Travei o carro quando o sinal ficou vermelho e encarei
Joseph que implicava com o rádio. Dei-lhe um tapa na mão e coloquei na estação
de rádio que ele queria.
— Eu não percebo essa sua implicância com o
meu carro. — Falei impaciente.
— E eu não sei como você aguenta essa lata. Você não
tem medo que ele exploda? — Perguntou. Revirei os olhos e batuquei o volante.
— Não tem porque explodir. Eu cuido bem dele. E além
disso, este foi o meu primeiro carro. Eu consegui-o com muito suor Joseph. É
uma conquista para qualquer adolescente.
— Você precisa de um carro novo. — Insistiu ignorando
as minhas palavras de orgulho em relação ao bicho.
— Não, eu preciso é almoçar. — Falei arrancando em
direção à casa do meu pai.
Almoço de família em pleno domingo. Isso me
lembrou de que fazia hoje uma semana que eu tinha em posse o Jonas mais
cobiçado pela minha amiga Valentina. E também me mostrou que o tempo voava.
— Desculpa. — Ouvi Joseph dizer pela terceira vez
desde que se levantou do meu sofá. Eu sabia qual era o motivo. Ele nunca me
olhava na cara quando mencionava o acontecimento da noite anterior.
— De novo? — Perguntei rindo. — Aquilo já passou.
Devia ter gravado e postado no youtube! O seu grito de menina foi hilário. —
Debochei tentando aliviar a tensão que se formava.
— Você adora se divertir ás minhas custas! — Resmungou
cruzando os braços. — E eu não tenho grito de menina.
Ri novamente. Desta vez da forma como ele amuava.
Parecia uma criança infeliz por lhe terem roubado o brinquedo favorito. Não era
muito comum no Jonas, mas também não era algo que me incomodava.
— Você é muito mimado Joseph. — Falei num tom
divertido.
— Eu sei. — Admitiu. — E também sei que você ainda não
me contou o motivo por ter chegado tão cedo ontem. — Disse mudando de assunto.
— Precisa haver um motivo? — Perguntei fazendo uma
careta.
— Demetria, eu preparei seis filmes para me manter
acordado durante a noite enquanto você não chegasse e você chegou ao fim do
primeiro. Como espera que eu acredite que não houve um motivo?
— Você ia me esperar acordado? — Perguntei surpresa.
Olhei-o rapidamente e vi-o numa tentativa falha de disfarçar.
— Qual é a surpresa? — Perguntou sério. Ia responder,
mas ele adiantou-se. — Não mude de assunto. Eu quero saber por que chegou tão
cedo.
— Se eu chegasse tarde ia fazer perguntas também? —
Perguntei estacionando o carro à frente da casa do meu pai. Havia outro carro
estacionado ao lado do meu e imediatamente reconheci como sendo
da família Jonas. Fiquei satisfeita por Joseph não ter notado.
— Provavelmente. — Respondeu enquanto me encarava. —
Vai me contar o que houve? — Perguntou novamente. Eu não queria contar e também
não queria me lembrar de como tinha sido idiota. Fugir era a melhor solução.
— Chegámos! — Falei com um sorriso forçado.
Saí do carro e puxei Zeus comigo. Joseph seguiu-me,
mas travou ao ver o carro preto de seus pais. Merda!
— Você os convidou Demetria? — Perguntou irritado.
— Eu...
— Demi! — Ouvi meu pai chamar atrás de mim. Sorri por
ter sido salva, mas estremeci ao ver o olhar de raiva que Joseph me lançava. —
Que bom te ver. — Falou me abraçando.
— É bom te ver também pai. — Falei com um sorriso. Ele
estava alegre hoje e eu fiquei satisfeita por isso.
— Como está Joseph? — Perguntou estendendo uma mão
para cumprimentá-lo.
— Bem Sr. Lovato, obrigado. — Cumprimentou educado.
— Venham, vamos almoçar. — Falou meu pai animado.
