Suspirei e abri a
porta do carro enquanto ouvia Zeus ladrar atrás de mim. Mandei-o ficar quieto e
segui em direção à loja de conveniência da cidade. Eu sabia que era perigoso
vir aqui a uma hora destas, mas não me restava outra hipótese. Eu tinha acabado
de adotar um cachorro e ele tinha que se alimentar de alguma coisa. Peguei o
que precisava e algumas coisas extras como Doritos, guloseimas e derivados.
Tudo bem, não era apenas por causa de Zeus que eu ia até li em plena uma da
manhã. Eu estava na fossa e precisava me cuidar. Deixei tudo em cima do caixa e
meio que me encolhi ao receber uma encarada do homem bronco que passava as coisas
com uma lentidão arrastada.
— Você é corajosa. —
Disse com um sorriso malicioso.
— Pode ser um pouco
mais rápido? Eu realmente tenho pressa. — Pedi tentando ser educada.
— Não boneca, não
posso. — Negou mascando um chiclete da forma mais nojenta e perversa possível.
Olhei para a porta ao ver um grupo de motoqueiros entrarem e arrepiei ao
escutar alguns assobios.
— Vou levar isto aqui
também. — Coloquei uma garrafa de tequila em cima da bancada e ignorei o olhar
surpreso do atendente.
Agradeci aos céus
quando finalmente me despachei e quase corri até ao carro enquanto escutava risadas
e cantadas podres de típicos protótipos masculinos. Entrei no carro e segui
viajem até casa com Zeus colocando o focinho pra fora da janela. Eu não sabia
como ele fazia aquilo. Tinha uma elasticidade incrível para um recém-nascido.
Certo, não exatamente recente. O cachorro já devia ter pelo menos um mês. Mas
era incrível.
Suspirei ao virar a
esquina para a minha rua e abrandei a velocidade enquanto soluçava alto. As
lágrimas escorriam por minha face e a minha roupa parecia ter sido enrolada por
uma rede de pesca de tão engelhada que estava. Doía como os infernos e eu nunca
imaginei que diria isto, mas...
— Fodasse! — Gritei
batendo com as mãos no volante. Zeus ladrou e o carro desalinhou e logo voltei
a agarrar o volante, assustada. — Desculpa. — Pedi a Zeus que se sentava no
banco do carona. Sua pose era extremamente direita. Ele era um rei. — Você
gostava dele? — Perguntei referindo-me a Travis. Zeus rosnou e eu olhei-o
brevemente. — É, eu também gostava.
Limpei as lágrimas da
melhor forma que pude e voltei a acelerar para chegar rápido a casa. Quando
estava perto vi carros desconhecidos ali parados e uma música alta tocava.
Segui em frente com o pensamento de que algum vizinho adolescente estava se
divertindo mais do que eu e imediatamente travei o carro. Raridade. Nunca havia
festas no bairro. Sempre que havia a policia estava presente e não era para
festejar junto. Dei marcha à ré e estacionei de qualquer jeito no pouco espaço
livre no passeio. Esfreguei os olhos e olhei para a minha casa invadida por
animais rafeiros suicidas. Mau dia. Muito mau dia! Joseph, você morre!
Peguei o saco da loja
de conveniência, chamei Zeus e saltei para fora do carro. Caminhei a passos
firmes até à porta de casa e praguejei por encontrá-la entreaberta, à mercê de
qualquer ladrão. Eu já sentia raiva de Joseph Jonas, mas ainda havia
sentimentos bons mínimos. Agora qualquer um desses sentimentos bons que pudessem
existir transformaram-se em ódio mortal. Parei na porta da sala e olhei em
volta inspecionando o local.
Quatro aliens invadiam
o meu espaço e não estavam se preocupando de quem era. Dois jogavam na minha
Xbox entre empurrões e cervejas, e os outros dois, Joseph incluído, conversavam
animadamente. Havia bebida por todo o lado, roupa espalhada, pizza e todo o
tipo de coisa irracional que se podia encontrar. Com um pouco de paciência, e
se fosse aos locais certos, tenho a certeza que também iria encontrar um
cadáver.
Um idiota que eu
desconhecia veio até mim e eu encarei-o com um olhar de dar medo. Ele não se
abalou e isso me deixou mais frustrada.
