O sol brilhava no céu e os pássaros cantavam numa harmonia invejável para
qualquer cantor de ópera. Estava o dia perfeito para sair e namorar. E também
era o dia perfeito para terminar um namoro. Sim, eu estava depressiva. Sim, eu
já tinha choramingado. E sim, eu ainda estava na cama em pleno meio dia. O
melhor é nem sair daqui. Posso viver aqui eternamente. Longe de chefes taradas
e de namorados complicados. Ficaria longe da manha de meu pai e...
— LEVANTA DESSA CAMA AGORA MESMO! — Gritou um animal invadindo o meu
quarto. Sério?
— Você tem que perder essa mania idiota de invadir o meu território
particular. — Declarei com uma voz arrastada e abafada. — Já imaginou se eu
estivesse nua? Você já estaria morto.
— Na verdade sim, eu já imaginei. — Disse como se fosse a coisa mais
natural do mundo. Levantei a cabeça do travesseiro e soprei uma mecha do meu
cabelo selvagem que caiu sobre meu rosto. Tudo isso a tempo de ver Joseph
colocando as mãos nos quadris e estufando o peito coberto pela regata. Aniquilei-o
mentalmente e atirei o que apanhei primeiro, fazendo pontaria à cabeça. — VOCÊ
ESTÁ LOUCA? QUER ME MATAR?
Sorri satisfeita e olhei o chão onde a minha bola de cristal estava caída.
Certo, era uma simples bola de vidro com neve falsa.
— Oh. — Murmurei triste. Puxei os cobertores até ao pescoço e fiz um bico
com os lábios.
— O que foi? — Perguntou se sentando na beirada da cama.
— Até em tentativas de homicídio eu estou falhando. — Resmunguei me tapando
totalmente. Ouvi Joseph suspirar e o silêncio permaneceu. Perguntei-me o porquê
de ele ainda estar ali e pus a cabeça pra fora.
— Olha, — Começou passando a mão nos cabelos escuros. — não é que eu esteja
preocupado, mas você não devia passar o resto do dia na cama. — Olhei-o
tentando entender e suspirei pegando no aparelho telefónico momentaneamente
inútil.
— Ele não fala comigo Joe. — Disse triste. Perdi conta de quantas vezes
tentei falar com Travis.
— Joe? — Perguntou dando um meio sorriso.
— Saiu. — Expliquei dando de ombros. Ele assentiu e olhou o chão.
— Ele não quer ouvir a sua explicação pelo que aconteceu ontem?
— Não. E isso me irrita. — Disse me exaltando. — É sempre assim. Sempre que
algo ruim acontece ele prefere me ignorar em vez de resolver.
— E isso te machuca. — Afirmou. Parecia mais uma pergunta e eu voltei a dar
de ombros.
— É só que, às vezes ele complica de mais. Eu sei que estou errada. Sei que
devia ter falado logo. Mas porque ele também não facilita? Eu não gosto de
estar desse jeito com ele.
— Hum. Você tem duas hipóteses. — Disse me olhando de uma forma estranha.
— O que está esperando para me dizer? — Perguntei fazendo-o rir.
— Você pode levantar dessa cama e ir até ele, tentar resolver tudo isso. Ou
pode aceitar de uma vez que ele é um idiota e não te merece.
Olhei-o com curiosidade e dei um meio sorriso.
— O que você entende de relacionamentos? — Perguntei com súbito interesse.
— Eu? Nada. — Negou dando uma curta risada.
— Mentira. — Insisti. Ele não disse nada e eu sentei na cama. — Você sabe
que no dia dos namorados está liberado, né? — Questionei.
— Como assim? — Perguntou confuso.
— Joseph, os seus pais querem que você cresça, que amadureça. Não que acabe
com seus relacionamentos. Pode sair com a sua namorada sem problemas. Esqueceu
que amanhã é dia dos namorados?
— Mas eu não tenho namorada. — Disse ainda confuso. Ri e levantei da cama,
caminhando até o guarda roupa.
— Claro que você tem.
— Demetria, eu fico com garotas. Não as namoro. Na verdade, eu não me
lembro de alguma vez ter comemorado esse dia.
