Estacionei o carro na minha pequena e adorada
garagem e respirei fundo. Estava à pouco mais que vinte minutos respirando o
mesmo ar que Joseph Jonas e já não o aguentava mais. Como é que alguém conseguia
ser tão mimado e irritante?
— Pelo amor de Deus, cala a boca. — Pedi
deitando a cabeça no volante.
— Você ainda não me disse onde vou arrumar o
meu carro. Eu mal consigo abrir a porta dessa coisa. — Resmungou olhando meu
carro com desdém. Tudo bem. Eu sei que minha garagem não é propriamente
espaçosa, mas o exagero de Joseph é maior que o planeta Terra. Como podiam
ambos caber ali? — Pode me responder? — Perguntou com um ar ofendido. Eu é que
deveria estar ofendida! Tirei o meu rosto amassado do volante e olhei o
protótipo de gente ao meu lado. Joseph estava com um sorriso irónico e eu bufei
explodindo em seguida. Isso mesmo, eu gritei com o desgraçado.
— Olha, você pode colocar o carro no seu... —
Respirei fundo e fechei os olhos. Não terminei a frase e agradeço aos céus por
isso. Eu não era mal educada, eu não gritava e não fazia escandalo nem dentro
de quatro paredes! Não era Joseh que iria mudar isso. Ele podia me tirar
totalmente do sério, mas era o meu trabalho ficar controlada. Em vez de sair
porta fora para não olhar mais na cara dele, olhei incrédula para o idiota parado
à minha frente prendendo o riso e fiquei com mais raiva de mim mesma por ser
tão boa pessoa. Eu era uma santa por estar fazendo este favor a meu pai e
Denise.
— Menina, você tem uma boca muito suja. —
Disse ele soltando uma gargalhada. Fechei os olhos por um segundo e finalmente
saí do carro batendo a porta. Podia sentir que ele me seguia com um sorriso
cínico no rosto e fiquei mais irritada ainda. Saí da garagem e caminhei em
direção à porta de casa, mas antes que pudesse chegar ao curto destino, senti
Joseph segurar meu braço com gentileza. — Você não tem ligação direta da sua
garagem para o interior da casa? — Perguntou sério. Olhei-o assustada e as
palavras sairam antes que as impedisse.
— Você é bipolar? — Joseph riu brevemente e
coçou a nuca. Hum, sexy. O quê?
— Não. Eu não sou.
— Há um minuto você estava rindo da minha
cara e no segundo seguinte você fala como uma pessoa normal. Como pode isso?
— Eu sou uma pessoa normal Demetria.
— Não, você não é. — Neguei. Joseph não
respondeu e eu respirei fundo. Ele tinha feito apenas uma pergunta. Não podia
desmembrá-lo pelos surtos psicóticos dele. Não ainda.
— Tem passagem sim, mas está impedida com
coisas velhas. – Expliquei mais calma, mas sem muita paciência. Eu tinha
trabalhado oito horas e estava cansada. Ter Joseph na minha rotina era algo que
eu ainda não tinha abraçado muito bem.
Vi-o direcionar o olhar ao interior da
garagem e vi sua testa enrugar quase que impercetivelmente. A porta estava lá,
realmente. Praticamente invisível. Mas estava lá. E ele reparou.
— Pode responder à minha pergunta de forma
civilizada agora? — Perguntou voltando a me olhar com um sorriso de deboche.
Revirei os olhos e comecei a procurar as chaves de casa na minha mala que
parecia não ter fundo. O que dizem sobre a mala de uma mulher é verdade.
Podemos encontrar lá qualquer coisa improvável, mas quando a dona precisa de
algo, nunca acha.
— Que pergunta?
— Sobre o meu carro. — Suspirei ainda
revirando a mala e respondi.
— Joseph, você não vai precisar de lugar para
estacionar o carro porque não vai ter carro. — Simplifiquei.
— De que merda você está falando? — Perguntou
com brusquidão. Ignorei o palavrão que saiu da boca dele e sorri por finalmente
encontrar as chaves.
