07/07/2014

Como se Apaixonar em 40 Dias - 23º Capítulo


Joseph’s POV

— O que você tem hoje? — Perguntei a Brandon que estava calado á mais de cinco minutos.
— Eu e Valentina brigamos. — Disse frio. Escorreguei para fora do carro e olhei-o ainda deitado no carrinho de rolamentos.
— Como assim brigaram? — Perguntei vendo-o me encarar feio.
— Brigamos Joseph. Não sabe o que é brigar não? — Questionou na defensiva. Algo estava muito errado.
— Sim Brandon, eu sei o que é brigar. Mas não quando o assunto é você e Valentina. Cadê todo aquele clima que vocês usavam para contagiar a mim e a Demi?
— Esfriou. — Respondeu simplesmente. Levantei-me e cruzei os braços sobre o peito enquanto o olhava esperando uma explicação. — Eu... Nós... Há dúvidas Joseph.
— Que tipo de dúvida? — Perguntei.
— Dúvida no tipo de relação. Nós estamos juntos. Quer dizer, não temos um compromisso como um namoro, mas também não ficamos com outras pessoas. É como se pertencêssemos um ao outro, mas nenhum de nós quisesse passar a outra fase. Valentina é, bem, você sabe como Valentina é.
— Sem compromisso. — Completei entendendo qual era o problema. — Foi por isso que brigaram?
— Eu passei a noite na casa dela e esta manhã as coisas simplesmente se descontrolaram. Nem eu entendo o que aconteceu.
— É você quem não quer assumir? — Perguntei. Eu ainda não tinha entendido muito bem quem queria o quê.
— É ela. — Respondeu. — Eu sei que faz pouco tempo e sei que é loucura tornar isto sério quando nós apenas... Eu... Eu sei que pode ser cedo, mas não consigo me ver arrependido por escolher ficar com ela de verdade. Você sabe. Numa relação. Eu quero isso, mas ela...
— Já tentou colocar-se no lugar dela? — Perguntei recebendo um olhar de incredulidade. — Não estou dizendo que ela está certa e você errado. Apenas estou pedindo para se colocar no lugar dela. Já pensou que ela pode estar assustada com o quão rápido as coisas estão mudando? Ela é independente e vivia a vida de uma forma divertida e relaxada. Ela não tinha que dar justificações a ninguém e agora as coisas são diferentes. Ela pode estar com medo dessa mudança toda. — Expliquei dando de ombros.
— Valentina não sente medo Joseph. — Disse com uma breve risada.
— Valentina é uma mulher. —Retruquei simplesmente. Brandon ficou calado por uns segundos e quando me olhou novamente percebi que ele tinha entendido.
— Certo. Vai que ela tem medo, porque ela não fala comigo? Porque não me diz como se sente ou o que quer realmente?
— Porque ela é mulher. — Repeti. — Você tem que arrancar as palavras delas às vezes. Mulheres querem que o homem corra atrás. É assim desde sempre Brandon. É uma das leis do universo feminino.
— Eu passei a noite na casa dela Joseph, dormi agarradinho com ela, fiz o café da manhã para ela e acordei-a com tantos beijos que meus lábios ficaram dormentes. Isso não é correr atrás? Eu estou de quatro por ela!
— E ela sabe disso? — Perguntei arqueando uma sobrancelha ao ver a careta em seu rosto. — Você até pode virar gay com tanto gesto romântico que elas podem nem perceber. Às vezes você tem que dizer as coisas na cara delas. Apanhá-las de surpresa e não dar tempo de elas contestarem. Tente conversar com ela de verdade. Não dê brecha para discussão já que não é isso que você procura. Uma cama não pode resolver tudo Brandon. — Falei por fim. Peguei um pano úmido que estava no chão e limpei as mãos.
— Você também faz isso com Demi? — Perguntou me fazendo olhá-lo. Fiz uma careta e suspirei.
— Eu não preciso fazer isso com ela. A gente não briga. — Falei pensando no assunto. Havia brigas bobas como sempre houve, mas não brigas de verdade. Só houve uma e já foi muito bem resolvida.
— E não acha isso errado? — Questionou me fazendo olhá-lo confuso. — Eu vejo que vocês estão sempre bem, mas a verdade é que não estão. Na verdade, acho que estão longe de estar bem.
— Mas que merda está falando? — Perguntei completamente alheio ao que ele falava. — Demi e eu estamos ótimos.
— Você já disse que a amava? — É, desta vez fui apanhado de surpresa. — Meu Deus. Você sequer a ama Joseph?
— Eu...
— Você está muito pior que eu. — Falou rindo em seguida. Atirei o pano contra a parede e esfreguei meus cabelos querendo arrancá-los. — Eu e Valentina ainda temos a certeza do que sentimos, mas você...
— Brandon! — Exclamei nervoso. — Não está ajudando cara.
— Como você não viu? Demi disse que te amava e você não deu indícios do que sentia por ela até hoje?
— Ela não disse que me amava. Ela disse que estava começando a se apaixonar e...
— Agora sou eu que digo: ela é uma mulher, Joseph. Essa é a forma dela dizer que te ama com o puro medo de ser rejeitada. E você acabou rejeitando por assim dizer.
— Eu não rejeitei. Depois disso a noite foi...
— Numa cama? Sexo? Foi assim que você respondeu às palavras dela? Cara, você deu mancada feia dessa vez.
— Ela não disse nada. — Falei confuso.
— Ela não devia precisar! — Disse agora irritado. — Cara, você devia saber. Devia ter notado. As coisas não estão bem entre vocês de longe e não devia ser eu a te dizer isso. Não notou como ela estava tensa no seu aniversário? Estava lá o pai dela e os seus pais! Você não pensou que poderiam fazer perguntas?
— Eu não... Merda! Ela vem agindo como se nada estivesse errado. Ela não quer me assustar com as dúvidas dela. — Conclui me sentando no chão.
— Ela é boa de mais para você.
— Sim, ela é. — Concordei. — E eu sou um idiota.
