Já tinha passado uns dias desde o meu fim-de-semana de sonho e eu estava
nas nuvens. Joseph mostrava-se carinhoso e atencioso e não assustado como eu
pensei que ficaria. Depois de eu praticamente lhe ter dito que o amava,
esperava que ele fugisse como o diabo foge da cruz, mas ele apenas sorriu e me
beijou. Certo, ele não disse que estava igualmente apaixonado por mim, mas não
acho que me deva preocupar com essa atitude. Ou a falta dela. Ainda é cedo para
declarações demasiado profundas. Eu mesma não quero apressar algo que eu ainda
não interiorizei totalmente. Eu não queria envolvimento algum e de um momento
para o outro o mundo virou de cabeça para baixo. Era algo inesperado.
— Obrigado por vir Demi. — Disse o meu ex-namorado enquanto me sentava à
sua frente.
O mesmo se podia dizer de Travis. Eu não tinha esquecido a nossa conversa
pendente e claramente ele também não. O sorriso deslumbrante que ele abriu
quando me viu foi inesperado e os sintomas de nervosismo que ele apresentava
era algo que eu não saberia lidar no momento. Eu não sabia o que ele esperava
daquela conversa, mas sabia o que significava para mim.
— Não precisa agradecer. — Disse com um breve sorriso enquanto tirava o
casaco e o dobrava ao meu lado.
— Quer beber alguma coisa? — Perguntou apontando para o balcão onde quatro
atendentes corriam ofegantes com os inúmeros pedidos. Isso é o que dá trabalhar
numa Starbucks.
— Não, obrigada.
— Certo. — Disse desviando o olhar para a mesa. O silêncio permaneceu por
uns segundos, mas ele logo tentou puxar assunto. — Então. Você parece bem. —
Comentou enquanto me olhava. Sorri e assenti.
— Eu estou bem Travis. — Confirmei. Eu não queria dar espaço na imaginação
dele e fazê-lo pensar que eu estava na fossa pelo que ele fizera.
— Acho que te devo um pedido de desculpas. — Falou finalmente. Assenti
novamente, concordando. — Eu fui um verdadeiro idiota.
— Sim. Você foi, mas...
— Mas?
— Qualquer pessoa pode ser idiota. — Disse dando de ombros. — Eu já
superei isso. Já passei a fase de me culpar pelo que aconteceu, já passei pela
fase de chorar pelo que aconteceu e já passei a fase de rir pelo que aconteceu.
Aprendi alguma coisa afinal. — Disse bem disposta. Se fosse há uma semana eu
não estaria ali, mas agora não me fazia qualquer diferença.
— O quê?
— Nunca confie nas primas. — Disse rindo um pouco. Era irónico como eu
simplesmente não me importava agora.
— Desculpa. De verdade. Eu não sei por que fiz aquilo, eu...
— Você sabe sim o porquê de tê-lo feito, mas isso fica na sua consciência.
Eu não preciso de uma justificação.
— O que quer dizer? — Perguntou claramente confuso.
— Como eu disse, superei. O que tivemos terminou Travis. — Declarei
olhando em seus olhos. — Nada mais vai acontecer.
— Você está com ele não está? — Perguntou com um sorriso timido que eu
acharia charmoso na altura em que o conheci. — Você está com Joseph. — Afirmou
por fim. Mordi meu lábio inferior e dei de ombros.
— Uma relação tem de ser trabalhada. Eu e ele estamos trabalhando nisso
agora. Um passo de cada vez eu acho. — Falei na dúvida. Com Joseph não havia
apenas um passo. Com ele você tem que correr a maratona inteira de uma vez e
isso ás vezes me assusta. As coisas simplesmente aconteciam e eu já não queria
mais saber de evitá-las.
— Você está feliz? — Perguntou bebericando seu café. Percebi que ele tinha
aceitado o fato de que não aconteceria mais nada entre nós. Não consegui evitar
me sentir mais relaxada na presença dele.
— Muito. — Respondi com um sorriso enquanto escondia minhas mãos entre
meus joelhos.
— Seria inapropriado se eu dissesse que gostaria de continuar sendo seu
amigo? — Perguntou se encolhendo no assento.
— Você sabe separar as coisas? — Perguntei docemente. Não queria atacá-lo.
Travis apenas assentiu e eu sorri mais uma vez. — Então acho que pode.
— Joseph não me atacaria certo? — Perguntou divertido. Ri, mas fiquei
pensando naquilo.
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É. Ele pode atacar.
— COMO ASSIM VOCÊ SAÍU COM O TRAVIS? — Perguntou arregalando os olhos
enquanto ignorava o X-Box e me encarava.
— Eu não saí com ele. A gente apenas conversou um pouco. — Disse tirando
os sapatos que a esta altura já machucavam meus pés.
