07/07/2014

Como se Apaixonar em 40 Dias - 22º Capítulo


Quem disse que não há homem capaz de demorar mais que uma mulher para se arrumar, mentiu. Eu estava há dez minutos esperando por Joseph e nada dele aparecer. Eu não sei que necessidade é que ele tem de demorar mais que eu! Terminei de comer minha maçã verde e deitei o caroço no lixo de baixo da bancada no centro da cozinha. Sorri ao olhá-la. As lembranças da noite passada são boas de mais para não sorrir.
— Quer repetir? — Ouvi Joseph perguntar da porta da cozinha. Senti meu rosto corar e tentei disfarçar a vergonha caminhando até ele.
— Uma vez é o bastante. Obrigada. — Agradeci divertida enquanto o enlaçava pela cintura.
— Não concordo. — Falou beijando meu pescoço. — Mas não temos tempo para fazê-lo de qualquer das maneiras. — Disse por fim me dando um selinho. Sorri para ele e segui-o até à porta de casa.
Meu pai é... Bem, meu pai é meu pai. Já se sabe como ele gosta de reuniões familiares e é claro que não perderia a oportunidade de ter a casa cheia de gente. Assim que soube que Joseph fazia anos logo deu a ideia de reunir o povo e fazer algo. Achei legal e oportuno já que o meu espécie de namorado não me tinha falado nada sobre os pais. Eu sei que eles ainda tinham problemas e Joseph também sabia disso, por isso não os referia em momento algum.
— Quando vai se entender com os seus pais? — Perguntei acariciando sua nuca enquanto ele dirigia. Pensei que fosse bufar impaciente e revirar os olhos, mas ele apenas me olhou com um meio sorriso.
— Não faço ideia. Vai depender da forma como eles me vêm agora. Afinal, isto era um tipo de reabilitação.
— Você não é mais um adolescente para fugir ou fazer o que eles querem que você faça. Está na hora de tomar as rédeas de sua vida sem que tenha de se afastar deles. Principalmente sua mãe.
— E você precisa realmente de um novo carro. Com todo o respeito com este meio de transporte aqui, mas ele está morrendo Demi. — Mudou de assunto enquanto cutucava o volante.
— Talvez eu pense no assunto. — Falei sem querer negar sua ideia. Ele não precisava saber o que eu planeava.
Não foi uma surpresa quando cheguei a casa de meu pai e Zeus veio correndo para Joseph. Numa das visitas o senhor Lovato resolveu adotar o cachorro para ele e agora era eu quem ficava de lado enquanto o meu inquilino matava as saudades do seu parceiro.
— Olha como ele cresceu Demi. Você cresceu, né Zeus? — Falou Joseph todo bobão enquanto acariciava o pêlo do cachorro que só faltava sorrir. O vai vem frenético de sua cauda demonstrava o quanto ele estava feliz.
— Isso! Me troca! — Brinquei dando a língua para ele. Joseph riu e eu fui cumprimentar meu pai. — Tudo bem? — Perguntei depois de abraçá-lo.
— Tudo ótimo filha. Vem, tenho alguém para te apresentar. — Falou me puxando em direção à cozinha. — Esta é Sue. É a nova vizinha. Instalou-se na terceira casa da rua. Lembra daquela que os Stuart colocaram à venda? — Apresentou animado. Sorri para ela e estendi minha mão.
— Eu sou Demetria, mas pode me chamar de Demi.
— Prazer Demi. Seu pai fala maravilhas de você.
Sue era uma mulher da idade do meu pai que aparentava ser jovem de mais. Tinha um bronze típico do sul e seus cabelos loiros condiziam com os olhos verdes. Era divorciada e por esse motivo tinha mudado de cidade. Parecia ser uma pessoa genuína e doce e foi isso que me fez gostar dela no primeiro instante. E é claro que eu não deixei de reparar no sorriso bobão que meu pai tinha no rosto sempre que Sue se fazia ouvir.
Namorada é um assunto meio taboo para meu pai. Nunca tínhamos falado sobre a opção de ele conhecer outra mulher e se relacionar com ela e mesmo que eu não conseguisse imaginá-lo esquecendo a minha mãe, eu sabia que estava na hora de ele encontrar alguém bom e que o faça feliz. Sue podia ser essa pessoa.