— Oi, você deve ser a
Demetria o Joseph falou...
— O Joseph vai morrer.
— Interrompi com ódio. Olhei o demónio que agora me olhava também e vi-o dar um
meio sorriso tímido. Qualquer mulher no mundo diria que ele era fofo e estava
na minha, mas tudo o que eu conseguia imaginar era o imbecil aos abraços com
Megan e Travis no seu mundinho rico e perfeito. Ah claro, e sangue!
Atravessei a sala com
todos os olhares em mim e vi Joseph livrar-se da cerveja para o amigo antes que
eu chegasse nele. Estendi meus braços e tentei apertar o pescoço do desgraçado
que achava piada ao meu surto. Ele ria da minha reação e eu apenas lhe dei um
tapa forte o suficiente para ouvir o seu pescoço estalar. A música parou, o
jogo parou e Joseph me olhou confuso e irritado.
— Qual é o seu
problema? — Perguntou levando a mão ao lado vermelho do rosto.
— O MEU PROBLEMA É
VOCÊ! — Gritei empurrando-o contra a parede. Estapeei-o no peito e senti mãos
me agarrarem. — VOCÊ SABIA ESTE TEMPO TODO! — Tentei me soltar do idiota que me
agarrava, mas de nada adiantava. Eu poderia matar Joseph que não iria me arrepender.
— VOCÊ SABIA E NÃO ME FALOU!
— EU NÃO SEI DO QUE
ESTÁ FALANDO! — Gritou me fazendo parar. A minha respiração estava
completamente ofegante e os meus olhos voltaram a arder. Minha garganta pareceu
ficar mais estreita e senti-me ser solta cuidadosamente.
— Nunca achei
coincidência o fato de você conhecer Travis. Quando você me perguntou o
sobrenome dele, eu sabia que algo estava errado. E há apenas algumas horas
atrás, quando eu achei que você estava realmente tentando me ajudar, você já
sabia de Megan. O tempo todo, desde a sorveteria. Porque não me contou? Hein?
Porque não teve um pingo de vergonha na cara e me disse que Travis estava me traindo?
Você acha mais engraçado me deixar seguir um caminho para o inferno? Está feliz
Joseph? — Perguntei vendo-o suspirar enquanto olhava o chão.
— Eu não...
— Você o quê? —
Incentivei. — Vai me dizer que não sabia?
— Ai é que está
Demetria. Eu não sabia. — Disse elevando o tom de voz. Ele estava estranhamente
calmo e isso me irritava.
— Mentiroso! Idiota! —
Xinguei batendo nele. — Eu sei que você sabia. Travis falou que conheceu Megan
numa de suas festas de menininhos ricos e filhinhos do papai. Você sabia que ela
era tudo menos prima do idiota. — Disse nervosa. Respirei fundo e tentei me
acalmar.
— Espera, foi isso que
ele disse para você? Que ela era prima? — Perguntou surpreso.
— Porque está
surpreso? — Questionei de volta.
— Por que... — Ao ver
a sua auto-interrupção senti a minha consciência pesar. Eu tinha acreditado nas
mentiras de Travis uma vez e talvez tivesse acreditado de novo quando ele me
induziu em algo que eu não tinha certeza. E se Joseph realmente não soubesse?
Senti lágrimas nos olhos e olhei o chão como uma criança pequena. — Vem cá. —
Pediu me dando a mão e me puxando até o sofá. Os rapazes logo deram espaço e
sentaram à nossa volta.
— Quem são eles? —
Perguntei olhando-os. Eu devia estar uma lástima.
— Brandon, Michael e
Kyle. — Respondeu.
— Certo.
— Escuta, — Pediu me
fazendo olhá-lo. — eu não sabia que o seu namorado...
— Ex. — Interrompi.
— Hã?
— Ex-namorado Joseph.
Você acha que eu não quebrei a casa do desgraçado? — Perguntei como se fosse
óbvio. Ouvi as risadas deles pela na sala.
