Quem disse que não há
homem capaz de demorar mais que uma mulher para se arrumar, mentiu. Eu estava há
dez minutos esperando por Joseph e nada dele aparecer. Eu não sei que
necessidade é que ele tem de demorar mais que eu! Terminei de comer minha maçã
verde e deitei o caroço no lixo de baixo da bancada no centro da cozinha. Sorri
ao olhá-la. As lembranças da noite passada são boas de mais para não sorrir.
— Quer repetir? — Ouvi
Joseph perguntar da porta da cozinha. Senti meu rosto corar e tentei disfarçar
a vergonha caminhando até ele.
— Uma vez é o
bastante. Obrigada. — Agradeci divertida enquanto o enlaçava pela cintura.
— Não concordo. —
Falou beijando meu pescoço. — Mas não temos tempo para fazê-lo de qualquer das
maneiras. — Disse por fim me dando um selinho. Sorri para ele e segui-o até à
porta de casa.
Meu pai é... Bem, meu
pai é meu pai. Já se sabe como ele gosta de reuniões familiares e é claro que
não perderia a oportunidade de ter a casa cheia de gente. Assim que soube que
Joseph fazia anos logo deu a ideia de reunir o povo e fazer algo. Achei legal e
oportuno já que o meu espécie de namorado não me tinha falado nada sobre os
pais. Eu sei que eles ainda tinham problemas e Joseph também sabia disso, por
isso não os referia em momento algum.
— Quando vai se
entender com os seus pais? — Perguntei acariciando sua nuca enquanto ele
dirigia. Pensei que fosse bufar impaciente e revirar os olhos, mas ele apenas
me olhou com um meio sorriso.
— Não faço ideia. Vai
depender da forma como eles me vêm agora. Afinal, isto era um tipo de
reabilitação.
— Você não é mais um
adolescente para fugir ou fazer o que eles querem que você faça. Está na hora
de tomar as rédeas de sua vida sem que tenha de se afastar deles.
Principalmente sua mãe.
— E você precisa
realmente de um novo carro. Com todo o respeito com este meio de transporte
aqui, mas ele está morrendo Demi. — Mudou de assunto enquanto cutucava o
volante.
— Talvez eu pense no
assunto. — Falei sem querer negar sua ideia. Ele não precisava saber o que eu
planeava.
Não foi uma surpresa
quando cheguei a casa de meu pai e Zeus veio correndo para Joseph. Numa das
visitas o senhor Lovato resolveu adotar o cachorro para ele e agora era eu quem
ficava de lado enquanto o meu inquilino matava as saudades do seu parceiro.
— Olha como ele
cresceu Demi. Você cresceu, né Zeus? — Falou Joseph todo bobão enquanto
acariciava o pêlo do cachorro que só faltava sorrir. O vai vem frenético de sua
cauda demonstrava o quanto ele estava feliz.
— Isso! Me troca! —
Brinquei dando a língua para ele. Joseph riu e eu fui cumprimentar meu pai. —
Tudo bem? — Perguntei depois de abraçá-lo.
— Tudo ótimo filha.
Vem, tenho alguém para te apresentar. — Falou me puxando em direção à cozinha.
— Esta é Sue. É a nova vizinha. Instalou-se na terceira casa da rua. Lembra
daquela que os Stuart colocaram à venda? — Apresentou animado. Sorri para ela e
estendi minha mão.
— Eu sou Demetria, mas
pode me chamar de Demi.
— Prazer Demi. Seu pai
fala maravilhas de você.
Sue era uma mulher da
idade do meu pai que aparentava ser jovem de mais. Tinha um bronze típico do
sul e seus cabelos loiros condiziam com os olhos verdes. Era divorciada e por
esse motivo tinha mudado de cidade. Parecia ser uma pessoa genuína e doce e foi
isso que me fez gostar dela no primeiro instante. E é claro que eu não deixei
de reparar no sorriso bobão que meu pai tinha no rosto sempre que Sue se fazia
ouvir.
Namorada é um assunto
meio taboo para meu pai. Nunca tínhamos falado sobre a opção de ele conhecer
outra mulher e se relacionar com ela e mesmo que eu não conseguisse imaginá-lo
esquecendo a minha mãe, eu sabia que estava na hora de ele encontrar alguém bom
e que o faça feliz. Sue podia ser essa pessoa.
