07/07/2014

Como se Apaixonar em 40 Dias - 24º Capítulo


Porra. Sim, porra! É isso que eu tenho vontade de gritar para o mundo. Porra e mais porra! Já não é uma surpresa que a minha vida dê uma volta de cento e oitenta graus, mas eu nunca esperava uma volta de trezentos e sessenta. Era de mais até para mim.
Joseph Jonas estava na minha garagem de volta de um carro em vez de estar comigo neste maldito sofá. Eu sei que o protótipo de filme é uma merda, mas acho que seria melhor a minha companhia do que a minha lata velha. Ou ex-lata velha. É, a coisa está má para chegar ao ponto de xingá-la. A verdade é que as coisas não estavam legais. Nada legais mesmo. Como se já não fosse o suficiente ter um dia ruim na empresa ontem, ainda cheguei em casa encontrando Joseph demasiado ocupado com o carro para me dar atenção.
Talvez eu esteja sendo uma namorada carente. Não! Nem essa merda de namoro nós temos. Eu vejo tudo dando errado e não encontro forma de fazer as coisas voltarem ao que eram! Eu sabia que havia algo errado com Joseph. Por muito que eu tentasse enganar a mim mesma, os fatos eram reais. Algo estava muito errado e não era apenas na falta de definição de relação. Havia mais nessa merda e eu não aguentava mais isso. Para completar a minha perfeita situação agora tinha de encontrar uma forma de contar a Joseph sobre a filial e a possível promoção. Eu já tinha uma resposta.
— Você gosta mesmo disso. — Falei encostada na parede perto do portão da garagem. Joseph deu um meio sorriso e largou a chave que estava usando. Ele estava sem camisa, suado e sujo de graxa. Puta gostoso.
— É, eu gosto mesmo. — Confirmou limpando o suor da testa com o braço. Vi-o sentar-se no chão e suspirar. Ele parecia cansado e eu perguntava-me mentalmente se seria apenas pelas mudanças no carro que ele não largava.
— Dando show para as velhinhas da vizinhança? — Perguntei erguendo uma sobrancelha. Recebi uma risada e dei mais um gole no meu capuccino com marshmallows.
— Com certeza. Aquelas peles gostosas ainda têm muita rotação. — Brincou me fazendo rir. Aproximei-me e estendi-lhe uma caneca igual à minha. Ele agradeceu e puxou-me pela mão. — Se importa com a graxa e o suor? Não quero dar show sozinho. — Disse safado. Sorri e sentei-me virada para ele em seu colo.
— Acha mesmo que me importo? — Perguntei segurando sua nuca. Senti seus cabelos encharcados de suor e puxei-o para um beijo breve.
— Hum. — Ele gostava de me analisar e diferente das outras vezes não fiquei vermelha. Sustentei seu olhar e suspirei. — Você parece cansada. — Concluiu baixinho.
— Houve novidades na empresa essa semana. — Falei deixando minha caneca ao nosso lado.
— Algum problema? — Perguntou interessado. Senti suas mãos em minhas costas e apoiei-me em seus ombros enquanto ele me ajeitava em seu colo.
— Sarah abriu uma filial da empresa em outro estado e está selecionando funcionários para serem promovidos e gerirem por lá. — Falei de uma vez. Ele ficou surpreso, mas ainda não tinha entendido a situação.
— É por isso que têm trabalhado tanto nessas duas semanas? — Perguntou. Assenti e desviei o olhar para o peito dele.
— Eu fui uma das selecionadas. Preciso dar uma resposta em duas semanas. — Falei esperando uma má reação. — E... Eu não vou aceitar a promoção.
— O quê? Mas é uma oportunidade única! — Exclamou me abraçando. Afastei-me e sai de seu colo. Não era aquela a reação que eu esperava. — Demi, qual é o problema? — Perguntou se levantando e se aproximando de mim.
— A filial é em outro estado Joseph. Longe daqui. — Referi novamente para ver se ele se mancava.
— E então? — Perguntou confuso.
— E então? Você está brincando? — Perguntei furiosa. — Joseph, você não se importa nem um pouco pelo fato de eu ficar longe? Não passou pela sua cabeça que o nós temos pode acabar com isso? Ou você nem se importa?
— É claro que eu me importo, é só que...
— Não! Você não se importa e agora tive a prova disso! Se você realmente gostasse de mim iria querer ficar comigo, mas você prefere que eu vá para longe!
— Demetria, pára um pouco. Não é nada disso que está dizendo! — Disse nervoso. — Essa é uma ótima oportunidade. Não era o que você queria? Ser bem sucedida na vida profissional assim como é na vida pessoal?