— Não me surpreende. —
Disse com um olhar orgulhoso. — O que eu estou tentando explicar é que sim, eu
já conhecia Travis de uma festa que dei há pouco mais de um ano. Na verdade,
todos aqui conhecem. Ele é amigo de um ex-amigo nosso que deixou de se dar com
a gente. Ele entrou por afinidade e sim, eu o vi com Megan. Sabia que não eram
primos, mas nunca imaginei que ele estivesse fazendo isso com você. Eu fiquei
surpreso quando os vi juntos na sorveteria no outro dia. Então sim, eu sabia
que eles se conheciam, mas não, eu não sabia que eles estavam envolvidos. —
Explicou com um meio sorriso.
— Ótimo, agora estou
me sentindo duplamente idiota. — Confessei com um suspiro.
— Não se preocupe com
isso. — Disse tentando me tranquilizar.
— Joseph, seu pescoço
está marcado com as minhas unhas, minha mão está desenhada em seu rosto e seus
amigos ainda pensam que sou alguma espécie de bomba-relógio. — Falei. Eles
riram de novo e eu olhei-os atentamente. — O que eles estão fazendo aqui
afinal? — Perguntei me lembrando da música alta.
— Vieram me visitar. —
Explicou rapidamente.
— Você quebrou as
regras Joseph! — Acusei. — Eu disse, sem peguetes, sem sexo aqui em casa, sem
saídas à noite e sem festas! — Numerei. Os garotos arregalaram os olhos e
Joseph piscou.
— Eu não quebrei regra
nenhuma. — Disse estufando o peito com um ar vitorioso. Continuei olhando-o
como uma idiota e esperei a explicação. — A única mulher gostosa aqui é você e
você não é peguete alguma. Não há sexo aqui e eu não saí de casa. Eles é que
vieram até mim. Isto não é uma festa, mas sim um convívio social.
— Tudo bem. Eu vou
esquecer que você de um momento para o outro ficou inteligente. — Disse fazendo
os rapazes rirem menos Joseph que fechou a cara. — Você é o Kyle, né? —
Perguntei apontando para o homem tatuado ao meu lado.
— Sim. — Confirmou
sorrindo.
— Pega esse saco para
mim? — Perguntei apontando para o saco da loja de conveniência que tinha ficado
ali esquecido. Chamei Zeus assim que peguei o saco e ele logo saltou para o
colo de Joseph que se assustou, mas sorriu.
— De onde você
conseguiu esse cachorro? — Perguntou fazendo carinho em Zeus que parecia ter
entrado no paraíso. Tirei a ração dele do saco e entreguei para o animal de
duas pernas que logo começou a alimentar o meu pequeno herói.
— Era o cachorro do Travis.
— Falei sorrindo para Zeus que era paparicado por todas as mãos naquela sala.
— Desculpe perguntar,
mas eu fiquei curioso. O que você fez exatamente? — Perguntou Brandon.
— Não tem problema. —
Disse com um meio sorriso. Tirei o pacote de Doritos do saco e respirei fundo
enquanto me descalçava e enrolava as pernas por baixo de mim. — Depois de
entrar no apartamento dele totalmente confiante de que ia conseguir resolver as
coisas, encontrei a Megan cavalgando Travis como uma égua desengonçada. — Contei.
Comi umas três batatas de uma vez sem me preocupar em ser educada e continuei.
— Sai do quarto e voltei para a sala moderna do idiota. Depois de algumas
revelações, uma delas que me fez pensar que Joseph estava no meio de tudo isso,
dei a louca e avisei que o peso dos chifres que ele me tinha posto ia ser o
mesmo peso que ele ia ter na carteira dele.
— O que você quis
dizer? — Perguntou Michael.
— Quebrei os jogos, os
CD’s, os DVD’s, o Xbox, a Tv e por aí vai. Acho que até o meu salto agulha eu
quebrei. — Disse fazendo uma careta. Peguei no botim preto e analisei-o,
atirando-o para o chão em seguida. — Também não tem problema já que foi ele quem
pagou! — Falei. — Mas Zeus foi o verdadeiro herói.
— O que você fez
garotão? — Perguntou Joseph ao cachorro. Zeus latiu e abanou a cauda num gesto
feliz e eu ri.
— Ele mordeu Travis num
lugar muito sensível. — Contei gargalhando em seguida.
— Diga que está
brincando! — Exclamou rindo tanto como eu. — É, Zeus, você foi herói. — Disse
recebendo uma lambidela do animal. — E você? Onde esteve até esta hora? —
Perguntou me olhando sério. Estranhei-o, mas respondi mesmo assim.