— Parabéns Joseph! —
Exclamou meu pai alegremente quando o Jonas se aproximou com Zeus em seus
calcanhares. — Mais um ano partindo corações garoto.
— Obrigado Sr. Lovato.
— Agradeceu abraçando-o. Apresentações foram feitas entre Sue e Joseph e eu
senti um arrepio na espinha quando o Jonas me segurou pela cintura. Recebi uma
encarada significativa do meu pai e isso fez minhas mãos começarem a suar.
Rezei para que ele não fizesse perguntas que eu mesma não podia responder.
Como era de esperar o
pequeno terraço do meu pai estava preenchido por uma mesa cheia de comida e
pessoas bem humoradas. Não éramos muitos, mas éramos o suficiente para uma
pequena comemoração. Anabeth estava num canto acompanhada de Robert e notava-se
o receio em seu rosto. A última reunião com os pais de Joseph não tinha corrido
muito bem e era normal que ela ficasse hesitante com a reação do filho. Joseph
falava com Brandon e Valentina assaltava os salgadinhos com Sue. Eu não sabia
se Joseph iria até os pais, mas eu tinha a certeza de que ele já os tinha
visto.
— Você tem noção que
ele está mudado, não tem? — Ouvi meu pai perguntar ao meu lado. Dei um pulo
pelo susto e só aí percebi que Joseph prendia minha atenção mesmo sem se dar
conta.
— Eu sei. Eu notei. —
Confirmei aceitando o copo de suco que ele me estendia.
— Com certeza. —
Concordou com uma breve risada. Eu sabia que tinha algo por trás. — O quê?
Pensa que eu não sei? — Perguntou quando viu que eu o olhava. — Além de
conhecer Joseph desde garoto, também conheço a filha que tenho. Há muito tempo que
eu entendi o que está havendo. — Explicou. Suspirei sem me esforçar para
esconder. Aquele era meu pai. Sempre sabendo sem a necessidade de verbalizar.
— Fico feliz por isso.
Você entende mais do que eu neste momento. — Disse deixando transparecer o que
havia de errado.
— Sabe, eu sempre
achei que Joseph iria se tornar um homem incrível, mas nunca o achei certo para
você. Mesmo com essas mudanças ainda não acho. Há qualquer coisa em vocês que
os torna extremamente incompatíveis. — Foi impossível não sentir uma pontada no
peito com aquelas palavras. De todas as pessoas no mundo sempre achei que o meu
pai seria o primeiro a nos apoiar caso... Caso nada. — É claro que isso é só o
que eu acho e não a realidade. — Disse me abraçando pelos ombros. — Já faz muitos
anos que eu vim ao mundo Demi e até hoje tenho provas de que a vida é como um
trem descontrolado. Você não pode prever e muito menos evitar as coisas quando
elas foram feitas para acontecer. A cada dia que passa tenho mais provas disso
pequena. Sei que você e Joseph vão se ajeitar se for para ser assim. Não perca
tempo pensado em como será. Viva.
E ao mesmo tempo em
que aquelas frases me davam mais medo do que já me preocupava, elas faziam-me
relaxar e sorrir ao olhar Joseph. Meu pai estava certo. Com certeza éramos
incompatíveis. Mas foi isso que nos fez ficar juntos em primeiro lugar.
Joseph’s POV
Gargalhei de mais uma
das histórias hilárias do Sr. Lovato e tentei controlar-me para não cair da
cadeira de tanto rir. Brandon estava no mesmo estado que eu, contorcendo-se com
a mão na barriga, já doendo de tanto rir. O Sr. Lovato era como um segundo pai
para mim e ele tinha noção disso. Conheci-o por toda a minha vida e foi ele
quem evitou que eu fosse para um colégio interno na Suiça. Ele sempre me salva
quando eu preciso e desta vez não podia ser diferente. Foi ele quem me ajudou
com a minha paixão por carros e foi ele quem me ajudou a que os meus pais não me
deserdassem. Foi graças a ele que eu me aproximei de Demetria e a conheci
realmente. Eu devia tudo àquele homem.