— Que diferença enorme! — Ironizou fazendo uma careta. Olhei-o com uma
sobrancelha erguida e coloquei as mãos na cintura. Ainda não entendia que cena era
aquela. — Aff! — Bufou voltando a jogar, desta vez com uma expressão
carrancuda. Tentei conter a risada e aproximei-me dele, sentando-me na ponta do
sofá onde ele estava sentado.
Joseph ficou ali por diversos minutos. Jogando, me ignorando e me tentando.
Não é toda a mulher que chega a casa e encontra um Deus grego sem camisa
vestido com uma calça de moletom cinza. Mordi o lábio. Sentia-me sortuda.
Suspirei e coloquei as pernas para cima do sofá. Estiquei uma delas e toquei a
coxa de Joseph que mantinha os olhos na TV. Sorri travessa e estiquei o pé,
percorrendo sua perna, subindo da forma mais erótica que eu alguma vez havia
imaginado. Joseph arfou, mas tentou ficar imparcial ao contacto.
— Vai me ignorar? — Perguntei baixo sem tirar a perna sobre ele. Recebi o
silêncio como resposta e suspirei, retirando o pé e me aproximando dele.
Olhei a tatuagem atrás de sua orelha e sorri. Já não usava mais a pelicula
protetora dos primeiros dias. Já estava cicatrizada e pronta a ser tocada.
Apoiei-me em seu ombro e fiquei satisfeita por ele não reclamar. Soprei
levemente em seu pescoço e vi-o arrepiar um pouco. Em seguida comecei a
contornar as linhas desenhadas em sua pele. Ele escolhera algo que eu nunca
imaginaria e só aí me dei conta que ele ainda não me tinha explicado o porquê
de tê-la escolhido.
— Por que uma Fénix? — Perguntei baixo já que falava em seu ouvido. Nesse
momento ele parou o jogo e olhou-me com dificuldade. Afastei-me um pouco,
apenas o suficiente para olhá-lo.
— Você conhece a história? — Perguntou segurando uma das minhas mãos.
Assenti.
— Mitologia grega. Ave do tamanho de uma águia, capaz de suportar grandes
cargas e com o poder de curar com as suas lágrimas. Morre e autoincendeia-se,
renascendo das próprias cinzas.
— Nota dez. — Brincou apertando a ponta de meu nariz. Fiz uma careta e
beijei seu rosto. — Eu apenas escolhi na hora, mas não significa que seja
banal. Ela tem o seu significado.
— Eu quero saber o significado dela para você. — Disse acariciando os
cabelos da sua nuca.
— Eu gosto da ideia de ser como uma Fénix. Gosto da ideia de ser capaz de
me sentir livre para ir aonde bem entender. Quero ser capaz de aguentar
emoções, sentimentos e experiências de vida. Todas as que nunca sequer
imaginei. — Falou com um sorriso. — Quero poder amar e quero poder erguer-me se
cair. Fénix é algo poderoso e especial. — Disse dando de ombros.
— E você quer ser especial à sua maneira. — Completei entendendo as
palavras dele. Ele assentiu e entrelaçou os dedos com os meus. Beijei sua Fénix
e beijei seu pescoço, voltando a olhá-lo. — Foi só uma conversa. — Repeti
acariciando seu rosto. — Não tem mais volta. — Acrescentei vendo que ele me
olhava sem demonstrar nada. Respirei fundo quando ele assentiu e me beijou com
carinho.
— Minha. — Sussurrou em meus lábios. Sorri e dei-lhe um selinho.
— Você estava com ciumes. — Afirmei zoando dele que fez uma careta. Senti
seu braço me circundar pela cintura e me puxar para ele.
— É, eu estava. Algum problema? — Perguntou tentando mostrar seriedade. Ri
e sentei-me sobre ele, com uma perna de cada lado de sua cintura.
— Nenhum Sr. Jonas. Agora, — Comecei olhando em seus olhos. — o que acha
de me dar um beijo decente? — Sussurrei em seus lábios.
— Hum está cansada senhorita Lovato? — Perguntou colocando as mãos em
minhas coxas ao mesmo tempo em que distribuia beijos na curva do pescoço. O vestido
já tinha subido.
— Muito. — Concordei lembrando o dia puxado que tinha tido. Sarah andava
pela empresa pegando fogo e exigia o mesmo de cada empregado.
— Que tal uma massagem? — Perguntou apertando minha pele em suas mãos.
Suspirei e gemi em concordância. É. Uma massagem seria bem-vinda nesse momento.
— Vem. — Avisou ao mesmo tempo em que se levantava do sofá. Soltei um grito
pelo movimento repentino e colei-me a ele, segurando-me em seu pescoço para não
cair.
— Não tem graça. — Resmunguei enquanto o desgraçado ria.
— Tem sim. — Respondeu nos levando em direção ao quarto.
Sim, ele já conhecia os cantos da casa. Num segundo estavamos na sala e no
outro estava sendo deitada na minha cama de casal. Joseph beijava meus lábios e
eu suspirava enquanto o puxava mais para mim. A coisa estava ficando quente e
então eu lembrei.