— Andando por ai.
Refresquei as ideias e depois passei numa loja de conveniência antes de vir
para casa. Afinal, eu não tinha comida para Zeus. — Expliquei. Joseph adotou um
olhar zangado e eu encarei-o confusa. — O que foi?
— Você é louca de ir a
uma loja de conveniência a uma hora destas?
— Joseph, nem comece.
— Avisei revirando os olhos e tirando a garrafa de tequila do saco. Antes que eu
pudesse abrir a garrafa, Joseph puxou-a de mim e eu retruquei o olhar furioso
que ele tinha. — Porque fez isso?
— Você não vai beber.
— Decidiu. Ri da expressão dele e tentei puxar a garrafa de volta.
— Você por acaso é meu
pai? — Perguntei quando ele entregou a garrafa a Brandon.
— Não sou seu pai, mas
decido que você não vai beber.
— Fala o garoto mimado
que passa cinco dias por semana bêbado e dois ressacado. — Ironizei.
Fez-se um silêncio
tenso na sala e vi que todos me olhavam surpresos. Todos exceto Joseph. Eu não
menti. Falei a verdade. Não é?
— É isso que você
acha? — Perguntou quebrando o silêncio.
— É isso que eu ouvi
dizer. Você não provou ser muito diferente desde o domingo passado.
Vi Joseph fechar a
boca para conter alguma frase que eu provavelmente não iria gostar e vi-o
largar Zeus ao meu lado ao mesmo tempo em que me devolvia a garrafa.
— Você quer ser igual
a mim, ótimo! — Falou antes de virar as costas pelo meu quarto adentro e fechar
a porta com força. Estremeci com o impacto, mas fingi que não era nada comigo.
Sorri para Zeus e abri
a garrafa satisfeita. Quem Joseph pensava que era? Meu irmão? Meu pai? Nenhum
deles! Eu sou uma adulta responsável que tem tudo o que sempre desejou na vida.
Tudo menos o namorado. Ouvi um dos garotos chamar o meu nome e voltei a
olhá-los. Todos eram parecidos e todos eram diferentes. Brandon tinha olhos
azuis como água e os cabelos castanhos aloirados estavam cortados bem rente nos lados, formando um topete
em cima. Já Kyle tinha o cabelo loiro e diferentes tatuagens espalhadas pelos
braços. Michael parecia ser o mais amigável do grupo, mas nada batia Brandon que
tinha um sorriso molha-calcinha no rosto. Também era o que estava mais à
vontade. Todos eles tinham uma boa estrutura física, o que eu acredito ser
resultado de muitas horas na academia, e todos me olhavam da mesma forma. Era o
olhar de “Você fez merda Demetria!”.
— O que foi? —
Perguntei suspirando. Brandon sentou-se ao meu lado e puxou Zeus para si.
— Você não acha que
foi um pouco dura com ele? — Perguntou Michael com um meio sorriso. Revirei os
olhos. Eu sabia onde isso ia dar.
— Não, eu não acho.
Não menti no que disse. — Respondi cruzando as pernas em cima do sofá.
— Bem, não mentiu, mas
também não foi justa. — Disse Kyle.
— Como assim? —
Questionei agora confusa. Onde eles queriam chegar afinal?
— Joseph não é tudo
isso que você pensa que conhece. Tem mais dele. — Explicou Brandon.
— Mais ruim? —
Perguntei arqueando a sobrancelha.
— Não. — Disse Michael
sorrindo. — Mais legal.
— Não devemos estar a
falar do mesmo Joseph. — Falei brincando com a tampa da garrafa.
— Você já pensou em
dar uma chance para ele? — Perguntou Nicholas.
— Ele não pediu uma
chance para nada. — Disse confusa. Bebi um pouco da bebida alcoólica e fiz uma
careta de desgosto. Olhei novamente os garotos que me encaravam esperando uma
ação e revirei os olhos dando mais um gole do meu veneno. Voltei a fazer uma careta
e entreguei a garrafa a Kyle. — Toda vossa. Essa coisa é nojenta. — Falei me
levantando.
— Você vai...