— Sim, você é. — Disse dando risada. Olhei-o com uma carranca e ele parou.
— O que eu faço?
— Usa o conselho que você me deu. Fala com ela. Diz como se sente e define a relação. Assuma o controlo.
Fechei os olhos e cobri meu rosto com as duas mãos. Eu tinha feito merda. Brandon ainda não sabia que eu tinha feito o teste de admissão para a faculdade de auto-mecânica dois dias atrás. Soquei o chão com raiva e respirei fundo tentando me acalmar.
— Eu não posso. — Murmurei.
— O quê? Como assim não pode? É a Demetria cara. Não é qualquer outra garota!
— É por isso que eu não posso.
— Cara, o que você fez? — Perguntou se sentando à minha frente. — Me diz que não tem nada haver com aquilo que você vem escondendo! Qual é o seu plano afinal Joseph? Que merda você fez?
— Antes de os meus pais me dizerem que eu iria passar uma temporada com a Demi, o Sr. Lovato veio até mim. Ele sempre soube do meu sonho de trabalhar com carros e sempre soube da minha intenção de ir para a faculdade de mecânica assim que tivesse uma chance.
— Espera, você ainda pensa em ir para aquela faculdade que você tanto falava?
— Fiz o teste de admissão há dois dias. — Respondi sem olhá-lo. Eu conhecia o amigo que tinha e faltava muito pouco para levar um soco na cara.
— E a Demi, Joseph? O que vai ser dela quando descobrir que você a enganou este tempo todo? — Perguntou nervoso.
— Eu não a enganei! — Falei exaltado. — Eu... Eu não esperava que as coisas ficassem desse jeito. Nunca imaginei que pudesse me apaixonar por ela e muito menos que ela pudesse me amar também. Faz muito tempo que o plano era vir para aqui e ir direto para a faculdade quando eu saísse. Eu sabia que só ia ficar aqui por uns dias e sabia que era impossível as coisas mudarem. Era tudo perfeito Brandon. Eu me fazia de garoto mimado para que a Demi não me suportasse e aguentaria até o meu prazo terminar. Assim que saísse desta casa pegaria o avião e sumiria para fazer o que eu sempre quis. Não teria a rejeição dos meus pais e sabia que eles não iriam se intrometer pelo simples fato de eu não lhes dar uma chance!
— É, mas o seu perfeito plano teve uma grande falha quando você decidiu se envolver com a Demi!
— Eu não queria que as coisas chegassem a este ponto.
— Mas chegaram e você é o único que terá que lidar com as consequências das suas escolhas. Se você fez o teste à míseros dois dias, acredito que já tenha feito a sua escolha. — Criticou.
— Eu não posso Brandon. Eu não posso ficar com a Demi e com a faculdade. Não posso ter os dois e não posso escolher a Demi.
— Porque não?
— Porque é o meu sonho! Eu sempre quis entrar naquela faculdade e sempre quis seguir com a minha vida nessa área.
— Mas agora você tem a Demi. — Insistiu.
— Eu sei. É o que me vai custar mais quando eu sair da cidade. Eu não queria machucá-la. Não queria ser um segundo Travis para ela, mas... Eu não a mereço cara. Demetria merece alguém melhor e essa pessoa não sou eu. Eu não poderia abdicar do meu futuro para ficar com ela.
— Ela não merece isso? Não vale isso pra você?
— Ela não iria merecer que eu a culpasse um dia mais tarde. Além disso, eu nem sei se iria dar certo. Nós...
— Vocês são perfeitos juntos. O seu problema não é querer ir para a faculdade porque acredite, Demetria seria a primeira pessoa a apoiar isso. O seu problema é que você está sendo egoísta ao pensar só em você. Não está sendo justo e está sim a enganando. Você está mentindo para ela e Demetria não merece o que está fazendo.
— Eu sei. Mas você não sabe como é querer contar a verdade todos os dias e não conseguir fazê-lo. Quando ela chega perto de mim com aquele sorriso, sinto aquele arrepio na espinha. Aquele que me faz não contar para não estragar a felicidade dela.
— Pois eu acho que tudo isso é covardia. — Disse por fim. Olhei-o firmemente e assenti, concordando com as palavras dele.
Eu sabia que iria perder Demetria. Bem lá no fundo eu sempre soube. Só não esperava perder meu melhor amigo também. Eu não sabia o que fazer. Eu queria as duas coisas. Queria ir para a faculdade e queria ficar com Demetria. Queria poder ficar com ela sem precisar desistir do que eu sempre quis. Queria que ela me perdoasse pelo que eu iria fazer e queria que ela ficasse comigo mesmo depois de tudo. Queria que ela continuasse me amando como eu a amo faz tempo. Oh sim. Eu amo Demetria Lovato.
Já faz um tempo que eu percebi isso e já faz um tempo que eu luto todos os dias para não devolver as palavras dela. Eu queria dizer que a amava e que ela significava o mundo para mim, mas eu não podia. Não era justo alimentar algo que eu sabia que iria terminar. Eu preferia que ela me visse como um monstro que a enganou e que nunca a amou do que me ver como um homem covarde que a ama, mas que não a valoriza o suficiente para abdicar dos seus sonhos. Eu preferia que ela me odiasse e me quisesse esquecer de uma vez do que ficasse sofrendo.
Senti Brandon se sentar ao meu lado e senti que ele me abraçava pelos ombros. Éramos melhores amigos desde crianças e vivemos de tudo um pouco juntos. Éramos irmãos e eu sabia que podia deitar qualquer emoção para fora. Por isso chorei. Transformei-me num autentico bebé e deitei para fora casa pedaço de angústia que eu já sentia antecipadamente. Eu sabia o que iria acontecer. Demetria iria odiar-me e as coisas seriam mais fáceis. Ela iria esquecer-me e eu iria seguir em frente. Era assim que devia ser.
— Cara, porque você fez isso a você mesmo? — Perguntou Brandon num suspiro.