— Parabéns Joseph! — Exclamou meu pai alegremente quando o Jonas se aproximou com Zeus em seus calcanhares. — Mais um ano partindo corações garoto.
— Obrigado Sr. Lovato. — Agradeceu abraçando-o. Apresentações foram feitas entre Sue e Joseph e eu senti um arrepio na espinha quando o Jonas me segurou pela cintura. Recebi uma encarada significativa do meu pai e isso fez minhas mãos começarem a suar. Rezei para que ele não fizesse perguntas que eu mesma não podia responder.
Como era de esperar o pequeno terraço do meu pai estava preenchido por uma mesa cheia de comida e pessoas bem humoradas. Não éramos muitos, mas éramos o suficiente para uma pequena comemoração. Anabeth estava num canto acompanhada de Robert e notava-se o receio em seu rosto. A última reunião com os pais de Joseph não tinha corrido muito bem e era normal que ela ficasse hesitante com a reação do filho. Joseph falava com Brandon e Valentina assaltava os salgadinhos com Sue. Eu não sabia se Joseph iria até os pais, mas eu tinha a certeza de que ele já os tinha visto.
— Você tem noção que ele está mudado, não tem? — Ouvi meu pai perguntar ao meu lado. Dei um pulo pelo susto e só aí percebi que Joseph prendia minha atenção mesmo sem se dar conta.
— Eu sei. Eu notei. — Confirmei aceitando o copo de suco que ele me estendia.
— Com certeza. — Concordou com uma breve risada. Eu sabia que tinha algo por trás. — O quê? Pensa que eu não sei? — Perguntou quando viu que eu o olhava. — Além de conhecer Joseph desde garoto, também conheço a filha que tenho. Há muito tempo que eu entendi o que está havendo. — Explicou. Suspirei sem me esforçar para esconder. Aquele era meu pai. Sempre sabendo sem a necessidade de verbalizar.
— Fico feliz por isso. Você entende mais do que eu neste momento. — Disse deixando transparecer o que havia de errado.
— Sabe, eu sempre achei que Joseph iria se tornar um homem incrível, mas nunca o achei certo para você. Mesmo com essas mudanças ainda não acho. Há qualquer coisa em vocês que os torna extremamente incompatíveis. — Foi impossível não sentir uma pontada no peito com aquelas palavras. De todas as pessoas no mundo sempre achei que o meu pai seria o primeiro a nos apoiar caso... Caso nada. — É claro que isso é só o que eu acho e não a realidade. — Disse me abraçando pelos ombros. — Já faz muitos anos que eu vim ao mundo Demi e até hoje tenho provas de que a vida é como um trem descontrolado. Você não pode prever e muito menos evitar as coisas quando elas foram feitas para acontecer. A cada dia que passa tenho mais provas disso pequena. Sei que você e Joseph vão se ajeitar se for para ser assim. Não perca tempo pensado em como será. Viva.
E ao mesmo tempo em que aquelas frases me davam mais medo do que já me preocupava, elas faziam-me relaxar e sorrir ao olhar Joseph. Meu pai estava certo. Com certeza éramos incompatíveis. Mas foi isso que nos fez ficar juntos em primeiro lugar.

Joseph’s POV

Gargalhei de mais uma das histórias hilárias do Sr. Lovato e tentei controlar-me para não cair da cadeira de tanto rir. Brandon estava no mesmo estado que eu, contorcendo-se com a mão na barriga, já doendo de tanto rir. O Sr. Lovato era como um segundo pai para mim e ele tinha noção disso. Conheci-o por toda a minha vida e foi ele quem evitou que eu fosse para um colégio interno na Suiça. Ele sempre me salva quando eu preciso e desta vez não podia ser diferente. Foi ele quem me ajudou com a minha paixão por carros e foi ele quem me ajudou a que os meus pais não me deserdassem. Foi graças a ele que eu me aproximei de Demetria e a conheci realmente. Eu devia tudo àquele homem.
