Eu
não podia esperar menos vindo de James Lovato. Já sentia a falta de receber uma
bomba como esta em minhas mãos. Não no sentido literal da palavra, mas sim no
impacto que isso vai causar na minha vida. Os almoços de família ao domingo não
deviam ser assim, tão atribulados. Deviam ser alegres, espontâneos ou apenas
normais.
Bem,
nesta casa não é possível ser-se normal.
—
Não pai! Isso não vai acontecer! — Exclamei enquanto me levantava de uma das
cadeiras de madeira. O que o meu pai me pedia era um absurdo.
— Porque não Demi? São apenas alguns
dias. — Insistiu.
— Quarenta dias! — Reclamei indignada.
Estava no meu direito. — Eu não vou cuidar de Joseph Jonas nem por vinte e
quatro horas. Ele é o garoto mais mimado que eu alguma vez conheci. E olhe que
eu conheci vários como ele. — Acrescentei para afirmar a minha ideia.
— Ele já não é um garoto, tem vinte e
três anos. — Explicou como se isso mudasse a realidade de alguma forma.
— Pelo que me falas-te ele abandonou a
faculdade de medicina, namora uma rapariga diferente todas as semanas, tem
gostos bastante extravagantes, faz festas na sua mansão que duram até ao fim
dos tempos e adora fazer uma cena épica em reuniões de família. Acredita pai, ele
é um garoto mimado! — Afirmei cruzando os braços. — Eu não sei quem é que
morreria primeiro, se seria ele por estar fora do seu habitat natural ou se
seria eu por não conseguir aturá-lo.
— Podes dizer-me por que te custa tanto
assim fazer esse favor ao teu pai? — Como ele é capaz de puxar para o lado
paternal?
— Oh não. Não, não, não! Não vás por
esse lado. Não vás para o lado paternal comigo. Eu não caio nessa, senhor
Lovato. Eu tenho uma vida! Tenho um trabalho, tenho amigos e tenho namorado! Já
pensas-te em como vou explicar ao Travis o fato de ter outro homem a viver em
minha casa e a invadir a minha rotina?
— Tenho a certeza que ele vai entender. Travis
é um rapaz compreensivo. — Ah claro! Logo o Travis! — Por favor, Demi. São só quarenta
dias. Apenas isso.
— Porquê quarenta dias afinal? —
Perguntei confusa. — Não podia ser um mês? Ou uma semana?
— Anabeth acha que esse é o tempo
necessário para fazê-lo ver as coisas como elas são. Ela só quer acordá-lo para
a vida.
Olhei o ser há minha frente e massageei
as têmporas. O que o meu pai estava pedindo era surreal. Como é que ele teve aquela
ideia? Cuidar de Joseph Jonas? Ser sua ama-seca? Ainda por cima na minha própria
casa? É ridículo!
— Por favor, Demi. — Pediu com um meio
sorriso.
O meu pai sabe ser convincente. Isso é
um facto. Antes que o meu cérebro pudesse processar tudo o que podia vir a
acontecer com Joseph na minha casa dei por mim a aceitar aquela loucura. Só me
resta pensar pelo lado positivo. São apenas quarenta dias.
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— Pai, eu já vou para casa. — Avisei
quando terminei de arrumar a cozinha. Homens nunca sabem lidar cem por cento bem
com um território feminino e desde que a minha mãe faleceu, bem, dá para
imaginar no que dá quando o homem se encontra sozinho.
— Não podes ir ainda. — Disse enquanto
me puxava para sentar ao lado dele no sofá.
— Porque não? —
Perguntei confusa.
— Porque estamos à espera de visitas e
preciso de ti aqui. — Respondeu simplesmente.
Antes que eu pudesse perguntar quem eram
as visitas, ouvi o tocar da campainha da casa. Preparei-me para levantar e
abrir a porta, mas o senhor Lovato tomou a frente e fê-lo por mim. Não demorou
muito e ouvi uma voz conhecida.
— Oh meu Deus! Estás tão crescida. Estás
cada vez mais linda. — Disse Anabeth Jonas sorridente. Levantei-me surpresa por vê-la
ali e retribuí o abraço afetuoso do qual já tinha saudades.
— Obrigada Anabeth. Também fico feliz
por vê-la. E o Robert? Como está? — Perguntei tentando avistá-lo. Não havia sinais
dele. Apenas Anabeth e o meu pai.
— Oh, ele está bem querida. Ele pede
desculpas por não ter conseguido vir. Sabem como é. Ele e o trabalho não se
largam.
— Claro, eu entendo. — Falei ao perceber
que ela estava constrangida com a situação.
— Na verdade eu vim aqui para te
agradecer pessoalmente. Por tudo isto. Sei que é uma grande responsabilidade. Não
imaginas como te fico agradecida. — Disse com um tom de voz amável. — Eu sei
que o Joseph pode ser um pouco difícil de lidar e é por isso que é tão
importante que ele abrande um pouco no estilo de vida que leva. Eu só quero a
felicidade do meu filho.
Observei a mulher há minha frente e logo
em seguida encarei o meu pai com uma expressão confusa. Como é que ela sabia
que eu tinha concordado com aquilo? É impossível ela saber disso tão rápido. A
não ser que...
— Pai? — Perguntei olhando-o
reprovadoramente.
— Algum problema? — Perguntou Anabeth. —
Se houver eu...
— Não. Não se preocupe. Está tudo bem. —
Disse apressada. Não queria que ela pensasse que eu tinha voltado atrás. — Não
precisa agradecer Anabeth. — Falei ao ver o sorriso dela.