— Por favor, diga que está brincando. — Pedi olhando-o boquiaberta. Que ser
era aquele?
— Não estou. Só pessoas apaixonadas comemoram o dia dos namorados. Eu não
sou uma delas. — Explicou. Fiquei pensando no que ele disse e peguei uma calça
jeans clara e uma blusa cor-de-rosa.
— Talvez você tenha razão. — Falei observando as peças. Se Joseph não
celebrava o dia dos namorados com sua namorada, como quem ele iria ficar?
Provavelmente vou conseguir fazer as pazes com Travis e vamos sair para um
encontro qualquer. Joseph ficaria sozinho? Voltei a olhá-lo e vi-o de pé com um
sorriso tímido. Coloquei a roupa à frente do corpo e vi seu sorriso se alargar.
— Gosta? — Perguntei na dúvida.
— Gosto. — Concordou. — Vejo que decidiu tentar a primeira hipótese.
— Eu sei que você pode não entender, mas é um namoro de dois anos. Não
posso deitar tudo a perder. Eu gosto dele e... Não quero que fiquemos brigados
por uma bobeira. — Expliquei escolhendo um par de botins da prateleira.
— Você faz parecer que é mais uma obrigação. Como se fosse a única errada
de tudo isso. — Disse caminhando devagar até à porta. Franzi a testa enquanto
olhava o espelho e vi sua expressão indecifrável no reflexo.
— Não é uma obrigação. É... — Fiquei surpresa e confusa pela minha falta de
palavras e tentei logo mudar de assunto. Desde quando eu tinha confiança para
falar da minha vida privada com Joseph? Desde quando uma conversa nossa era tão
normal? — Eu quero isso Joseph. Você não entende porque nunca teve. — Disse com
frieza. Vi-o sorrir e pegar o celular do bolso da calça moletom.
— Tem razão. Mas sinceramente, sua relação parece mais artificial do que
você imagina. — E depois disso saiu do quarto.
Eu não sei o que ele quis dizer com aquilo, mas não queria que as palavras
dele me distraíssem. Eu tinha que acertar as coisas com Travis e não ia perder
mais tempo com coisas extras. Me vesti e me apressei para sair de casa.
Eu preciso salvar o meu relacionamento.
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Saí do carro sentindo as mãos suarem e rodopiei as chaves do apartamento de
Travis num gesto que denunciava o meu nervosismo. Não era a primeira vez que eu
entrava o apartamento dele daquela forma. Havia liberdade entre a gente. Já
dormi ali noites sem conta e já houve outras brigas que acabaram na cama king
size dele. Algumas dessas mesmas noites. Não é novidade para ele que eu apareça
ali depois de uma ou quase briga. Nem sei se estamos brigados ou ele
simplesmente se lembrou de me ignorar. Provavelmente estou fazendo uma cena
perfeita de filme e ele vai estar dormindo em sua cama, esperando eu chegar
para explicar tudo.
Abri a porta devagar e logo o recém-nascido Zeus apareceu me cheirando.
Sorri para o cachorro e inclinei-me apenas para lhe fazer um breve carinho.
Adentrei a sala e vi a mesa de centro com vários jogos de X-Box espalhados. Até
no chão havia alguns, mas eu apenas ri da bagunça e segui em direção ao quarto.
O apartamento estava silencioso e isso só comprovava a minha teoria de que Travis
estava dormindo. Senti um frenesim percorrendo meu corpo quando toquei na maçaneta
da porta e logo a abri. Aquilo não era algo que eu esperava. Definitivamente.
— Travis? — Sussurrei com os olhos arregalados. Megan parou de cavalgar meu
ex-namorado e rapidamente se tapou enquanto o idiota me olhava assustado. É,
parece que não falei tão baixo assim.
— Demi! — Disse sem reação.
— Megan. — Falei olhando a vadia.
— Demi. — Respondeu com uma cara surpresa. Fechei os olhos por um segundo e
ri. Ri escandalosamente enquanto Travis vestia uma boxer e depois ri mais
ainda.
— Eu sei que o meu nome é lindo, mas eu já estava de saída. — Falei saindo
do quarto ainda gargalhando. Eu não sei o que me deu. Era para eu estar
esfaqueando o desgraçado, mas a minha vontade era de rir.
