07/07/2014

Como se Apaixonar em 40 Dias - 27º Capítulo


Seis meses depois

Peguei a última caixa e abri. Encontrei um brinquedo perdido de Zeus que ele com certeza iria sentir falta e encontrei um moletom que eu já não via desde a última lavagem. Era um moletom de Joseph que eu desconfiava que tivesse deixado propositalmente em minha casa. Peguei-o e deixei sobre a cama para não se misturar com o pó. Senti meu celular vibrar no meu bolso e sorri sabendo que era Valentina.
— Alô?
— VADIA! PORQUE NÃO ME LIGOU LOGO DEPOIS QUE O AVIÃO ATERROU? VOCÊ SABE HÁ QUANTO TEMPO EU ESTOU À ESPERA DA SUA LIGAÇÃO?
— Calma, amor. Assim a Demi vai ficar surda. — Ouvi Brandon dizer.
— Não me diga para ter calma Brandon! Não me diga para ter calma!
— Er, gente, eu ainda estou aqui ta? E estou inteira Valentina. — Falei revirando os olhos. Ela seria a mesma desmiolada de sempre. — Não liguei antes porque alguém precisa arrumar as coisas aqui no apartamento.
— Você pode arrumar depois. Eu quero saber como você vai fazer para encontrar o Joseph! — Falou. Quase que podia vê-la com um sorriso no rosto.
— Eu não sei Val. Não sei nem se ele quer olhar na minha cara. — Admiti sem me importar por Brandon estar ouvindo a conversa. E agora gargalhando.
— Sério que você tem medo disso Demi? — Perguntou.
— Hey! Eu sou uma garota! — Justifiquei. — Vamos ser realistas Brandon. Passaram seis meses e ele pode muito bem estar com outra e podem estar namorando e...
— Demi, você está viajando. — Falou Valentina me interrompendo.
— Não, eu já viajei. Estou no apartamento agora Val.
— Não foi isso que eu... Esquece, você é lerda de mais para entender. — Resmungou.
— Obrigada viu! — Agradeci ironicamente.
— Demi, você saiu daqui encorajada para fazer algo. Apenas faça. Tem tudo para dar certo. — Falou Brandon. Sorri ao ouvir as palavras dele e depois de falarmos mais um pouco desliguei a chamada.
Muita coisa mudou nesses últimos seis meses. E com muita coisa eu quero dizer muita coisa mesmo. Brandon e Valentina finalmente deram aquele passo e estão namorando firme. Devo dizer que o rótulo de namorada cai bem em Valentina. No fundo ela precisava de algo assim e Brandon também. Meu pai começou a sair com Sue alguns meses atrás e atualmente estão namorando. Ou quase isso. Eu ainda não entendia bem o tipo de relação que eles sustentavam, mas eles estavam felizes e Sue era muito legal. Ela cuida bem dele.
Travis finalmente foi aceito por Valentina como tolerável e agora está vivendo o romance de sua vida ao namorar uma garota que está no primeiro ano da faculdade. Pelas palavras dele é um verdadeiro romance tipo Romeu e Julieta e eu só espero que ele não morra no final. Lembro que ele riu quando eu lhe disse essas palavras e lembro que ele falou que seria mais provável ele fugir com ela do que morrer. Fiquei muito feliz por ele.
Ao fim de quatro meses, olhei-me ao espelho e suspirei desagradada com a minha imagem. Meus cabelos batiam os ombros devido ao corte radical que decidi fazer e minha pele estava bronzeada devido ao sol do verão. Estava mais magra também. Claro que não era aquela magreza extrema que uma mulher pode chegar, mas era uma magreza notável devido ao estresse já que me joguei de cabeça no trabalho para ver se conseguia esquecer Joseph. Não deu certo e agora meus quadris estavam tão finos como aquelas modelos da Victoria Secret’s. Não que fosse tudo mau. É só que... Eu gostava do meu corpo antes.
Infelizmente, aquela imagem não era a única coisa que eu via naquele espelho. Eu via solidão também. Meu pai, Valentina e até Travis estavam de bem com a vida e eu continuava sozinha, ansiando pelo dia que poderia ver Joseph novamente. Não, eu não o tinha esquecido e não tinha deixado de o amar. O sentimento continuava lá, intacto. Se havia algo que aumentava a cada dia que passava era a saudade. Eu não previa que fosse acontecer. O trabalho não iria me permitir fazê-lo, mas os tão raros milagres não foram tão raros assim.
Sarah, aquela odiosa patroa que adorava me infernizar dia após dia no trabalho, era agora uma mulher profissionalmente bem sucedida e solteira. Pois é. Após o divórcio que causou um enorme alvoroço no seu circulo social de amigos e conhecidos, Sarah dedicou-se ao trabalho e aos prazeres da vida de solteira. Agora andava sempre com um sorriso enorme no rosto e bem produzida, mostrando que a idade era simpática com ela. De vez em quando recebia flores ou presentes e os rumores diziam que os mesmos eram de seu motorista Walt. Cá entre nós, ele era um gato. E talvez fosse o Pénis de Ouro dela.
Mas voltando à parte de ser profissionalmente bem sucedida. Depois de mostrar o seu descontentamento com o fato de eu ter recusado a promoção na filial da empresa, Sarah prometeu que as coisas iriam mudar para mim. Ela queria que eu crescesse naquela empresa e queria que eu trabalhasse para isso. Foi assim que eu me encontrava na cidade onde Joseph estava neste preciso momento. Com o sucesso da empresa aberta há seis meses, Sarah decidiu abrir outra e voltou a convidar-me para fazer parte da gerência. No começo pensei em recusar, mas num almoço Brandon deixou escapar que Joseph estava adorando a faculdade na Carolina do Norte. O estado para onde Sarah queria que eu fosse.
Tudo estava dando certo e agora eu já estava estabilizada. Tinha aterrado nesta madrugada e já tinha o meu carro novo e as chaves do meu novo apartamento. As minhas coisas já lá estavam e agora só precisaria arrumar e ir até à empresa. Só precisaria começar a trabalhar na próxima segunda-feira e isso me daria o tempo que eu precisava para me adaptar e resolver as coisas com Joseph. Se ainda houvesse algo para resolver.