Ele sabia dos meus
planos e sabia o que eu queria para mim, para o meu futuro. Ele me entendia
como os meus pais não faziam e era por isso que eu estava rindo com ele e não
estava abraçado a minha mãe como devia. Eu sabia que estava sendo infantil com
aquele tipo de atitude, mas depois da nossa última conversa eu não sabia o que
eles estavam fazendo ali. Esperava que meu pai estivesse viajando como sempre e
minha mãe... Bem, esperava que acatasse mais uma das ordens dele. Foi uma
surpresa encontrá-los ali e eu sabia que o olhar de Demetria significava que
aquela era a minha chance de acertar as coisas. A minha dúvida era apenas uma:
era eu quem tinha que acertar algo?
— Filho. — Ouvi minha
mãe chamar quando arrumei uns pratos vazios e trocava por outros salgadinhos
prontos a servir.
— Oi? — Perguntei
olhando-a. Só havia eu e ela na cozinha e o seu meio sorriso mostrava o quanto
ela estava nervosa. Eu ainda não tinha falado com os meus pais, mesmo depois de
me terem cantado os parabéns.
— Eu... — Vi-a
aproximar-se e parar perto de mim. — Parabéns Joseph. — Disse me olhando. Ela
sorria sincera e eu sorri de volta.
— Obrigado. — Agradeci
de verdade.
Antes que eu pudesse
sequer imaginar, senti os braços de minha mãe à minha volta. Arfei de surpresa
e sorri abraçando-a de volta. Eu sentia o seu coração batendo acelerado e
inalava o perfume tão conhecido. Naquele momento me senti um menino novamente.
Aquele menino que recebia um abraço daqueles todos os dias. Nunca era
diferente. Sempre o mesmo carinho. Naquele momento era como se nada tivesse
mudado.
— Eu te amo meu filho.
— Ouvi-a dizer contra meu peito. — Eu estou muito orgulhosa de você. Do homem
que você se tornou. — Confessou se afastando para me olhar. — Eu sei que eu e
seu pai erramos. Nós não devíamos te forçar a ser alguém que você não quer e
este tempo todo eu tenho visto o quanto você cresceu.
— Vocês queriam me
mandar para um colégio interno quando eu ainda estava no ensino médio. Papai
queria me mandar para um reformatório militar. — Lembrei sem conseguir me
conter. Eu sabia que estava errado também, mas nunca que eu chegaria a
extremos.
— Me perdoa. — Ouvi
uma voz grava dizer. Levantei o olhar de minha mãe e vi meu pai parado na porta
da cozinha. Eu não sabia o que poderia me chocar mais. Ele pedindo perdão?
Admitindo seus erros?
— É sério isso? —
Perguntei incrédulo. Um falso sorriso crescia em meus lábios enquanto via meu
pai se aproximar.
— Joseph. — Avisou
minha mãe repousando uma mão em meu peito.
— Sério que está
pedindo perdão? Pelo quê exatamente? Por ficar fora da minha vida enquanto eu
crescia apenas com a mamãe presente? Por querer mandar em mim quando eu já
tinha idade suficiente para fazer as minhas próprias escolhas? Ou por
finalmente ver que eu consigo perfeitamente viver sem vocês?
— Por tudo. —
Respondeu mantendo sua postura firme. Sim, eu sentia-me abalado, mas já fazia
muito tempo que eu conseguia fazer frente a Robert Jonas. — Por tentar
controlar sua vida, por querer te culpar pelos meus erros e principalmente, por
obrigar você a ser como eu. Mesmo querendo você não conseguiria. Não por não ter
capacidades para isso, mas porque você não seria feliz. — Explicou me deixando
sem palavras. Nunca passou pela minha mente que meu pai poderia se mostrar sentimental.
— Eu me sentia desesperado e sua mãe me desesperava ainda mais. Você estava
sendo o filho que eu não eduquei. Você estava vivendo como um garotinho mimado
e eu e sua mãe não queríamos isso. Eu não sabia o que fazer. — Admitiu.
— Aí eu me lembrei do
Sr. Lovato. — Falou minha mãe. — Sabia que você gostava dele e sabia que ao ter
alguém “pés-no-chão” perto de você poderia mudar as coisas para melhor. Você
precisava de realidade.
