — Falou parecendo um pouco mais animada. Assenti, concordando com suas palavras e respirei fundo enquanto pousava os talheres e dobrava uma das minhas pernas sob mim.
— Você sabe quem é o pai?
Só depois de ter feito a pergunta é que percebi a merda que tinha feito. Apesar de achar que uma mulher deve ter o controle sobre as suas ações, não acho que o sexo feminino deva ser obrigado a esperar até ao casamento para perder a virgindade. Como mamãe diz, se os homens não o fazem, porque nós deveríamos?
Não é como se ela me incentivasse a fazê-lo com o primeiro homem que apareça. Não. Ela só acha que uma mulher deve ter a capacidade de escolher quando quer fazê-lo e com quem. Para mamãe, apesar de perdermos uma parte de nós no ato, a recompensa é uma fonte inesgotável de poder sobre o homem. E para Elisa Lovato, tudo se trata de poder sobre o homem. Qualquer um.
Olhando para Kim, uma pessoa pode dizer que ela não é virgem. Ela tem uma confiança indestrutível e exala tensão sexual. Ela é o tipo de mulher que não se esforça para ser sensual. Ela não precisa. Além disso, quando o tema é sexo, eu nunca vi ninguém mais à vontade do que ela, o que só me leva ainda mais a pensar que ela já é experiente há algum tempo.
— O que a faz pensar que não sei? — Perguntou rindo. Suspirei mais aliviada por ela não ter levado como ofensa.
— Eu vou ser honesta com você Kim. Você é o tipo perfeito de mulher. O mundo para quando você passa e você é famosa pela população masculina lá no bar. Você conhece todo o mundo e todo o mundo te conhece. Você é tipo uma Deusa e…
— E com isso você acha que eu já sou experiente há algum tempo, né? — Perguntou com uma sobrancelha erguida. Dei de ombros, mas concordei. Ela riu mais um pouco, o que me deixou confusa. Esperava que ela me desse um tapa na cara, não isso. — Se você soubesse.
— O quê? — Perguntei visivelmente confusa.
— Já que eu revelei tanto, não custa revelar um pouco mais. — Comentou mais para si própria do que para mim. — A verdade é que eu só transei com um cara nos meus vinte e um anos de vida. — Confessou. Arregalei os olhos e rapidamente me toquei do que estava fazendo e tentei esconder a surpresa. Idiota Demi. — É, eu sei. É um choque e tanto. Até para mim. Acredite, até eu me acho uma “vadia” às vezes. — Falou fazendo sinal de aspas com os dedos.
— Você não é uma vadia. — Falei firme. Sempre achei Kim bastante popular entre os homens, mas daí a achar ela uma vadia vai um grande passo. — Eu sei reconhecer uma vadia quando vejo uma e você não é.
— Agradeço. — Disse com um meio sorriso. — Você ficaria surpresa com o quão fácil é criar uma falsa reputação. As pessoas são perversas e adoram os podres da vida de outras pessoas. Para mim ajudou ter essa fama. — Disse dando de ombros. — Eu sei quem sou e nunca fui dessas de ter a necessidade de provar aos outros que não sou aquilo que eles pensam. Eles que pensem o que quiserem. Eu não me importo.
— Como essa má reputação ajuda você?
— Quando você faz turnos no Bourbon como o de sábado à noite, você precisa criar um muro de aço que separe quem você é de quem os clientes querem que você seja. Ter fama de vadia ajuda com os bêbados tarados, por exemplo. Quando um homem acha que você é confiante o suficiente para derrubá-lo, muitas vezes eles nem se atrevem a tentar. E os que o fazem, sempre se arrependem no final. É uma espécie de proteção que eu não me importo de ter enquanto trabalhar no Bourbon.
— Entendo. Isso é realmente inteligente. — Falei olhando-a. — Ou muito estúpido. — Ri ao vê-la rir também.
— É algo que não chega a incomodar depois que você aprende a lidar com isso. Desde que as pessoas que importam saibam quem você é, não vejo o porquê de não agir assim.
— Um cara, hã? — Perguntei retoricamente. Ela sorriu levemente e assentiu. Vi nos seus olhos que ela não iria revelar o nome dele e de alguma forma, não queria ser eu a pressioná-la. Ela iria fazê-lo quando estivesse pronta.
— Apenas um cara e veja o que aconteceu. — Riu passando a mão na barriga reta de forma inconsciente. Sorri com o gesto e quando ela notou o que estava fazendo, parou por um segundo, voltando a ficar séria. — Eu não sei o que fazer, Demi. Tenho vinte e um anos e ainda há pouco comecei a trabalhar para a minha independência. Como posso criar um filho? Como posso sequer cuidar dele?
— Você está pensando em abortar? — Perguntei devagar. Vi-a arregalar os olhos, horrorizada com a ideia, mas segundos depois sua mente pareceu ponderar.
— Essa ideia é aterrorizante para mim. Posso lidar com má fama, mas não com a morte de um filho meu. Não sou uma assassina Demetria. No entanto, eu não sei o que fazer. O pai tem vinte e um anos, mas ainda é um garoto. Ele não tem a capacidade para lidar com isso. Eu não tenho a capacidade para lidar com isso.
Respirei fundo e segurei a sua mão sobre a mesa. Kim estava completamente perdida, e apesar de eu nunca ter estado numa situação destas, eu sabia que ela teria que ser muito forte para ultrapassar isto.
— Você é forte Kim. Você vai saber o que fazer e eu vou estar aqui para te ajudar no que precisar. — Encorajei. — Em relação ao pai, bem, se você é esse mulherão todo e só teve um único homem em toda a sua vida, acho que isso deve significar algo. — Disse. Vi-a dar um pequeno sorriso apaixonado.
— Nós não temos nada sério. Não há sentimentos envolvidos. É apenas sexo.
— Hum hum. Da sua parte ou da dele? — Perguntei sorrindo maliciosa. Pela primeira vez na vida vi Kimberly Roberts corar.
— Você não tem um turno para fazer? — Questionou querendo mudar de assunto. Ri enquanto me levantava e cheguei perto dela para lhe dar mais um abraço.
— Eu realmente tenho que ir. Você vai ficar bem? — Perguntei afastando-me para olhá-la.
— Sim, não se preocupe. Só preciso ficar um pouco sozinha.
Despedi-me com a promessa de que ela me avisaria se algo acontecesse e desci no elevador em direção à saída. Notei que a noite estava fresca e sorri abraçando-me contra a jaqueta preta que eu usava enquanto caminhava em direção ao Bourbon. Pensei no que Kim disse sobre criar um muro de aço e perguntei-me quantas surpresas iria eu ter no famoso turno de sábado à noite. Faltava pouco para eu descobrir.