— Os seus pais foram bem explícitos. Isto é
como uma reabilitação pra você. Isso significa: sem coisas que custam mais que
a minha casa. — Expliquei apontando para a minha tímida e pequena habitação. O
quê? Eu não nasci em berço de ouro! Abri a porta e dei espaço para que Joseph
invadisse. Tecnicamente não era uma invasão porque eu tinha permitido, mas
também não era um convite de bom grado!
— Eu vou viver aqui? Nesta... Er, coisa?
Sorri satisfeita pela infelicidade dele e
larguei as chaves na mesa de centro da sala. Eu vivia numa pequena casa. Tinha
a cozinha, a sala, um banheiro o quarto e a garagem. Era pouca coisa, mas
estava em boas condições e modernizado com a minha decoração. E mais importante
que qualquer outra coisa, ela era minha.
Minha família nunca teve muito dinheiro e as
dificuldades sempre existiram aqui e ali. Depois que minha mãe morreu, as
coisas tornaram-se um pouco mais complicadas. Agora não era só a casa e o carro
que eu tinha que bancar. Havia os diabetes do meu pai e a casa dele. É claro
que eu tentei inúmeras vezes fazer com que ele viesse viver comigo, mas o velho
sempre dá a mesma resposta: Eu fui demasiado feliz nesta casa Demi. São
muitas lembranças para se deixar. Mais tarde você vai aprender a dar valor a
uma boa lembrança.
Apesar de tudo, eu estava feliz com o que tinha.
Sempre fui determinada a conseguir o que queria e nunca deixei que alguém me
impedisse de ser feliz. Consegui uma bolsa de estudos para a faculdade e
graduei-me com mérito. Arranjei o trabalho que desejava, comprei o meu carro e a
minha humilde casa. Para completar a minha felicidade, ainda tem Travis, meu
namorado há quase dois anos. Eu sou motivo de orgulho para meu pai, amigos e
restantes familiares e tenho tudo o que preciso. Eu sou feliz.
— Esta coisa, é a minha humilde casa. — Disse
um pouco ofendida. — E sim, você vai viver aqui. Felizmente é algo temporário.
— Respondi enquanto tirava o casaco. Joseph estava parado na entrada de casa e
estava com os olhos arregalados. Eu adoro apresentar a realidade para as
pessoas.
— Onde eu vou dormir? — Perguntou assustado.
— Ali. — Apontei para o sofá.
— Você está de brincadeira comigo né?
— Não estou não. — Neguei satisfeita. — Só
tem um quarto e uma cama nesta casa, que são meus. Você espera que eu dê a minha
cama a você e durma no sofá? — Perguntei. Não esperei ele responder e
continuei. — Não vai acontecer. Você tem o sofá ou o chão. É você que sabe onde
se adapta melhor. — Eu adorava a expressão horrorizada dele. Eu podia até ficar
com pena se fosse qualquer outra pessoa, mas é de Joseph Jonas que estamos
falando.
— Tudo bem. Eu... Eu me resolvo com o sofá.
Posso lidar com isso. — Respondeu tentando parecer confiante.
— Ótimo. — Concordei satisfeita e caminhei
até à cozinha sendo seguida por ele. — Agora vamos ser claros sobre umas coisas.
— Disse lavando as mãos na pia.
— Tem regras? — Perguntou olhando ao redor.
— Obviamente! — Respondi agora secando-as. —
Primeira regra de todas: não quero nenhuma das suas peguetes na minha casa. Sem
sexo, sem saídas à noite e sem festas. — Abri o frigorifico estilo americano e
tirei uma taça com carne que tinha deixado a descongelar. Pousei-a na bancada
da ilha e peguei uma faca da gaveta.
— É apenas isso? — Perguntou esperançoso. Ri da
cara dele e neguei começando a cortar a carne.
— As tarefas vão ser repartidas.
— Tarefas? — Perguntou confuso.