A campainha tocou novamente e antes que
me pudesse adiantar o meu pai antecipou-se novamente. Mais uma vez não conseguia
imaginar quem era e só quando a voz se aproximou é que eu consegui reconhecer.
Era Joseph Jonas.
— Olá. — Cumprimentou ele assim que me viu.
Um sorriso malicioso formou-se nos
lábios carnudos e eu suspirei já cansada enquanto o olhava de volta, fazendo
uma careta de desgosto no caminho. Joseph vestia uma t-shirt um tamanho abaixo do
real e usava umas calças de ganga simples, mas que aparentavam custar os olhos
da cara. Para completar o visual excêntrico, os ténis e o casaco personalizados
saltavam à vista. Era com aquilo que eu ia lidar dali para a frente?
— Joseph. — Disse simplesmente. Melhor
não dizer nada do que dizer o que não devo.
— Finalmente chegas-te! Onde te meteste?
— Perguntou Anabeth irritada. Joseph olhou-a e sorriu.
— Desculpe, tinha uma ressaca para
curar. — Respondeu com graça.
— Joseph! — Repreendeu. Virou-se para mim
com uma expressão pesarosa e ajeitando o cabelo acrescentou. — Desculpa pela má
educação, ele...
— Mãe, tu fizeste a pergunta. Eu apenas
respondi. — Defendeu-se cruzando os braços sobre o peito largo. Sério que ele estava
disposto a fazer uma cena na casa do meu pai? Antes que os ânimos se exaltassem
mais ainda resolvi intervir.
— Não se preocupe Anabeth. É bom eu
começar a habituar-me. — Resmunguei ao olhar Joseph de lado. Ele sorria
satisfeito, mas ao mesmo tempo ficava confuso.
— Joseph! Vem. Vamos beber algo. —
Exclamou meu pai tentando distrair toda aquela tensão que se formou. Ele
rapidamente viu o olhar reprovador de Anabeth e acrescentou. — Algo sem álcool.
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— Tudo bem, parem de enrolar. Fala de
uma vez mãe. — Resmungou Joseph sentado no sofá individual. Ele claramente não
sabia o que estava ali a fazer. Isso vai ser memorável.
— Tudo bem. — Começou Anabeth respirando
fundo enquanto alisava sua saia clássica. — A ideia foi minha e do teu pai.
Acho que finalmente chegámos a um ponto em que é necessário tomar medidas. E é
por esse motivo que vais passar quarenta dias na casa de uma amiga. Eu e o teu
pai queremos que tenhas uma pausa na vida que levas. A verdade é que eu acho
que estás cada vez mais irresponsável e eu não te criei para agires dessa forma.
— Irresponsável? — Perguntou. Não era
uma pergunta direta. Era mais um pensamento próprio. — Não entendo o que queres
dizer com tudo isto.
— Eu e o teu pai decidimos que o estilo
de vida que levas neste momento, não é certo. Saudável, principalmente. Nós
queremos que fiques longe de todas essas festas e amigos falsos. Queremos que
passes um tempo de qualidade como qualquer outra pessoa. É um choque de
realidade. — Explicou seriamente. Podia ver a irritação na cara dele, mas
Anabeth continuava firme. — Pedimos um favor à Demi e ela concordou em nos
ajudar. Vais ficar com ela por quarenta dias e vais seguir todas as regras que
ela impôr. — Arregalei os olhos ao ouvir aquela parte e afundei mais no sofá.
Se eu estivesse no lugar dele teria um AVC.
— O quê? — Questionou Joseph depois de
ter entendido como as coisas funcionariam. — Vou ter uma ama-seca?
— Não é uma ama-seca filho. Tu... Estás
completamente irresponsável. E inconsequente. Não me parece que saibas o
significado da palavra limites e eu e o teu pai queremos parar isso. Este não é
o filho que nós educámos. Só queremos o teu melhor. — Explicou com tristeza na
voz. Será que Joseph não sabe dar valor ao que tem? Não tenho a certeza se
muitos pais fariam o que a Anabeth está disposta a fazer.
— E acham que o melhor para mim é
tirar-me tudo aquilo que eu gosto de fazer?
— É um começo. — Respondeu prontamente.
— Vão ser apenas alguns dias. Não vais morrer durante esse tempo. Vai-te fazer
bem.
— E vai ser com a Demi? — Perguntou ao
olhar-me. Sua expressão carregada de confusão e irritação.
— Sim. Ela vai ficar responsável por ti.
— Era a primeira vez que o meu pai abria a boca desde que aquela conversa tinha
começado e eu não gostava das palavras dele.
— Hum, se for com ela podemos ir agora mesmo.
— Respondeu Joseph malicioso novamente. Revirei os olhos perante tal
comportamento. Já posso começar uma lista das técnicas de tortura mais
eficazes?
— Joseph Jonas! — Exclamou Anabeth.
Soava mais como um aviso do que uma repreensão.
— Quando é que vai acontecer a mudança?
— Perguntei querendo acabar com aquele drama entre mãe e filho. Não gostava de
ver Anabeth entristecida por causa do idiota do filho.
— Amanhã. — Respondeu meu pai com um
sorriso satisfeito.
— Amanhã? — Repeti querendo ter certeza.
Ele estava louco? Como eu iria explicar ao Travis que tinha que dividir a casa
com outro homem em menos de quarenta e oito horas?
— Algum problema Demi? — Perguntou
Joseph com aquele sorriso endiabrado que me irritava profundamente.
— Nenhum. — Respondi com um sorriso
forçado.
Seja o que Deus quiser.
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