Ele sabia dos meus planos e sabia o que eu queria para mim, para o meu futuro. Ele me entendia como os meus pais não faziam e era por isso que eu estava rindo com ele e não estava abraçado a minha mãe como devia. Eu sabia que estava sendo infantil com aquele tipo de atitude, mas depois da nossa última conversa eu não sabia o que eles estavam fazendo ali. Esperava que meu pai estivesse viajando como sempre e minha mãe... Bem, esperava que acatasse mais uma das ordens dele. Foi uma surpresa encontrá-los ali e eu sabia que o olhar de Demetria significava que aquela era a minha chance de acertar as coisas. A minha dúvida era apenas uma: era eu quem tinha que acertar algo?
— Filho. — Ouvi minha mãe chamar quando arrumei uns pratos vazios e trocava por outros salgadinhos prontos a servir.
— Oi? — Perguntei olhando-a. Só havia eu e ela na cozinha e o seu meio sorriso mostrava o quanto ela estava nervosa. Eu ainda não tinha falado com os meus pais, mesmo depois de me terem cantado os parabéns.
— Eu... — Vi-a aproximar-se e parar perto de mim. — Parabéns Joseph. — Disse me olhando. Ela sorria sincera e eu sorri de volta.
— Obrigado. — Agradeci de verdade.
Antes que eu pudesse sequer imaginar, senti os braços de minha mãe à minha volta. Arfei de surpresa e sorri abraçando-a de volta. Eu sentia o seu coração batendo acelerado e inalava o perfume tão conhecido. Naquele momento me senti um menino novamente. Aquele menino que recebia um abraço daqueles todos os dias. Nunca era diferente. Sempre o mesmo carinho. Naquele momento era como se nada tivesse mudado.
— Eu te amo meu filho. — Ouvi-a dizer contra meu peito. — Eu estou muito orgulhosa de você. Do homem que você se tornou. — Confessou se afastando para me olhar. — Eu sei que eu e seu pai erramos. Nós não devíamos te forçar a ser alguém que você não quer e este tempo todo eu tenho visto o quanto você cresceu.
— Vocês queriam me mandar para um colégio interno quando eu ainda estava no ensino médio. Papai queria me mandar para um reformatório militar. — Lembrei sem conseguir me conter. Eu sabia que estava errado também, mas nunca que eu chegaria a extremos.
— Me perdoa. — Ouvi uma voz grava dizer. Levantei o olhar de minha mãe e vi meu pai parado na porta da cozinha. Eu não sabia o que poderia me chocar mais. Ele pedindo perdão? Admitindo seus erros?
— É sério isso? — Perguntei incrédulo. Um falso sorriso crescia em meus lábios enquanto via meu pai se aproximar.
— Joseph. — Avisou minha mãe repousando uma mão em meu peito.
— Sério que está pedindo perdão? Pelo quê exatamente? Por ficar fora da minha vida enquanto eu crescia apenas com a mamãe presente? Por querer mandar em mim quando eu já tinha idade suficiente para fazer as minhas próprias escolhas? Ou por finalmente ver que eu consigo perfeitamente viver sem vocês?
— Por tudo. — Respondeu mantendo sua postura firme. Sim, eu sentia-me abalado, mas já fazia muito tempo que eu conseguia fazer frente a Robert Jonas. — Por tentar controlar sua vida, por querer te culpar pelos meus erros e principalmente, por obrigar você a ser como eu. Mesmo querendo você não conseguiria. Não por não ter capacidades para isso, mas porque você não seria feliz. — Explicou me deixando sem palavras. Nunca passou pela minha mente que meu pai poderia se mostrar sentimental. — Eu me sentia desesperado e sua mãe me desesperava ainda mais. Você estava sendo o filho que eu não eduquei. Você estava vivendo como um garotinho mimado e eu e sua mãe não queríamos isso. Eu não sabia o que fazer. — Admitiu.
— Aí eu me lembrei do Sr. Lovato. — Falou minha mãe. — Sabia que você gostava dele e sabia que ao ter alguém “pés-no-chão” perto de você poderia mudar as coisas para melhor. Você precisava de realidade.
