29/01/2015

Inocente Demetria - 15º Capítulo


Aeroporto, Florença, IT

— O que você compraria para uma criança? — Perguntou Joseph parado de braços cruzados, com uma cara de emburrado, olhando para uma estante de bonecas de uma loja de conveniência.
— Para que você quer um presente de criança? — Perguntou com uma sobrancelha erguida. Joseph suspirou e olhou-a, quase implorando por ajuda. — Tudo bem, não precisa me contar. — Disse se aproximando dele e colocando uma mão em seu ombro. — Como ela é?
— Uma criança. — Disse óbvio, fazendo Demetria revirar os olhos.

— É menino, menina, idade, do que gosta, essas coisas! — Exclamou divertida.
— É uma menina. E eu não sei do que ela gosta. — Mentiu. Demetria não podia saber de Elizabeth e qualquer passo em falso ela saberia. Demetria era inteligente e não era dificil juntar as peças do puzzle.
— Assim complica. — Disse rindo. Joseph sorriu ao ver Demetria rindo e voltou a olhar a estante que lhe parecia ser cor de rosa de mais. — Sabe a idade dela?
— Tem seis anos. — Respondeu prontamente.
— Como ela é fisicamente?
— Assim. — Disse tirando uma foto de Elizabeth da carteira e entregando a Demetria.
Na foto, Elizabeth brincava no baloiço do enorme jardim de Jason, na mansão que seria de Demetria muito em breve. Ela ria de olhos fechados devido a alguma piada de Jason e os cabelos esvoaçavam ao vento. Era a foto preferida de Joseph e ele levava-a com ele pra qualquer lugar. Observando a reação de Demetria, Joseph viu os olhos dela brilharem enquanto acariciava a foto como se acariciasse a própria Elizabeth. Ela não podia saber quem ela era, mas podia saber como ela era.
— É linda. — Sussurrou Demetria encantada. — Tenho a certeza que é uma autêntica princezinha._Disse agora olhando-o nos olhos sem deixar de sorrir. Joseph sentiu-se aquecido por dentro e pensamentos loucos passaram por sua mente. Não impróprios, mas loucos.
— E é. — Concordou Joseph. — Pode me ajudar? — Demetria suspirou e assentiu.
— Não sabe mesmo do que ela gosta? — Insistiu tentando achar algo que a pudesse ajudar.
— Ela gosta de arte. — Disse Joseph por fim.
— Podia ter poupado nosso tempo. — Disse arrastando Joseph pra fora da loja e pra fora do aeroporto.
— Não podemos sair daqui Demetria! Nosso voo parte daqui a uma hora e meia. Sim, porque você quis viajar num voo comercial e agora temos uma hora marcada. — Resmungou acompanhando o passo dela. Demetria parou e olhou-o divertida.
— Será que você consegue normal por um minuto? — Perguntou.
— Acredite querida, jatos particulares são o meu normal. — Respondeu sorrindo.
— Pois então vai ter o meu normal desta vez. Lide com isso. — Disse apontando o dedo contra a testa dele, puxando-o novamente em seguida. — E vamos logo senão não apanhamos o homem lá.
— Que homem? — Perguntou assustado, fazendo-a parar no mesmo instante. Ela era louca?
— Vamos logo, depois você vê. — Disse arrastando-o de novo.
— Tudo bem. Pode devolver a fotografia ao menos? Preciso dela. — Resmungou.
— Eu também. Agora cala a boca e vem comigo.
Joseph olhou-a indignado e depois gargalhou. Era Demetria Lovato e isso bastava. Ao ver que ela ainda segurava sua mão distraidamente, Joseph sorriu e acariciou a pele clara e macia. Amigos era o que ele tinha proposto serem e até aquele momento estava funcionando muito bem. Demetria não parecia sentir nada por ele além de amizade e foi por isso que ela concordou rapidamente em que ficassem daquele jeito, conhecendo-se aos poucos. Ele pelo contrário sentia que ficaria louco. O desejo que sentia por Demetria era forte e ele sabia que teria que aprender a lidar com isso. Joseph queria se envolver com ela, queria-a numa cama completamente nua sobre lençóis de cetim, queria sentir o corpo dela sob o seu e queria fazê-la dele até à exaustão. Desejava-a e queria tê-la nos braços, mas sabia que seria uma noite de sexo e nada mais. Não podia se envolver num relacionamento com ela e também não podia ser tão egoísta assim. Não com ela. Sabia que ia continuar a ajudá-la em tudo o que precisasse e sabia que ela agora confiava mais nele, assim como ele confiava mais nela.
Quando Demetria chegou a uma praça do outro lado da rua, soltou a mão de Joseph e virou-se pra ele rapidamente, deixando-o surpreso.
— Compra um capuccino pra mim? — Pediu sorrindo.
— O quê? Você quer um capuccino antes de viajar? — Perguntou incrédulo.
— Sim. — Confirmou sorrindo.
— Você vai enjoar como na outra vez. — Avisou divertido.
— Não vou não.
— Então vem comigo. Não vai ficar aqui sozinha. Tem louco por tudo que é canto.
— Não, você vai. — Ordenou empurrando-o.
— Demetria... — Começou com o tom ameaçador que ela tanto odiava.
— Não comece. Esta praça está cheia de gente boa. Você que me pediu ajuda com o presente para a princezinha da foto. Estou tratando disso! Agora vai logo que estamos perdendo tempo! — Disse encarando-o emburrada.
— Se algo acontecer dá um berro. — Ordenou apontando o dedo na cara dela.
— Ta bom senhor proteção. Agora vai logo e me espera lá mesmo. Vai bebendo se eu demorar.
Joseph não disse nada, olhou-a confuso, mas mesmo assim seguiu caminho em direção à cafetaria do outro lado da praça, deixando Demetria sozinha.
