Porra. Sim, porra! É isso que eu tenho vontade de gritar para o mundo.
Porra e mais porra! Já não é uma surpresa que a minha vida dê uma volta de
cento e oitenta graus, mas eu nunca esperava uma volta de trezentos e sessenta.
Era de mais até para mim.
Joseph Jonas estava na minha garagem de volta de um carro em vez de estar
comigo neste maldito sofá. Eu sei que o protótipo de filme é uma merda, mas
acho que seria melhor a minha companhia do que a minha lata velha. Ou ex-lata
velha. É, a coisa está má para chegar ao ponto de xingá-la. A verdade é que as
coisas não estavam legais. Nada legais mesmo. Como se já não fosse o suficiente
ter um dia ruim na empresa ontem, ainda cheguei em casa encontrando Joseph demasiado
ocupado com o carro para me dar atenção.
Talvez eu esteja sendo uma namorada carente. Não! Nem essa merda de namoro
nós temos. Eu vejo tudo dando errado e não encontro forma de fazer as coisas
voltarem ao que eram! Eu sabia que havia algo errado com Joseph. Por muito que
eu tentasse enganar a mim mesma, os fatos eram reais. Algo estava muito errado
e não era apenas na falta de definição de relação. Havia mais nessa merda e eu
não aguentava mais isso. Para completar a minha perfeita situação agora tinha
de encontrar uma forma de contar a Joseph sobre a filial e a possível promoção.
Eu já tinha uma resposta.
— Você gosta mesmo disso. — Falei encostada na parede perto do portão da
garagem. Joseph deu um meio sorriso e largou a chave que estava usando. Ele
estava sem camisa, suado e sujo de graxa. Puta gostoso.
— É, eu gosto mesmo. — Confirmou limpando o suor da testa com o braço.
Vi-o sentar-se no chão e suspirar. Ele parecia cansado e eu perguntava-me
mentalmente se seria apenas pelas mudanças no carro que ele não largava.
— Dando show para as velhinhas da vizinhança? — Perguntei erguendo uma
sobrancelha. Recebi uma risada e dei mais um gole no meu capuccino com
marshmallows.
— Com certeza. Aquelas peles gostosas ainda têm muita rotação. — Brincou
me fazendo rir. Aproximei-me e estendi-lhe uma caneca igual à minha. Ele
agradeceu e puxou-me pela mão. — Se importa com a graxa e o suor? Não quero dar
show sozinho. — Disse safado. Sorri e sentei-me virada para ele em seu colo.
— Acha mesmo que me importo? — Perguntei segurando sua nuca. Senti seus
cabelos encharcados de suor e puxei-o para um beijo breve.
— Hum. — Ele gostava de me analisar e diferente das outras vezes não
fiquei vermelha. Sustentei seu olhar e suspirei. — Você parece cansada. —
Concluiu baixinho.
— Houve novidades na empresa essa semana. — Falei deixando minha caneca ao
nosso lado.
— Algum problema? — Perguntou interessado. Senti suas mãos em minhas
costas e apoiei-me em seus ombros enquanto ele me ajeitava em seu colo.
— Sarah abriu uma filial da empresa em outro estado e está selecionando
funcionários para serem promovidos e gerirem por lá. — Falei de uma vez. Ele
ficou surpreso, mas ainda não tinha entendido a situação.
— É por isso que têm trabalhado tanto nessas duas semanas? — Perguntou.
Assenti e desviei o olhar para o peito dele.
— Eu fui uma das selecionadas. Preciso dar uma resposta em duas semanas. —
Falei esperando uma má reação. — E... Eu não vou aceitar a promoção.
— O quê? Mas é uma oportunidade única! — Exclamou me abraçando. Afastei-me
e sai de seu colo. Não era aquela a reação que eu esperava. — Demi, qual é o
problema? — Perguntou se levantando e se aproximando de mim.
— A filial é em outro estado Joseph. Longe daqui. — Referi novamente para
ver se ele se mancava.
— E então? — Perguntou confuso.
— E então? Você está brincando? — Perguntei furiosa. — Joseph, você não se
importa nem um pouco pelo fato de eu ficar longe? Não passou pela sua cabeça
que o nós temos pode acabar com isso? Ou você nem se importa?
— É claro que eu me importo, é só que...
— Não! Você não se importa e agora tive a prova disso! Se você realmente
gostasse de mim iria querer ficar comigo, mas você prefere que eu vá para
longe!
— Demetria, pára um pouco. Não é nada disso que está dizendo! — Disse
nervoso. — Essa é uma ótima oportunidade. Não era o que você queria? Ser bem
sucedida na vida profissional assim como é na vida pessoal?