— Agora eu sou bem sucedida na vida pessoal? — Perguntei incrédula. Aquela discussão era ridícula! — Olha à sua volta Joseph! Olha à sua volta e me diz onde eu sou bem sucedida! — Gritei calando-me em seguida. Tentei controlar a respiração, mas era em vão. Tudo em mim tremia de nervosismo. — Passe bem a noite. — Falei virando as costas para entrar em casa.
— Aonde você vai? — Eu sabia que ele vinha atrás de mim, mas eu não queria discutir mais. Será que ele não entendia nada de nada?
— Passar a noite fora. — Respondi simplesmente enquanto punha umas roupas dentro de uma mala sem ter o cuidado de dobrá-las.
— Endoideceu? A esta hora? — Perguntou parado na porta do quarto.
— É incrível como você está mais preocupado em saber aonde eu vou do que me impedir de sair por aquela porta.
— Demi, eu não estou entendo de onde veio tudo isso. — Admitiu o óbvio. Dei uma risada fraca.
— É, eu já notei. — Falei fechando a mala e pegando as chaves do carro junto com a carteira. Dirigi-me à porta e parei na frente dele. — Abra os olhos. — Disse esbarrando nele. Ouvi-o chamar por mim, mas eu apenas saí batendo a porta.

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— Demi. — Disse Valentina surpresa depois de abrir a porta. Limpei as lágrimas que escorriam por meu rosto e tentei me controlar para não parecer uma adolescente. — Jonas? — Perguntou. Assenti e longo senti-me ser puxada para um abraço apertado.
— Ele não entende Valentina. Eu não sei mais se... Não sei se vai dar certo. Ele...
— Shh, não atropele as palavras. Vem, passe este fim de semana comigo. Esse ataque é global.
Passados dez minutos de ter chegado ao apartamento de Valentina, já estávamos ambas deitadas na cama dela, com pijamas de flanela e com o gato Percy em nossos pés. Pedidos de socorro destes eram comuns entre a gente desde o tempo da faculdade, mas já fazia um tempo que nenhuma de nós se desiludia.
— Quer me contar agora o que aconteceu? Tem muito Dorito aqui para ser comido. Nem quero saber das calorias. Elas vão ser a minha maior consolação. — Falou colocando mais uma batata na boca. Olhei para ela e suspirei.
— Contei ao Jonas sobre a promoção. — Disse apertando as cobertas contra mim.
— Como ele reagiu?
— Ficou feliz. Disse que era uma oportunidade única.
— É verdade. — Concordou. — Mas não foi isso que te chateou Demi.
— Também. Eu esperava que pelo menos ele demonstrasse que gostaria que eu ficasse, mas... Nada. Foi vazio. Ele repetia que era bom para mim, mas nem quando eu disse que era longe daqui ele... Ele não entende Valentina. Não entende que devia ter dito que gostaria que eu ficasse. Devia ter me pedido para ficar antes de eu vir para aqui. E devia ter-me dito o que quer de mim porque eu não sei mais. Isto não é mais o que eu queria. Eu tentei me convencer que era uma questão de tempo, mas...
— Eu tinha razão. — Completou. Assenti e peguei um pacote de Doritos para mim.
— Tem algo errado Valentina. Eu sei que ele gosta de mim. Sinto isso cada vez que ele me beija. Sinto isso em cada toque, mas... Ele não diz. Ele não me deixa perceber o que ele quer. Tem algo muito errado.
— Demi, aquela conversa que a gente ouviu dele com o Brandon. Ele... Acha que ele está escondendo algo?
— Com certeza. Eu só não imagino o que possa ser. Estou ficando cansada de esperar sem saber o que esperar, entende? — Perguntei olhando-a. Valentina olhava para Percy completamente alheia.
— Acho que fui uma completa idiota com o Brandon. Ele quer um relacionamento, mas eu tenho fugido disso como o diabo foge da cruz. Eu não sei se...
— Brandon deve estar como eu então. — Falei distraidamente.
— Ai meu Deus. Demi, eu fui horrível com ele. Ele passou a noite aqui e tivemos uma noite maravilhosa, foi um dos melhores orgasmos de sempre e de manhã, depois de me ter feito o café da manhã ele veio com uma conversa de assumir a relação e eu entrei a pânico e fiz com que brigássemos! — Falou atropelando as palavras. Arregalei os olhos e fiz com que ela me olhasse.
— Não foi isso que eu quis dizer Val. Brandon... Brandon deve procurar o mesmo que eu, mas as situações são totalmente diferentes.
— Não são não. Eu fui um Joseph idiota!