Adiantei-me a entrar na casa com Zeus no colo e
percebi que o almoço seria ao ar livre. Dirigi-me à parte traseira da casa e
soltei Zeus que imediatamente se entreteve a explorar o jardim. Avistei Robert
e Anabeth Jonas e sorri forçadamente quando a vi levantar da cadeira onde
estava e caminhar até mim.
— Que bom ver você querida! — Exclamou me apertando em
seus braços finos. Retribui o abraço, mas senti-me sufocar por breves segundos.
— Er, obrigado. — Agradeci sem saber realmente o
porquê.
— Demetria! — Ouvi Robert chamar. Sorri e abracei-o.
Fazia um bom tempo que eu não o via. — Como você está crescida. Creio que ainda
não tive a oportunidade de agradecê-la pelo que está fazendo por Joseph. Você
não imagina o quanto isto é importante para ele...
— Ela não precisa. — Ouvi Joseph dizer com arrogância.
Ele estava uma fera comigo. Esse almoço ia ser indigesto.
-----
Robert apreciava a refeição com a sua habitual
mordomia enquanto Anabeth apenas revirava a comida em seu prato. Joseph
bebericava o vinho em silêncio e meu pai tentava puxar um assunto que não desse
em conflito familiar. Já eu apenas observava a cena à minha frente enquanto
oferecia minha comida a Zeus que se lambuzava, satisfeito como um rei.
— Então Demi, soube que está de férias. — É pai, eu te
falei. — Fiquei surpreso. Você diz que nunca consegue férias com sua chefe.
Aconteceu alguma coisa? — Merda! Não fale Joseph!
— Eu fodi Sarah na sala de cópias lá da empresa. —
Revelou descontraído. — Sarah é a chefe de Demetria.
Olhei-o completamente atónita, Anabeth engasgou, Robert
abanou a cabeça em sinal de desilusão e meu pai riu, achando a maior graça do
mundo. Não sabia o que era mais nojento, o fato dele ter usado a palavra “foda”
ou de ter sido Sarah quem ele... Transou.
— Você não tem vergonha na cara? — Gritou Anabeth
claramente nervosa.
— Eu te falei Anabeth. Eu te falei que não seria o
suficiente. Esse garoto devia estar num reformatório militar! — Exclamou Robert.
Joseph riu e eu tapei o rosto com as mãos. A merda estava feita!
— Agora sou um criminoso? — Perguntou divertido. — E
vocês ainda não sabem que estuprei Demetria lá em casa! — Olhei-o com raiva e
vi os olhos de Anabeth em mim. Meu pai riu ainda mais.
— Não é verdade senhora Jonas. Ele está inventando. —
Expliquei.
— Mas não inventei quando disse que o seu namorado era
um babaca. — Falou. Ah não. Ele não faria. Meu pai parou de achar graça e
olhou-me confuso. Porra!
— Do que ele está falando Demi? Porque Travis é um
babaca?
— Não é...
— Ela não lhe falou? — Perguntou Joseph me
interrompendo. — Travis traiu-a com outra garota. Demi ganhou um novo par de
chifres. Se é que me entendem.
Senti a palma de minha mão direita doer e senti meus
olhos arderem. A face esquerda de Joseph tornava-se vermelha enquanto os
segundos em silêncio passavam. Eu não acreditava que ele estava sendo idiota a
este ponto. Não percebia a necessidade que ele tinha de me humilhar em frente a
meu pai e não percebia a necessidade que ele tinha de se envergonhar à frente
de seus pais. Senti o olhar dele em mim e limpei as lágrimas de raiva que
escorriam por meu rosto.
— Vou ao banheiro. — Falei andando até ao interior da
casa.
Subi ao primeiro andar e fechei a porta depois de
entrar no banheiro. Abri a água e molhei meu rosto enquanto tentava controlar a
respiração ofegante. Não entendia o porquê da mudança de atitude de Joseph e
não entendia o porquê dele ter sido um completo idiota comigo. Eu
realmente pensei que ele estivesse mudando. Realmente achei que valia a pena
dar-lhe uma chance. Agora vejo que não vale o esforço.