Demetria’s POV

Eu, como qualquer outro trabalhador da empresa, sabia que Sarah andava louca nos últimos tempos. Além do trabalho que parecia duplicar a cada dia, ela andava muito afobada. Sempre corria pelo escritório, recebia inúmeras ligações e as reuniões com os clientes e fornecedores eram diárias. Não havia um dia em que eu não era chamada para alguma dessas reuniões. Hoje não seria diferente. Diferente mesmo era o tipo de reunião.
— Vocês devem estar se perguntando o porquê de terem sido convocados. — Começou girando sua caneta dourada nas mãos. — A empresa vai abrir uma nova filial e esse é o motivo de tanto alarido nas últimas duas semanas.
— Mas isso é ótimo. — Falou Matt.
— Sim é. — Concordou Sarah. — E vocês estão aqui porque estão propostos a serem transferidos para lá. — Revelou me deixando assustada. — Antes que pensem que o mundo vai acabar, devo referir que a empresa cobre todas as despesas de viagem, habitação pelos primeiros seis meses e alimentação. Depois disso estarão por vossa conta, mas terão tempo para isso. No entanto, não são obrigados a ir. Eu posso mandar outra pessoa no vosso lugar. Mas se estão aqui garanto-vos que é porque são os melhores.
— Temos tempo para pensar na decisão? — Perguntei ouvindo exclamações de concordância.
— Têm duas semanas para decidir. Caso não estejam interessados em serem promovidos, terei que escolher outra pessoa. Reunião encerrada. — Declarou saindo da sala de reuniões.
Aquela tinha sido a reunião mais curta e direta no qual eu já tinha participado e eu só me perguntava como uma reunião dessas podia afetar tanto o meu cérebro. Minha cabeça girava e eu agradeci mentalmente por me encontrar sozinha na sala. Pensei em Joseph e no que ele faria quando eu contasse sobre aquela promoção. Ele ficaria feliz por mim? Ficaria triste por não me querer longe? Ele sequer se importaria neste momento? Peguei o celular no bolso e disquei o número de Valentina.
— Alô. — Falou com um tom de voz fraco. Algo estava muito errado, mas eu estava em pânico para perguntar.
— Sarah abriu uma nova filial e quer me transferir para outro estado!

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