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Estacionei o carro e respirei fundo. Eu só ia encontrar Joseph. Meu ex-quase-namorado e amigo, apesar de tudo. O que podia acontecer além de ele estar com outra garota mais bonita e mais bronzeada do que eu? O que eu tinha a perder além de levar um pé na bunda? Aff, essa porra que se exploda! Peguei a camisola moletom que serviria como desculpa para vê-lo e tranquei o carro, caminhando em seguida em direção à faculdade.
Eu já sabia que seria difícil encontrá-lo naquela imensidão de espaço e sabia que a minha tentativa podia falhar. Eu não sabia se ele estava no campus e também não sabia se ele tinha um apartamento externo à faculdade ou se partilhava um dormitório ou uma casa de fraternidade. A verdade é que eu estava perdida, mesmo já tendo feito faculdade.
— Ai, me desculpa! — Pedi apressada enquanto via os livros de alguém deslizarem pelo chão. Baixei-me rapidamente para apanhá-los e logo os entreguei ao dono. Era um garoto, mais homem que garoto, de cabelos acobreados e de olhos verdes. Tinha várias sardas espalhadas pelo rosto, mas estas mal se notavam. — Desculpa de verdade. Eu estava distraída e aí...
— Tudo bem. Você não é a primeira garota a esbarrar em mim. Normalmente sou um íman para esse tipo de coisa. — Disse coçando a nuca. Ele era tímido e muito fofo. — Você é nova por aqui? — Perguntou parecendo surpreso.
— Por que a surpresa? — Perguntei divertida. A faculdade estava praticamente vazia e a quantidade de livros que ele carregava dizia-me que ele é um pouco como eu quando estudava na faculdade. Gosta de marrar em silêncio.
— Er, normalmente não há muitas mulheres aqui na faculdade. Quer dizer, tirando as funcionárias e as namoradas dos caras, não tem muita garota gostando de mecânica. Principalmente uma tão bonita quanto você. — Explicou meio atrapalhado.
— Entendi. — Disse com um sorriso simpático no rosto. — Bem, eu não sou estudante aqui, já terminei a minha faculdade há uns anos, mas procuro uma pessoa. Talvez você o conheça. — Falei vendo-o ficar tristinho. Eu tinha uma imensa vontade de apertar as bochechas dele, mas não o faria sentir-se um bebé. Já bastava ele ser caloiro para que os veteranos o façam sofrer.
— Oh, certo. Bem, pode me dizer o nome? Talvez eu conheça. — Fiquei satisfeita pela ajuda que ele oferecia. Talvez ele conhecesse.
— Joseph Jonas. Ele entrou esse ano. É caloiro. — Disse vendo-o assentir.
— Eu conheço-o sim. Ele está na mesma fraternidade que eu. Vem, ele deve estar nas garagens. — Falou já andando pelo campus. — A propósito, o meu nome é Scott. — Apresentou-se com um sorriso enquanto eu o seguia.
— Demetria, mas pode me chamar Demi.
— Nome bonito Demi. — Elogiou sorrindo para mim enquanto atravessávamos um jardim enorme. Era possível ver uns três casais e alguns grupos de amigos. Era uma faculdade bastante masculina.
— Então, está gostando de estar na faculdade? — Perguntei querendo quebrar o silêncio. Scott apenas deu de ombros e um meio sorriso.
— É legal, mas não o meu lugar favorito na terra. Eu gosto de carros sabe? Mas é mais na área do design. Eu gosto de desenhá-los e não de arranjá-los então ás vezes fico um pouco deslocado. Principalmente na casa mãe. Se não fosse Joseph protegendo as minhas costas eu estaria ferrado.