— Agora eu sou bem sucedida na vida pessoal? — Perguntei incrédula. Aquela
discussão era ridícula! — Olha à sua volta Joseph! Olha à sua volta e me diz
onde eu sou bem sucedida! — Gritei calando-me em seguida. Tentei controlar a
respiração, mas era em vão. Tudo em mim tremia de nervosismo. — Passe bem a
noite. — Falei virando as costas para entrar em casa.
— Aonde você vai? — Eu sabia que ele vinha atrás de mim, mas eu não queria
discutir mais. Será que ele não entendia nada de nada?
— Passar a noite fora. — Respondi simplesmente enquanto punha umas roupas
dentro de uma mala sem ter o cuidado de dobrá-las.
— Endoideceu? A esta hora? — Perguntou parado na porta do quarto.
— É incrível como você está mais preocupado em saber aonde eu vou do que
me impedir de sair por aquela porta.
— Demi, eu não estou entendo de onde veio tudo isso. — Admitiu o óbvio.
Dei uma risada fraca.
— É, eu já notei. — Falei fechando a mala e pegando as chaves do carro
junto com a carteira. Dirigi-me à porta e parei na frente dele. — Abra os
olhos. — Disse esbarrando nele. Ouvi-o chamar por mim, mas eu apenas saí
batendo a porta.
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— Demi. — Disse Valentina surpresa depois de abrir a porta. Limpei as
lágrimas que escorriam por meu rosto e tentei me controlar para não parecer uma
adolescente. — Jonas? — Perguntou. Assenti e longo senti-me ser puxada para um
abraço apertado.
— Ele não entende Valentina. Eu não sei mais se... Não sei se vai dar
certo. Ele...
— Shh, não atropele as palavras. Vem, passe este fim de semana comigo.
Esse ataque é global.
Passados dez minutos de ter chegado ao apartamento de Valentina, já
estávamos ambas deitadas na cama dela, com pijamas de flanela e com o gato Percy
em nossos pés. Pedidos de socorro destes eram comuns entre a gente desde o
tempo da faculdade, mas já fazia um tempo que nenhuma de nós se desiludia.
— Quer me contar agora o que aconteceu? Tem muito Dorito aqui para ser
comido. Nem quero saber das calorias. Elas vão ser a minha maior consolação. —
Falou colocando mais uma batata na boca. Olhei para ela e suspirei.
— Contei ao Jonas sobre a promoção. — Disse apertando as cobertas contra
mim.
— Como ele reagiu?
— Ficou feliz. Disse que era uma oportunidade única.
— É verdade. — Concordou. — Mas não foi isso que te chateou Demi.
— Também. Eu esperava que pelo menos ele demonstrasse que gostaria que eu
ficasse, mas... Nada. Foi vazio. Ele repetia que era bom para mim, mas nem
quando eu disse que era longe daqui ele... Ele não entende Valentina. Não
entende que devia ter dito que gostaria que eu ficasse. Devia ter me pedido
para ficar antes de eu vir para aqui. E devia ter-me dito o que quer de mim
porque eu não sei mais. Isto não é mais o que eu queria. Eu tentei me convencer
que era uma questão de tempo, mas...
— Eu tinha razão. — Completou. Assenti e peguei um pacote de Doritos para
mim.
— Tem algo errado Valentina. Eu sei que ele gosta de mim. Sinto isso cada
vez que ele me beija. Sinto isso em cada toque, mas... Ele não diz. Ele não me
deixa perceber o que ele quer. Tem algo muito errado.
— Demi, aquela conversa que a gente ouviu dele com o Brandon. Ele... Acha
que ele está escondendo algo?
— Com certeza. Eu só não imagino o que possa ser. Estou ficando cansada de
esperar sem saber o que esperar, entende? — Perguntei olhando-a. Valentina
olhava para Percy completamente alheia.
— Acho que fui uma completa idiota com o Brandon. Ele quer um relacionamento,
mas eu tenho fugido disso como o diabo foge da cruz. Eu não sei se...
— Brandon deve estar como eu então. — Falei distraidamente.
— Ai meu Deus. Demi, eu fui horrível com ele. Ele passou a noite aqui e
tivemos uma noite maravilhosa, foi um dos melhores orgasmos de sempre e de
manhã, depois de me ter feito o café da manhã ele veio com uma conversa de
assumir a relação e eu entrei a pânico e fiz com que brigássemos! — Falou
atropelando as palavras. Arregalei os olhos e fiz com que ela me olhasse.
— Não foi isso que eu quis dizer Val. Brandon... Brandon deve procurar o
mesmo que eu, mas as situações são totalmente diferentes.
— Não são não. Eu fui um Joseph idiota!
— Não foi. — Neguei respirando fundo. — Você não esconde nada de Brandon.