— Demetria! — Ignorei a voz que me chamava e molhei
novamente o rosto. Fechei a água e estendi a mão para pegar a toalha branca
pendurada ao lado da pia. Antes que pudesse fazê-lo a porta abriu-se e Joseph
entrou, fechando a porta atrás dele.
— Que merda você está fazendo aqui? Cansou de me fazer
passar por ridícula Cansou de me humilhar? — Perguntei nervosa.
Não obtive resposta. Num segundo ele olhava-me com os
olhos brilhantes e arrependidos e no segundo seguinte sentia seus lábios
pressionados nos meus. Esmurrei seu peito e tentei afastá-lo, mas isso só fez
com que ele me pressionasse contra a pia e apertasse mais seus lábios nos meus.
Eu podia tê-lo parado de alguma forma, podia ter fugido ou apenas ter-me
distanciado, mas já fazia alguns dias que eu tinha começado a duvidar da minha
sanidade.
Retribui o beijo e esqueci o mundo por meros segundos.
Senti suas grandes mãos apertarem-me contra ele e segurei sua nuca com firmeza,
puxando-o mais para mim. Era insano, mas extremamente viciante. E saboroso.
Senti sua língua invadir minha boca e tentei ao máximo acompanhar seu
ritmo enquanto tudo se intensificava. O beijo que ele me dera no dia dos
namorados não era nada comparado à fome que eu sentia de seus lábios neste
momento. Entrelacei meus dedos em seu cabelo e senti-o morder meu lábio
inferior ao mesmo tempo em que suas mãos deslizavam para meu traseiro e me
levantavam para ele.
Rodeei sua cintura com minhas pernas e soltei um baixo
gemido quando o senti morder meu lábio inferior. Eu não sabia o que estava
fazendo, mas podia ficar ali para sempre. Senti as mãos de Joseph acariciando
as minhas costas por baixo do tecido fino da camisa e suspirei ao senti-lo
beijar meu pescoço. Arfei ao sentir sua língua em minha pele e me
assustei ao ouvir vozes no piso inferior. Isso bastou para que eu acordasse do
transe em que me encontrava e me afastasse o suficiente para voltar a respirar.
Sua respiração estava ofegante e seus lábios estavam
vermelhos, provavelmente não muito diferente de mim. Suas mãos ainda tocavam
minha pele e percebi que ele ainda me segurava de forma possessiva, mas tudo o
que eu conseguia olhar eram seus olhos castanhos. Mordi o lábio inferior e
percebi que ele me soltava vagarosamente, fazendo-me deslizar por seu corpo.
Estremeci ao sentir o chão debaixo dos meus pés e dei-me por satisfeita ao ver
que ele me mantinha junto a ele, não me deixando cair que nem uma idiota. Se
ele me largasse eu não levantaria mais.
— Você disse que não faria mais isso. — Sussurrei
encarando seu peito. Vi-o sorrir e senti seus braços me rodearem.
— Eu nunca te beijei desse jeito. Tecnicamente não
falhei. — Retrucou. Teoricamente ele estava certo. Este não tinha sido o beijo
delicado e carinhoso que ele me dera na primeira vez. Este tinha sido selvagem
e tinha-me deixado em brasa. Não que o deixasse notar isso.
— Eu não te entendo Joseph. Eu juro que tento, mas não
consigo te entender.
— Se eu te pedir tempo, você entende? — Perguntou
afagando meus cabelos enquanto me puxava contra o seu peitoral.
— Se me explicar o que aconteceu lá em baixo. —
Concordei. Abracei-o mais apertado e ouvi-o suspirar. — Porque me tratou
daquele jeito?
— Porque você chamou os meus pais. Eu não queria vê-los.
— Eu não os chamei Joseph. — Falei.