— Hum, se não gosta de estar na fraternidade porque fica? — Perguntei curiosa. Scott era interessante, mas no meio de tanta testosterona eu podia imaginar o porquê dele se sentir incomodado.
— Porque meu pai pertenceu. Foi assim que entrei. Linhagem. Já Joseph foi convidado a entrar. Acho que ele também não liga muito para aquela baboseira, mas é uma forma dele se manter ocupado. Ele é popular por aqui, mas reservado. Não sabem muito dele.
— Mas você sabe. — Lembrei com um sorriso.
— Nós somos amigos. — Disse também com um sorriso.
Scott continuou falando de como conheceu Joseph, também tombando com ele e de como era um solteiro nato à conquista de uma fêmea. Ri das expressões engraçadas dele e segui-o até ao lado oposto onde eu tinha deixado o carro. Olhei para trás vendo que já tínhamos andando bastante e que eu nem tinha dado conta. Fiquei sem palavras quando chegámos ao nosso destino. De onde eu me encontrava podia ver duas fileiras de garagens enormes, umas de frente para as outras. Aquilo era enorme.
— Chegámos. — Anunciou me olhando. — Não fique tão surpresa. Isto são salas de aula prática para nós e é muito mais divertido do que qualquer auditório. — Falou me dando uma leve cotovelada. — Vamos. Eu não faço ideia de onde o Jonas está, mas não está longe. — Disse descontraído enquanto descia as escadas à nossa frente.
Foi aí que eu me lembrei de que ia encontrar Joseph. Ia vê-lo novamente e não fazia ideia do que lhe dizer. Eu tinha ensaiado em frente ao espelho como uma adolescente, mas agora tudo tinha evaporado e o nervosismo tomava conta de mim. Senti meu corpo aquecer e arrepios por minha espinha. Eu estava morrendo de ansiedade.
— Er, Scott! — Chamei correndo para apanhá-lo. Ele parou e virou-se surpreso. Provavelmente notando que eu não o acompanhava. — Joseph alguma vez falou de mim? — Perguntei de uma vez. Vi-o sorrir misteriosamente e senti o meu coração querer rasgar o peito.
— Talvez. Não precisa ter medo Demi. — Falou me assustando. Ele sabia? Joseph tinha falado de mim para ele? Não me tinha esquecido? — Só precisa ter medo de uma coisa. — Disse agora fechando a cara.
— O quê?
— Isto é uma faculdade de garotos e é raro aparecer por aqui um mulherão como você. Você está linda e comportada nesse jeans de lavagem escura e nessa regata branca, mas isso é o suficiente para te assediarem por aqui. Não fique com medo se ouvir assobios ou cantadas baratas. — Avisou parado à minha frente. Ri do desespero dele e assenti.
— Entendi o aviso.
— Então vamos lá desfilar. — Disse voltando a andar por ali.
Gargalhei da sua atitude de eu “posso, quero e mando” e segui-o. Ouvi alguns assobios e algumas cantadas nojentas e aproximei-me mais de Scott que acabou entendendo e colocou o braço sobre meus ombros. Achei engraçada a forma como ele ia perdendo a vergonha quando conhecia alguém e achei mais engraçado ainda a expressão dele quando eu não disse nada sobre o seu braço.
— E aí Scott? — Cumprimentou um garoto, que também não era nada garoto.
— Hey. Você viu o Jonas por aí? — Perguntou parando para saber a resposta.
— Garagem 24. — Respondeu.
— Valeu!
Apertei mais a camisola em minhas mãos. Scott e eu estávamos em frente à garagem 17 e não faltaria muito para eu encontrar Joseph. Eu não sabia como ele iria reagir à minha presença. Não sabia sequer se ele iria querer me ver, mas agora que eu estava ali, não iria voltar atrás.

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