— Cozinhar, limpar, etc. — Nomeei. — Por
exemplo, hoje eu faço o jantar e você pode pôr a mesa e lavar a loiça.
— Tudo bem. — Concordou. — Eu não sei fazer
isso. — Disse por fim. Ri novamente e peguei o alho e as folhas de louro.
— Você não está aqui para passar férias
Joseph. Você teve férias a vida toda. Está na hora de você sobreviver. Se não
sabe fazer, aprende. Eu te ajudo nisso. — Expliquei vendo-o bufar.
— Eu vou odiar isso não vou?
— Provavelmente. — Disse dando de ombros.
— Tem mais regras? — Assenti positivamente e peguei
numa garrafa de vinho verde.
— De manhã você usa o banheiro depois de mim.
— Por quê? — Perguntou confuso.
— Alguém precisa ir trabalhar de manhã. Você
deve demorar milênios para se arrumar.
— Um gato como eu precisa demorar a se
arrumar. Como você acha que as minas piram? — Olhei-o sem achar piada alguma e
ele logo sumiu com o sorriso malicioso. — Certo. — Concordou prontamente.
Joseph estava calmo e estava aceitando as regras sem qualquer oposição. Eu
estava ficando boa naquilo!
— A tampa do vaso sempre pra baixo.
— Ok.
— Nada de andar de cueca pela casa.
— Entendi.
— Sem pés em cima da mesa de centro.
— Claro.
— Por último e muito importante, sem
confusões com o Travis.
— Esse é o cachorro? Cadê? — Perguntou com os
olhos brilhando. Ele gostava de cães? Olhei para ele com uma expressão curiosa
e só depois percebi que ele chamava o meu namorado de cachorro. Peguei uma maçã
e atirei na cabeça dele.
— Ai! Está maluca? — Perguntou queixoso.
— Você ainda não me viu maluca, Joseph Jonas!
Teve sorte de ter sido uma maçã e não a faca! — Respondi exaltada enquanto
apontava a faca na cara dele. Joseph esbugalhou os olhos assustado e eu sorri
diabólicamente.
— O que eu disse de errado para merecer essa?
— Idiota! Travis é meu namorado, não um
cachorro.
— Oh. — Exclamou rindo. — Desculpa. Não
sabia. — Disse ainda rindo. Apanhei a maçã do chão espetei a faca nela, o que o
fez parar de rir e ficar sério de novo. Em seguida virei-lhe as costas e abri a
porta dos armários à procura de pimenta. Eu poderia matá-lo sem ele nem
imaginar. — Porque é que eu iria arrumar confusão com ele? — Não respondi. Não era
necessário. A verdade é que eu estava com medo. Travis pode ser bem
esquentadinho e Joseph não ajuda com as provocações perversas e obscenas. — Seu
namorado aceita que você partilhe a casa com outro homem que não seja ele? — Mais
uma vez não respondi e desta vez Joseph entendeu. — Eu não acredito! — Exclamou
incrédulo.
— O quê? — Perguntei olhando-o.
— Ele não sabe. — Suspirei cansada e assenti.
Joseph riu e eu bati nele com pouca força.
— Por favor, pare. — Pedi fazendo uma careta
ao vê-lo parar de rir.
— Só espero que ele não seja burro. — Disse
agora sério.
— Burro? O que isso tem haver? — Acho que a
burra ali era eu por não entender nada.
— Pensa em mim como uma bomba-relógio depois
de ativada. Eu já explodi algumas vezes Demetria. — Disse dando um meio
sorriso. Olhei-o atenta e franzi a testa confusa.
— Você quer dizer que se envolveu em brigas?
— Perguntei querendo saber mais. Era aquilo que ele estava querendo dizer?
Joseph ficou mudo e eu percebi que ele não
queria falar sobre o assunto. Voltei a pegar as coisas para fazer o jantar e
concentrei-me nisso. Não adiantava começar algo que eu provavelmente não ia
entender. Além disso, o que Joseph pode saber sobre a realidade? Ele não a
viveu.