— Quando sua mãe veio
até mim eu achei a ideia ridícula, mas agora... Agora acho que foi a melhor
coisa que te aconteceu. — Disse com um meio sorriso. Suspirei e soltei a
rigidez dos meus ombros. Era como se o mundo fosse mais leve a cada palavra que
eles diziam.
— Eu conheci Demetria.
Por isso foi a melhor coisa que me aconteceu. — Confessei vendo minha mãe abrir
um sorriso lindo.
— Essa garota é
especial para você. Eu já notei isso. — Disse meu pai. — Eu gostaria que você
me perdoasse Joseph. Eu não quero mais viver neste conflito com o meu único
filho. Muito menos no seu aniversário.
Olhei a entrada da
cozinha e vi Demetria parada no batente da porta. Vi-a corar envergonhada e eu
entendi que ela não sabia se devia ficar ou sair de lá. Olhei-a com um sorriso
e percebi que ela tinha razão este tempo todo. Já estava na hora de eu me acertar
com os meus pais.
— Você sabe que vai
demorar até sermos uma típica família feliz, não sabe? — Perguntei abrindo os
braços para meu pai. Não demorou até sentir os braços dele à minha volta e as
costumes palmadinhas nas costas. Mantive o olhar em Demi e pisquei o olho para
ela que mordeu o lábio inferior e piscou de volta. Sedutora sem nem mesmo
notar.
— Acho que devemos
todos trabalhar nisso. Agora se importam de me envolver nesse abraço aí? —
Perguntou minha mãe me fazendo rir. Meu pai puxou-a e beijou-a fazendo-me sair do
abraço no mesmo instante. A minha careta mostrava que aquela já não era a minha
área, por isso corri até Demetria que me olhava com vontade de rir.
— Muito engraçado, né?
— Ironizei chegando perto dela. Meus pais ainda se amassavam lá.
— São poucas as vezes
que eu vejo você numa cena constrangedora. É meu dever aproveitar para te zoar
nessas raridades. — Sorri e abracei-a pela cintura. Ela ficou tensa no mesmo
instante e eu sabia o porquê. Lamentavelmente a minha vontade de ficar perto
dela era grande de mais para evitar agarrá-la em público. — Estou orgulhosa de
você Jonas. — Sussurrou com o rosto perto do meu. Era a segunda pessoa a
dizer-me aquilo e eu sentia-me orgulhoso de mim próprio. Mesmo não merecendo.
— Esta é a parte da
história em que eu ganho a garota?
— Qual garota Joseph
Jonas? — Perguntou com falsa ofensa.
— Você. — Respondi lhe
dando um selinho. — Esta é a parte da história em que eu ganho você.
— E eu? Ganhei você? —
Perguntou divertida. Olhei-a com clara confusão e vi-a baixar o olhar para o
chão. Ela estava envergonhada e mais que isso conseguia perceber que ela achava
ter dito algo que não devia. — Desculpe, não era o que eu... Esquece. — Disse
por fim. Eu ainda a olhava confuso. Como assim? Ela não sabia que eu era dela?
— Ei. — Chamou segurando meu rosto. — Esquece isso, por favor. — Pediu
novamente. Assenti ainda com dúvida. Com certeza não esqueceria, mas de
qualquer forma aquele não era o melhor lugar para conversar. — Eu tenho um
presente para você.
— Presente? Mas você
já me deu um presente. — Falei com um sorriso malicioso enquanto me lembrava da
noite anterior. Demetria sabia ser fogosa. Bastante fogosa.
— Esse é outro tipo de
presente. — Disse baixinho. — Vem. Está lá fora.
Porque o meu presente
estaria na parte da frente da casa? Seria grande? O que Demetria tinha
inventado desta vez? Nunca imaginaria que fosse aquilo. Quer dizer, podia ser
qualquer coisa, menos um carro. Não qualquer carro. Era o carro de Demi. Aquele
pedaço de lata que eu tanto amaldiçoava estava agora em minhas mãos.
Era loucura, eu sabia.
Mas era coisa de Demi e Brandon. Também só podia. Só ela era louca para ter uma
ideia destas e só ele era louco o suficiente para apoiar. Demetria tinha
abdicado do seu primeiro carro como minha prenda de aniversário. As palavras
dela tinham sido simples: faça o que você mais gosta com ele. E eu faria com
muito gosto. Iria reconstruí-lo e iria começar logo.
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