— PÁRA! — Falei separando o beijo. Não, não foi só o falar. Eu pulei
literalmente debaixo dele o que o fez assustar-se também e cair no chão logo ao
lado da cama. Ouvi um baque e um gemido de dor. Estremeci. Ai as costas dele. —
Joseph! — Exclamei espreitando pela beirada da cama. Ele estava deitado no chão
com ambas as mãos nos olhos e as pernas dobradas. O que eu fiz!
— O que foi isso? — Perguntou sem se levantar.
— É que eu lembrei uma coisa muito importante. Desculpa. — Pedi realmente
arrependida. Estendi uma mão para descobrir seus olhos, mas não movi meu corpo
para fora da cama.
— E eu continuo achando que você quer me matar secretamente. — Brincou
fazendo uma careta.
— Nada disso. — Falei rindo.
— O que você lembrou? — Perguntou me olhando sem se levantar. Qual é! Não
é porque eu quebrei o clima que não pode ter de novo! Eu queria que ele viesse
para a cama.
— Seu aniversário. — Falei. O idiota levantou uma sobrancelha e eu corrigi
com um sorriso amarelo. — Não é que eu tenha esquecido. Eu só lembrei que
queria falar com você sobre isso.
— Certo. O que é? — Perguntou me puxando pela mão que eu tinha estendida.
Desci da cama e deitei em cima dele. Eu sei que era o meu chão e que estava
limpo, mas Joseph era muito mais confortável.
— Seu presente. O que vai querer? O seu aniversário é em três dias.
— Que vergonha Demetria Lovato! — Exclamou indignado.
— O quê? — Perguntei confusa.
— Como assim ainda não comprou o meu presente? — Reclamou. Arregalei os
olhos e em seguida neguei frenéticamente.
— Não é isso. Quer dizer, é. É que eu... — Falei atrapalhada ao mesmo
tempo em que ele começava a rir. Percebi a intenção dele e bati em seu abdómen.
— Não ri da minha cara! — Ordenei rabugenta. Ele estava se divertindo às minhas
custas!
— Tudo bem. Desculpa. Mas é que a sua cara foi muito engraçada. — Disse
brincando com os meus cabelos soltos. Fiquei em silêncio olhando para ele.
Joseph estava lindo enquanto ria. E eu estava toda boba. — Você está linda. —
Falou do nada. Senti meu rosto esquentar e não consegui evitar um sorriso. —
Não preciso de nada bebé. Tenho tudo o que preciso. — Falou por fim. Neguei mostrando
que não concordava.
— Eu já tenho uma ideia para o que posso te dar, mas quero que você diga.
Você sabe, para o caso de eu não estar tendo a ideia certa.
— O quer que seja vai ser perfeito. — Falou. PORRA! AINDA DIZEM QUE
MULHERES SÃO COMPLICADAS! Olhei para ele com um olhar assassino e ele engoliu
em seco.
— Você espera de mais de mim. — Disse desistindo do olhar mortal e
deitando a cabeça em seu peito. Ficámos em silêncio por alguns segundos e eu
relaxei ao sentir o sobe e desce de seu peito.
— Quero você. — Sussurrou beijando minha testa em seguida. Levantei a
cabeça para olhá-lo e vi seus olhos completamente serenos. Ele sorria e me
conquistava a cada segundo. Merda de gato gostoso e sedutor!
— Eu? — Perguntei querendo ter a certeza.
— Você. — Confirmou colocando uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.
Lembrei o pedido dele no fim-de-semana e percebi que ainda não o tinha
realizado. Era seu desejo fazer amor comigo e tudo o que tínhamos feito era
puro sexo. Eu ainda não me tinha entregado a ele, como se costuma dizer, de
corpo e alma. Ele já tem um pedaço de mim. Ele sabe disso. Mas eu ainda não era
totalmente dele.
Não respondi ao pedido, mas sorri beijando-o e voltando a deitar-me sobre
ele. Eu estava com um problema. Joseph queria que eu me entregasse a ele e eu
tinha dúvidas se estava pronta para isso até ao próximo fim-de-semana. Já para
não mencionar que a pergunta de Travis ficou saltitando na minha mente. Eu
estava com Joseph? O que era isto afinal? Continuava sendo sexo sem
sentimentos? Com certeza não! Eu tinha respondido que uma relação precisava ser
trabalhada e de certeza que era o que estava fazendo, mas que tipo de relação é
que Joseph queria?
Tentei não pensar mais nisso, mas o seu aniversário não me saía da cabeça.
Não acho que uma noite seja suficiente. Eu deveria dar algo mais. Algo material
talvez? Lembrei-me de Brandon e sorri. Ele parecia conhecer Joseph melhor que
ninguém. Ele poderia me ajudar e seria Valentina que me levaria até ele. Claro,
depois de eu lhe contar todos os detalhes sórdidos do meu fim-de-semana de
sonho.
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