— Não foi. — Neguei respirando fundo. — Você não esconde nada de Brandon. Apenas tem medo de se envolver e de se arrepender. Você sempre viveu longe do compromisso e em poucas semanas você conhece Brandon e sua vida dá um giro maior que você. Com Joseph não é assim. Entende? Com vocês é preto no branco sem tirar nem pôr. Não há mas.
— Mas isso não quer dizer que eu não tenha sido uma idiota com ele, porque eu fui Demi. Fui muito idiota. A verdade é que eu acho que está tudo indo rápido de mais e eu só quero acalmar. Não quero me precipitar com Brandon porque eu gosto dele.
— Falou isso para ele? — Perguntei erguendo uma sobrancelha.
— Não. — Falou baixinho. — Acha que vou a tempo de invadir o apartamento dele agora? — Perguntou de repente.
— É quase uma da manhã, mas acho que não tem problema não, afinal, eu invadi o seu. — Falei dando de ombros. Valentina saltou da cama e saltou para o closet. Vi-a escolher uma langerie vermelha e pegar um vestido preto, soltinho da cintura para baixo.
— Ah, não posso ir. — Falou largando as roupas em cima da cama.
— Porque não? — Perguntei já engenhando uma forma de ela ir. Não me perdoaria se fosse responsável pela não resolução entre Brandon e Val.
— Você. — Falou óbvia. — Eu devia ser uma amiga legal e ficar com você esta noite.
— Mas você não é uma amiga legal. — Falei com um sorriso malicioso. Ela entendeu e saltou em cima de mim num abraço apertado. — CUIDADO COM OS DORITOS! ESSA DROGA É PRECIOSA PORRA! — Gritei vendo que ela sentava em cima do meu alimento.
— Desculpa. — Pediu rindo enquanto se apressava a vestir à minha frente mesmo. Vergonha na cara ela não tem. — Você tem certeza que vai ficar bem aqui sozinha?
— Tenho. Eu só não quero voltar para casa hoje. Se eu for discutir com Joseph de novo hoje a coisa corre o risco de terminar de vez. — Disse.
— Ele pode vir procurar por você.
— Hum, não acredito que o faça. Ele pode ser um lesado, mas acho que entendeu a mensagem que eu lhe dei. Eu preciso de espaço e não teria isso se ficasse perto dele. — Expliquei resumidamente. Não queria prendê-la mais ali quando ela tinha assuntos por resolver.
— Certo. Qualquer coisa você me liga, sim?
— Pode deixar. Não vou ligar. — Respondi com um sorriso malicioso. Eu sabia como iria acabar a reconciliação dela.
Assim que Valentina saiu trancando a porta do apartamento, enrosquei-me mais nos lençóis e nas mantas da cama. Coloquei The Vampire Diaries para dar e curti minha fossa. Não me segurei. Eu não sou pessoa de fazer com que os outros corram por mim. Eu sou o tipo de pessoa que corre atrás do que quer, mas em relação a Joseph eu não posso querer sozinha.
Sem me aguentar mais de ansiedade, peguei o celular e o liguei. A verdade é que eu queria que ele viesse atrás de mim. Queria que ele se tocasse e percebesse o que estava fazendo. Queria saber que ele se importava comigo e estava comigo porque gostava nem que fosse um pouquinho de mim. Eu queria que o segredo dele fosse uma ilusão da minha cabeça.
— Demi... Por favor... Volta para casa. Eu estou preocupado com você e... Eu só quero que você volte para que a gente possa conversar. — Ouvi-o dizer na última mensagem deixada na caixa postal. Sua voz estava abatida e eu sabia que ele tinha aquele nó na garganta. Aquele que eu tinha sentido quando cheguei ao apartamento de Valentina. — Não quero te machucar Demi. Só, volta pra mim.
Desliguei a chamada para a caixa postal assim que a mensagem terminou e fechei os olhos encostando a cabeça no travesseiro. Ele implorava para que eu voltasse para casa, mas não tinha feito esforço algum para me impedir de partir. Então eu entendi que ele era o tipo de pessoa que só entendia o que queria depois de perder.
Senti meu celular vibrar e apanhei um susto ao ver o nome dele no visor. Eu não sabia se devia atender ou não. Eu tinha saído de casa para ter um pouco de paz longe dele e mesmo assim eu queria ouvir sua voz. Deslizei a bolinha verde pelo ecrã e levei o celular à orelha.
— Demi, finalmente você atendeu. Onde você está? — Ouvi-o dizer ofegante. Não falei nada, só fechei os olhos. — Demetria, por favor... Volta para casa. — Suspirei e forcei mais os olhos para que as lágrimas não escorressem. — Demi, eu... Eu te amo.

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