— Demi, espera! — Gritou me seguindo. Parei no centro da sala de estar e
virei-me para encará-lo com um sorriso.
— Você é nojento. Ela é sua prima. — Disse cruzando os braços sobre o
peito.
— Na verdade não é. Olha, não é nada do que você está pensando...
— Quem é ela? — Interrompi séria. Agora a realidade me dava um tapa na
cara. Eu tinha dois novos acessórios em minha testa.
— Não é minha prima. — Revelou. — A verdade é que eu menti para você. Eu
conheci ela numa festa há mais ou menos um ano. — Admitiu. O safado já sabia
que tinha perdido e agora esfregava tudo na minha cara. Eu não era pessoa de
fazer barraco, mas desta vez tinha a sensação de que não ia evitar.
— Um ano? — Perguntei vendo-o assentir. — Numa festa?
— Festa do Jonas. — Disse com um sorriso zombeteiro. Eu sabia! Havia merda
entre o Travis e Joseph e agora eu entendia o porquê de eles se conhecerem.
Joseph sabia disto e deixou que eu viesse aqui de propósito. Se calhar até
estava ajudando!
— Sabe, você sabe que eu não sou de fazer barraco não é? — Perguntei
dando-lhe as costas e olhando a sala à minha volta.
— Sei. — Respondeu simplesmente.
— Bem, eu não sei se você sabe, mas os chifres que você colocou em minha
cabeça estão começando a pesar. — Disse passando ao lado da mesa de centro.
— O que isso quer dizer?
— Quer dizer que também vai pesar na sua carteira!
— O QUÊ?
Isso foi o suficiente para eu dar a louca. Saltei pra cima da mesa de
centro e comecei a forçar o salto agulha nos CD’s, DVD’s, celular e jogos que
estavam por ali. Na verdade eu saltei literalmente em cima de tudo o que via
pela frente ao mesmo tempo em que ria da cara assustada de Travis. Peguei no
Xbox que estava em cima do móvel de TV e atirei no chão com toda a raiva
possível. O brinquedo desmembrou como um Transformer e assobiei ao ver Megan
aparecer do corredor com a camisa de Travis.
— Você sempre teve um mau gosto para filmes. — Disse reunindo minhas forças.
Peguei na Tv 3D e atirei no chão exatamente como tinha feito com a Xbox.
Agradeci mentalmente por ela ter ficado com o ecrã virado para o ar e saltei em
cima dela de pés juntos. Não, eu não estava treinando para ser futebolista e
fazer faltas com pitons, mas aquilo era divertido e cada coisa que eu partia
fazia minha cabeça ficar mais leve.
— Ela está louca. — Ouvi Megan dizer. Travis quase correu até mim e tentou fazer-me
parar.
— Vocês nunca me viram louca. Isto é o meu estado normal. — Gargalhei.
Parei ao ouvir Zeus ladrar enquanto Travis tentava me parar e rapidamente
peguei o pequeno do chão. — Que foi bebe? Te assustei? — Perguntei fazendo
carinho no pelo dele.
— Demetria, você vai sair do meu apartamento agora mesmo. — Disse Travis puxando
o cabelo oxigenado dele.
— Não se preocupe. Já terminei o serviço por aqui. — Falei com desdém.
Virei as costas em
direção à porta e ouvi Zeus ladrar em meu colo. Parei e larguei-o no chão
enquanto ele corria de volta para Travis.
Vi o idiota sorrir ao se abaixar para receber o cachorro, mas eu apenas
arregalei os olhos ao ver Zeus passar por entre os joelhos dele e morder o que
ele estava usando há pouco tempo com Megan. Soltei uma gargalhada enquanto o
cachorro subia no sofá e fazia algo molhado e indesejado e logo assobiei para
ele que veio caminhando até mim com o focinho erguido. Imitei-o e acenei para
eles já de costas. Fechei a porta e sai daquele lugar para nunca mais voltar.
Quando imaginei a Demi tacando a TV no chão, quase morri de tanto rir. Meus Deus, esse capítulo foi mt engraçado, cara.
ResponderEliminarBy: Clara Lovato
Obrigada :)
EliminarA Demi tem umas fases engraçadas.