— Já que vou ter que viver aqui e não posso
usar o meu carro, o que acha de me apresentar a cidade desconhecida? — Propôs
Joseph quebrando o silêncio que se fez. Fiz uma careta com aquela ideia. Estava
cansada de mais para fazer tudo hoje.
— Esta é a sua cidade Joseph. — Disse ligando
o forno.
— Mas eu não conheço nada por aqui. — Olhei-o
quando disse aquilo e vi-o ajeitar um pedaço de cabelo que caíu sobre sua
testa. Já fazia mais de cinco minutos que eu não agredia ou xingava Joseph.
Talvez não fosse tão mau assim tê-lo temporariamente na minha vida.
— Você não conhece nada por aqui porque vive
preso no seu mundo rico, com amigos ricos e pais ricos. Eu não. Bem vindo ao
meu mundo Joseph. — Disse com um meio sorriso. — Lamento, mas vou ter que
recusar a proposta hoje. Trabalhei o dia todo e estou morrendo de cansaço.
Prometo levar você comigo amanhã. Fica a conhecer tudo o que precisa.
Joseph assentiu sem questionar e em seguida foi
pegar a mala que tinha trazido. Terminei o que estava fazendo e peguei um copo
de água enquanto olhava a rua pela janela. Eu ainda não tinha falado com Travis
desde ontem e estava desesperada para que ele conseguisse entender que Joseph
era apenas um amigo. Nem sei se podia considerá-lo amigo, afinal, eu estava
fazendo um favor a Anabeth e não a ele. Ou seria?
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— Você não é tão irritante como eu pensei. —
Disse olhando o laptop em meu colo enquanto Joseph via um filme de ação na tv.
— As pessoas não me conhecem e você também
não. — Disse Joseph de uma forma meio sinistra. Tudo bem, eu sei que não
conheço o garoto a cem por cento, mas se ele é uma pessoa legal por que não
mostra sê-lo? Ele prefere ser conhecido como idiota, irritante ou mimado? — Eu
posso surpreender.
— Hum, acho que você pode provar isso aos
poucos. — Dito isso levantei do sofá e guardei o laptop na bolsa em cima da
mesa de centro.
— Já vai dormir? — Perguntou me olhando.
— Vou. Estou cansada e amanhã é dia de trabalho.
— Disse fazendo um coque desajeitado. — Boa noite. — Dei as costas e caminhei
em direção ao quarto.
— Espere! — Pediu. Parei e virei-me para encará-lo
à espera que continuasse. — O seu namorado, o Travis, — Começou me deixando
confusa. — qual é o sobrenome dele?
— Porque quer saber? — Perguntei curiosa em
saber de onde veio esse o repentino interesse dele no meu namorado.
— Apenas curiosidade. — Disse com um sorriso
forçado.
— Você sorriu forçado. Tem algo errado?
— Não, nada. Eu só queria saber. — Olhei-o
desconfiada e vi que ele olhava para qualquer lugar menos para mim.
— Queen. — Respondi despertando a atenção
dele de novo.
— O quê? — Perguntou mordendo o lábio
inferior.
— Travis Queen. Esse é o meu namorado. —
Respondi ainda desconfiada. Ou eu estava dopada pelo sono que me atingira, ou
Joseph estava extremamente anormal.
— Oh. Obrigada. Pode ir. Boa noite. — Disse
com um sorriso inocente.
Encarei-o por mais meio minuto e em seguida
entrei no quarto. Ainda estava confusa com este Joseph calmo e normal, mas a
verdade é que eu tinha mais em que pensar. Dizer ao Travis que estou partilhando
a casa com outro homem não vai ser algo fácil de dizer, nem de aceitar. A minha
missão é encontrar uma forma de tornar tudo isto menos catastrófico. Eu conheço
o meu namorado. Ele vai querer pular no pescoço de Joseph na primeira
oportunidade. Isso me lembra uma bomba-relógio. Assim como Joseph tinha dito
que era. Merda!
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