Apenas tem medo de se envolver e de se arrepender. Você sempre viveu longe do
compromisso e em poucas semanas você conhece Brandon e sua vida dá um giro
maior que você. Com Joseph não é assim. Entende? Com vocês é preto no branco
sem tirar nem pôr. Não há mas.
— Mas isso não quer dizer que eu não tenha sido uma idiota com ele, porque
eu fui Demi. Fui muito idiota. A verdade é que eu acho que está tudo indo
rápido de mais e eu só quero acalmar. Não quero me precipitar com Brandon
porque eu gosto dele.
— Falou isso para ele? — Perguntei erguendo uma sobrancelha.
— Não. — Falou baixinho. — Acha que vou a tempo de invadir o apartamento
dele agora? — Perguntou de repente.
— É quase uma da manhã, mas acho que não tem problema não, afinal, eu
invadi o seu. — Falei dando de ombros. Valentina saltou da cama e saltou para o
closet. Vi-a escolher uma langerie vermelha e pegar um vestido preto, soltinho
da cintura para baixo.
— Ah, não posso ir. — Falou largando as roupas em cima da cama.
— Porque não? — Perguntei já engenhando uma forma de ela ir. Não me
perdoaria se fosse responsável pela não resolução entre Brandon e Val.
— Você. — Falou óbvia. — Eu devia ser uma amiga legal e ficar com você
esta noite.
— Mas você não é uma amiga legal. — Falei com um sorriso malicioso. Ela
entendeu e saltou em cima de mim num abraço apertado. — CUIDADO COM OS DORITOS!
ESSA DROGA É PRECIOSA PORRA! — Gritei vendo que ela sentava em cima do meu
alimento.
— Desculpa. — Pediu rindo enquanto se apressava a vestir à minha frente
mesmo. Vergonha na cara ela não tem. — Você tem certeza que vai ficar bem aqui
sozinha?
— Tenho. Eu só não quero voltar para casa hoje. Se eu for discutir com
Joseph de novo hoje a coisa corre o risco de terminar de vez. — Disse.
— Ele pode vir procurar por você.
— Hum, não acredito que o faça. Ele pode ser um lesado, mas acho que
entendeu a mensagem que eu lhe dei. Eu preciso de espaço e não teria isso se
ficasse perto dele. — Expliquei resumidamente. Não queria prendê-la mais ali
quando ela tinha assuntos por resolver.
— Certo. Qualquer coisa você me liga, sim?
— Pode deixar. Não vou ligar. — Respondi com um sorriso malicioso. Eu
sabia como iria acabar a reconciliação dela.
Assim que Valentina saiu trancando a porta do apartamento, enrosquei-me
mais nos lençóis e nas mantas da cama. Coloquei The Vampire Diaries para dar e
curti minha fossa. Não me segurei. Eu não sou pessoa de fazer com que os outros
corram por mim. Eu sou o tipo de pessoa que corre atrás do que quer, mas em
relação a Joseph eu não posso querer sozinha.
Sem me aguentar mais de ansiedade, peguei o celular e o liguei. A verdade
é que eu queria que ele viesse atrás de mim. Queria que ele se tocasse e
percebesse o que estava fazendo. Queria saber que ele se importava comigo e
estava comigo porque gostava nem que fosse um pouquinho de mim. Eu queria que o
segredo dele fosse uma ilusão da minha cabeça.
— Demi... Por favor... Volta para casa. Eu estou preocupado com você e...
Eu só quero que você volte para que a gente possa conversar. — Ouvi-o dizer na
última mensagem deixada na caixa postal. Sua voz estava abatida e eu sabia que
ele tinha aquele nó na garganta. Aquele que eu tinha sentido quando cheguei ao
apartamento de Valentina. — Não quero te machucar Demi. Só, volta pra mim.
Desliguei a chamada para a caixa postal assim que a mensagem terminou e
fechei os olhos encostando a cabeça no travesseiro. Ele implorava para que eu
voltasse para casa, mas não tinha feito esforço algum para me impedir de
partir. Então eu entendi que ele era o tipo de pessoa que só entendia o que queria
depois de perder.
Senti meu celular vibrar e apanhei um susto ao ver o nome dele no visor.
Eu não sabia se devia atender ou não. Eu tinha saído de casa para ter um pouco
de paz longe dele e mesmo assim eu queria ouvir sua voz. Deslizei a bolinha
verde pelo ecrã e levei o celular à orelha.
— Demi, finalmente você atendeu. Onde você está? — Ouvi-o dizer ofegante.
Não falei nada, só fechei os olhos. — Demetria, por favor... Volta para casa. —
Suspirei e forcei mais os olhos para que as lágrimas não escorressem. — Demi,
eu... Eu te amo.
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