Desculpem por vos deixar sem capítulo, mas estou tendo dificuldade em gerir a escrita com a postagem e a edição. Tenho preparado todas as imagens dos personagens e os banners dos capítulos, mas eu não consigo fazer melhor sem perder muito tempo com isso =/Se alguém por aí fizer banners ou se alguém conhecer e me puder indicar, vou ficar mil vezes agradecida. Espero que tenham gostado do capítulo. Se tiver algum comentário pode ser que posta outro capítulo ainda hoje para compensar a falta deles ;)

6 comentários:

  1. Posta logo, a fic é otima! bjos

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  2. PUTA MERDA (desculpa o palavrão)
    VEI eu acompanho as suas fics tipo desde de EVER e quando excluiu o blog e quando o orkut parou de funcionar nem acreditava e tipo estou MUITO feliz de achar vc de novo :')
    suas fics sao as melhores que eu ja li em toda a minha vida!
    Serio
    e eestou amando essa fic tbm entao posta logo please!!!!
    Beijooos

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    1. Fico feliz por encontrar de novo uma leitora das "antigas". Espero que continue gostando da fanfic. Em breve postarei Fiz sexo com uma nerd reescrita para fanfic em vez de mini-fic ;)

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    2. Aeeeee o/
      Fiz sexo com uma nerd e a mini-fic favorita, vou esta esperando pela fanfic o/

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    3. Vai ter umas mudanças, mas prometo que vai ser para melhor :)

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