— Sim Brandon, eu vou
me desculpar com Joseph Jonas. A minha consciência está pesando.
-----
Abri a porta do quarto
e fechei-a depois de entrar no mesmo. Vi Joseph deitado na minha cama entretido
com a minha bola de cristal. Sorri
timidamente quando ele me olhou e deitei na cama ao lado dele. Não abri a boca
para dizer uma palavra e ele também não o fez. O silêncio estava estranhamente
confortável, mas algo me corroía. Maldita consciência!
— Me desculpe. — Pedi
de uma vez enquanto encarava o teto.
— Por que está se
desculpando? — Perguntou confuso. Podia sentir seu olhar em mim, por isso
continuei encarando o teto.
— Por ter falado de
mais. Mesmo que seja verdade, ou não, eu não tinha esse direito. — Expliquei.
— Tudo bem. — Disse
baixo. — Eu me estressei fácil de mais. A bebida já deve estar fazendo efeito.
— Bem, você quis
cuidar de mim. Certo? — Perguntei olhando-o brevemente. — Isso faz de você um
bêbado consciente. — Disse sentindo o meu rosto queimar. Fiquei com receio de
ele entender errado e logo tentei explicar. — Quer dizer, você mostrou-se
preocupado e...
— Demetria, — Chamou
me interrompendo. — relaxa. Sim, eu estava tentando cuidar de você. Não gostei
do fato de saber que você andou por aí este tempo todo e... É perigoso, sabe?
— Sei. — Afirmei com
um meio sorriso.
Senti uma grande onde
de nostalgia tomando conta de mim e suspirei profundamente enquanto fechava os
olhos. Percebi que Joseph se virava na cama e virei-me também, ficando de frente
para ele. Encarei-o atentamente e pela primeira vez desde que o encontrara,
reparei na beleza dele. Sim, Joseph era bonito. Os cabelos escuros e fortes
eram selvagens e desgovernados. Sua pele era bronzeada por natureza e suas
feições eram bem delineadas. Mesmo tendo reparado em cada pedaço do seu rosto,
foram os olhos que me chamaram mais a atenção. Eram de uma cor incomum e ao
mesmo tempo despercebida. O castanho era uma mistura de mel com âmbar e o
brilho deles era extremamente difícil de encarar. Eram olhos intimidantes que
conseguiam fazer uma garota corar.
— Está doendo? —
Ouvi-o perguntar baixinho. Despertei do breve transe em que entrei e pensei uns
segundos antes de responder.
— Sim. —Afirmei me
encolhendo. Joseph não disse nada e eu fiz o que nunca imaginei que fosse fazer
logo com ele. Desabafei. — Ele esfregou tudo na minha cara. Ele me usou. —
Falei sentindo os meus olhos arderem. — Mesmo agora que o dia dos namorados
chegou. Eu... Não entendo a razão de ele ter feito o que fez.
— Ele foi um idiota
com você Demi.
— É, ele foi, mas eu
não entendo o porquê! Eu estou gorda? — Perguntei apertando a pele da minha
barriga reta.
— Não, você não está.
— Respondeu.
— Será que sou má na
cama? Ele nunca se queixou! — Acusei.
— Bem, isso eu não sei,
mas duvido que você seja má de cama. — Disse com um sorriso malicioso. Bati em
seu braço e sorri.
— Eu realmente não
entendo o motivo de ele me ter traído. Eu dei tudo pra ele. Foram dois anos
Joseph. Neste momento sinto que foi tudo uma perda de tempo. — Concluí
brincando com a bola de vidro que estava entre a gente.
— Você vai superar. —
Disse afastando uma mecha de cabelo que caiu em meu rosto. — Você é uma mulher
forte, independente capaz de conquistar o mundo. Você pode ter tudo o que
desejar. — Ouvi-o dizer. Senti o meu peito encher-se de conforto e sorri feliz
por ele estar ali comigo.
— Obrigada. —
Agradeci. — Sinceramente nunca imaginei que de entre todas as pessoas no mundo,
fosse você quem me apoiaria. Obrigada, de verdade.
Joseph assentiu e eu
fechei os olhos enquanto sentia nossas mãos se roçarem na bola de vidro. O
silêncio instalou-se mais uma vez e desta vez consegui sentir o meu corpo
relaxar. Eu ia superar Travis. Sabia que iria. A fossa era apenas esta noite e
nada mais. Eu não podia me rebaixar desse jeito.