— Então parece que fui idiota mais uma vez. — Disse. —
E que te devo um pedido de desculpas.
— Faça.
— O quê?
— Peça desculpas. — Pedi escondendo o sorriso. Ele
hesitou por uns segundos.
— Desculpe pequena. — Ouvi-o dizer. Podia sentir que
ele sorria e afastei-me para encará-lo.
— Está desculpado. — Disse brincando com o primeiro
botão de sua camisa.
— De verdade? — Perguntou me puxando para um selinho.
— De verdade. — Concordei desnorteada.
— Ótimo. — Disse sorridente.
— Porque você se esforça para parecer tão... Rebelde,
na frente dos seus pais? — Perguntei ao lembrar-me do rancor que ele exalava
quando estava perto deles.
— Tempo. — Sussurrou.
Concordei e desta vez fui eu quem tomou a iniciativa
de puxá-lo para um beijo. Eu não sabia qual era o verdadeiro problema dele, mas
sei que descobriria mais tarde ou mais cedo. Sabia que ele ia falar no seu
tempo. Isso eu podia entender.
— Porque razão eu continuo te beijando? — Perguntei
sorrindo quando nos separámos.
— Eu não sei. Sou um garoto mimado lembra? — Falou
divertido. Concordei e vi-o sorrir. — Eu sei que isto não deve ser nada, mas a
vontade existe e você também sabe disso. Eu estou solteiro. Não tem porque
evitar.
— Sim, eu entendo. — Concordei sem ter a certeza. — Eu
acho. Mas você evitou antes. — Lembrei confusa.
— Quer saber que tipo de pensamentos pecaminosos
passaram pela minha mente quando vi você em lingerie na noite passada? —
Perguntou com um sorriso malicioso. Ponderei em responder e neguei.
— Não. Pode guardar só para você. — Falei fazendo-o
rir.
— Demetria! — Ouvi meu pai chamar. Olhei para Joseph
assustada e vi-o sorrir.
— Ele sabe que eu estou aqui com você. — E porque isso
não me fazia relaxar?
Saí do banheiro com Joseph no meu alcance e desci as
escadas em direção à sala de estar. Vi meu pai com Zeus no colo e sorri
envergonhada quando ele nos viu juntos e sorriu.
— Vejo que se acertaram. Muito bem Joseph. — Falou
satisfeito. Olhei Joseph desconfiada e vi-o dar de ombros. Ali havia coisa. —
Bom, eu sei que você tem algumas coisas para me explicar Demi, mas pode falar
quando bem entender. Sei que agora não é a melhor altura. Falando em surpresas,
eu adorei o seu cachorro, mas ele é seu por isso pegue. — Ri com o latir de
Zeus quando saiu do colo de meu pai e segurei-o junto ao peito enquanto lhe
acariciava atrás das orelhas. — A sobremesa está na mesa garotos. Não demorem.
— Falou saindo para o jardim. Pretendia segui-lo, mas fui impedida por Joseph.
— Espera Demi. — Virei-me para encará-lo e esperei que
continuasse. — Mais tarde vamos falar né? Sobre... Isto. — Disse apontando para
nós dois.
— Claro Joseph. Mas tudo o que eu quero agora é a
ótima sobremesa do meu pai. Desta vez sem conflitos, tudo bem?
— Certo. — Falou sorridente.
Sorri satisfeita e dirigi-me ao jardim. A boa
disposição parecia ter voltado, exceto Robert que se encontrava demasiado
absorto do que se passava à sua volta. Joseph não causou mais problemas pelo
resto do almoço e o frenesim em minha coxa começou a partir do momento em que
ele a tocou. Gestos com segundas intenções à parte, o resto da refeição até
correu bastante bem. Meu pai trocava olhares conspiratórios com Joseph a cada
dez minutos e fiquei com a certeza de que ali havia algo. Algo além da minha
capacidade de compreensão.
Sem comentários:
Enviar um comentário