— Quando sua mãe veio até mim eu achei a ideia ridícula, mas agora... Agora acho que foi a melhor coisa que te aconteceu. — Disse com um meio sorriso. Suspirei e soltei a rigidez dos meus ombros. Era como se o mundo fosse mais leve a cada palavra que eles diziam.
— Eu conheci Demetria. Por isso foi a melhor coisa que me aconteceu. — Confessei vendo minha mãe abrir um sorriso lindo.
— Essa garota é especial para você. Eu já notei isso. — Disse meu pai. — Eu gostaria que você me perdoasse Joseph. Eu não quero mais viver neste conflito com o meu único filho. Muito menos no seu aniversário.
Olhei a entrada da cozinha e vi Demetria parada no batente da porta. Vi-a corar envergonhada e eu entendi que ela não sabia se devia ficar ou sair de lá. Olhei-a com um sorriso e percebi que ela tinha razão este tempo todo. Já estava na hora de eu me acertar com os meus pais.
— Você sabe que vai demorar até sermos uma típica família feliz, não sabe? — Perguntei abrindo os braços para meu pai. Não demorou até sentir os braços dele à minha volta e as costumes palmadinhas nas costas. Mantive o olhar em Demi e pisquei o olho para ela que mordeu o lábio inferior e piscou de volta. Sedutora sem nem mesmo notar.
— Acho que devemos todos trabalhar nisso. Agora se importam de me envolver nesse abraço aí? — Perguntou minha mãe me fazendo rir. Meu pai puxou-a e beijou-a fazendo-me sair do abraço no mesmo instante. A minha careta mostrava que aquela já não era a minha área, por isso corri até Demetria que me olhava com vontade de rir.
— Muito engraçado, né? — Ironizei chegando perto dela. Meus pais ainda se amassavam lá.
— São poucas as vezes que eu vejo você numa cena constrangedora. É meu dever aproveitar para te zoar nessas raridades. — Sorri e abracei-a pela cintura. Ela ficou tensa no mesmo instante e eu sabia o porquê. Lamentavelmente a minha vontade de ficar perto dela era grande de mais para evitar agarrá-la em público. — Estou orgulhosa de você Jonas. — Sussurrou com o rosto perto do meu. Era a segunda pessoa a dizer-me aquilo e eu sentia-me orgulhoso de mim próprio. Mesmo não merecendo.
— Esta é a parte da história em que eu ganho a garota?
— Qual garota Joseph Jonas? — Perguntou com falsa ofensa.
— Você. — Respondi lhe dando um selinho. — Esta é a parte da história em que eu ganho você.
— E eu? Ganhei você? — Perguntou divertida. Olhei-a com clara confusão e vi-a baixar o olhar para o chão. Ela estava envergonhada e mais que isso conseguia perceber que ela achava ter dito algo que não devia. — Desculpe, não era o que eu... Esquece. — Disse por fim. Eu ainda a olhava confuso. Como assim? Ela não sabia que eu era dela? — Ei. — Chamou segurando meu rosto. — Esquece isso, por favor. — Pediu novamente. Assenti ainda com dúvida. Com certeza não esqueceria, mas de qualquer forma aquele não era o melhor lugar para conversar. — Eu tenho um presente para você.
— Presente? Mas você já me deu um presente. — Falei com um sorriso malicioso enquanto me lembrava da noite anterior. Demetria sabia ser fogosa. Bastante fogosa.
— Esse é outro tipo de presente. — Disse baixinho. — Vem. Está lá fora.
Porque o meu presente estaria na parte da frente da casa? Seria grande? O que Demetria tinha inventado desta vez? Nunca imaginaria que fosse aquilo. Quer dizer, podia ser qualquer coisa, menos um carro. Não qualquer carro. Era o carro de Demi. Aquele pedaço de lata que eu tanto amaldiçoava estava agora em minhas mãos.
Era loucura, eu sabia. Mas era coisa de Demi e Brandon. Também só podia. Só ela era louca para ter uma ideia destas e só ele era louco o suficiente para apoiar. Demetria tinha abdicado do seu primeiro carro como minha prenda de aniversário. As palavras dela tinham sido simples: faça o que você mais gosta com ele. E eu faria com muito gosto. Iria reconstruí-lo e iria começar logo.

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