— Demi. — Ouvi Joseph
chamar. Abri os olhos e esperei que ele falasse. — Porque é que o dia dos
namorados é tão importante assim para você? — Pensei por uns segundos a sorri
ao me lembrar do por quê.
— Desde que eu era
pequena minha mãe ligou muito para o dia dos namorados. Era o dia preferido do
ano para ela, então a nossa casa virava uma festa com balões, bolos e tudo o
que você pode imaginar. Eu também não entendia até que ela me explicou o porquê
de gostar tanto desse dia. — Expliquei com um sorriso.
— Posso saber qual era
o motivo? — Perguntou curioso.
— Ela dizia que era
porque o mundo virava um lugar mais bonito. As pessoas pareciam parar de correr
na vida agitada do trabalho e começavam a dar importância ao que realmente importa.
Ao que mais precisamos. Ela amava sair à rua e ver casais apaixonados. Ela
gostava de ver pedidos de casamento, pedidos de namoro ou até mesmo o gesto
mais simples que um garoto pode fazer a uma menina. Meu pai sempre a cortejava.
Pedia-a em casamento todas as manhãs e paparicava-a todo o santo dia. Ele sabia
que ela era doida por tudo o que fosse corações e flores. Ela ficava sempre
ansiosa e distribuía a energia por toda a casa. Era realmente contagiante. —
Falei rindo ao lembrar o sorriso dela. Joseph sorria também e eu entendi que o
efeito era o mesmo de sempre. Tão familiar. — Ela sempre me dizia que o melhor
presente que se pode dar a uma garota no dia dos namorados é um beijo.
— Porquê um beijo? —
Dei de ombros, mas mantive o sorriso.
— Ela dizia que era o
gesto mais carinhoso, delicado e verdadeiro de um garoto. — Falei. — É claro
que eu tinha dez anos quando ela dizia isso para mim. Agora sei que já não é
mais assim, mas... Faz sentido pra mim ainda. — Expliquei com lágrimas nos
olhos. — Acho que herdei isso dela. Tomei o gosto e é por isso que é tão
importante para mim. Porque era importante para ela. — Disse limpando uma
lágrima que escorreu. Eu não sabia o porquê de estar falando sobre a minha mãe
para Joseph, mas eu me sentia bem falando dela para ele.
— Você sente muito a
falta dela? — Perguntou acariciando o meu cabelo. Assenti em resposta e
permaneci em silêncio. — Feliz dia dos namorados Demetria. — Ouvi-o sussurrar.
Olhei para Joseph
confusa e só percebi o que ele queria fazer quando o senti tocar minha bochecha
com o polegar. Vi-o aproximar-se vagarosamente e estremeci ao sentir sua
respiração quente em meu rosto. De um momento para o outro senti minha cabeça
girar e uma repentina vertigem se apoderou de mim. Fiquei nervosa, mas não
recuei. Acho que isso foi um passe livre para o objetivo dele e logo o senti
tocar meus lábios com os seus. Ele era delicado, quieto e doce. Suspirei ao
segurar seu braço e deixei que acontecesse.
Correspondi à pressão
suave de seus lábios nos meus e prendi a respiração quando Joseph deslizou seus
dedos por minha nuca, me aproximando mais dele. Sua língua invadiu minha boca e
eu estremeci com o contato úmido e quente. Meu coração começou a acelerar de uma
forma estranha e senti o ar começar a ficar escasso. Parecia ser pouco para o
que o meu corpo mostrou desejar, e pelo tempo ser pouco é que eu deixei de me
conter e devolvi o beijo com a mesma intensidade que ele. Estava errado. Eu não
devia estar beijando Joseph Jonas, mas era bom. Suas mãos enormes pareciam
suportar toda a minha mente e seus lábios sugavam qualquer sofrimento ou mágoa
que eu pudesse estar sentindo. Eu apenas sentia alegria, carinho, delicadeza e
verdade. Era como a mamãe dizia. Era gostoso.
E de um momento para o
outro foram ouvidas batidas na porta do quarto. De um momento para o outro tudo
terminou.
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