Assim que se viu sozinha, Demetria andou rapidamente em direção a uma das ruelas e encontrou um senhor de idade numa esquina. O homem usava uma boina preta, como um tipico italiano usaria, e óculos pequenos em formato de meia lua. As roupas simples davam-lhe um ar rustico, mas o sorriso no rosto dele mostrava o quão era simpático. Demetria aproximou-se devagar, tentando não encostar nas muitas telas à volta de onde o homem estava sentado e despertou a atenção dele que preparava diferentes lápis de carvão.
— Buongiorno. — Cumprimentou com um sorriso. Seu italiano não era o melhor do mundo, mas ela faria o que pudesse para ter um retrato daquela garotinha nas mãos. — Sarai in grado di fare un ritratto di questa ragazza? — Mostrando a fotografia ao homem de idade, viu-o sorrir ao ver a beleza da pequena na foto. Será que ele conseguia fazer um retrato a partir daquela foto?
— Si. — Confirmou sorrindo enquanto pousava a foto perto da tela de desenho e começava a desenhar os contornos principais. — Miss è affrettata? — Apressada seria pouco para Demetria. Sabia que não podia enrolar Joseph por muito tempo, mas queria que ele apenas visse o resultado já no final.
— Si, un poco. — Confirmou observando os quadros à sua volta.
O homem desenhava perfeitamente bem e não desenhava só aquilo que as pessoas lhe pediam. Ele desenhava o que via à sua frente. Tinham quadros de casais apaixonados caminhando de mãos dadas, tinham quadros de casais bebendo café ou simplesmente se abraçando. Todos retratavam o amor de jovens casais e Demetria sorriu ao ver que aquele homem vivia para retratar o amor juvenil. Demetria analisou cada um dos quadros e reparou que alguns estavam inacabados. Corpos a meio, pessoas sem rosto e até bancos solitários. A curiosidade invadiu-a e acabou por perguntar.
— Perché le foto così tanti incompiuto?
— La gente vive troppo in fretta. Non si può disegnare qualcosa che non si ha il tempo di vedere allegramente.
Ele tinha razão em cada palavra. As pessoas viviam rápido de mais sim. Não tinham tempo de aproveitar aquilo que têm. Era impossível desenhar algo que não se apreciou. Ela entendia essas palavras. Quando Demetria desviou o olhar por uns segundos para  observar o retrato da princezinha que a encantara, foi impossível não sorrir. Estava ficando perfeito. Os contornos bem delineados e os olhos bem destacados no meio de toda a beleza. Parecia ainda mais bonito que a fotografia original. Depois de apreciar o retrato que o homem fazia, Demetria voltou a encarar os quadros à sua volta e quando olhou perto do pequeno banco em que o homem estava sentado, quase caiu ali mesmo. O homem tinha feito um retrato dela e de Joseph, apenas a alguns minutos atrás.
— Bellissimo ritratto, no? — Perguntou sorrindo. Demetria concordou, estava realmente belo. O dia apenas amanhecera à duas horas e o sol ainda estava baixo, deixando assim os olhos de ambos bastante brilhantes. O cabelo de Joseph estava destacado e os contornos de seu corpo mostravam o quão forte era. Já ela, parecia pequena ao seu lado. Indefesa e ao mesmo tempo protegida. Tinha sido apenas uma conversa, mas naquele quadro parecia muito mais. — Si tratta di puro amore. So riconoscere quando la vedo.
Puro amor. Isso não existia. Demetria sabia disso e desta vez não concordava com o que o homem dizia. Ela não era apaixonada por Josephe. Gostava dele, sim, mas estava longe de estar apaixonada. O mesmo acontecia em relação a ele. Era atração física e nada mais.
Mas por algum motivo que desconhecia Demetria não queria deixar aquele retrato ali, na rua à espera que alguém o comprásse. Não, ela precissava dele consigo. Uma lembrança.
— Quanto costa? — Perguntou tirando a carteira da mala depois de apontar para o retrato no chão. Viu que o homem a olhava sorrindo e esperou pela resposta que estava demorando a vir.
— Ecco, prendi. — Disse entregando-o a Demetria. Ela não podia aceitar algo sem pagar. Não algo que dá todo aquele trabalho. Tentou explicar que não queria levar o retrato sem pagar, mas o senhor insistia. — Un regalo di Firenze. — Demetria acabou por aceitar e sorriu encantada ao ter o quadro nas mãos. Era verdadeiramente um presente de Florença. Tudo aquilo estava sendo um presente, e ao mesmo tempo uma loucura na sua vida.
Depois do retrato ter ficado pronto, Demetria pagou pelo serviço rápido e agradeceu pelos quadros enquanto os protegia com um pano branco e fino, colocando ambos os quadros dentro de um saco grande de papel. Em seguida, correu desajeitadamente de volta à praça com a fotografia na mão e encontrou Joseph sentado num banco com uma cara nada boa.
— Aqui, a fotografia da princezinha. — Disse entregando-a a Joseph e pegando o capuccino de sua mão, ignorando totalmente o fato de ele estar vermelho de raiva e bufando de irritação. — Obrigado pelo capuccino. E não me mate. A demora foi necessária, mas ficou perfeito._Disse com os olhos brilhando. — Agora vamos voltar para o aeroporto ou perdemos o voo.
E sem dar tempo de resposta, agarrou na mão de Joseph e arrastou-o consigo em direção ao aeroporto, quase fazendo com que ambos fossem atropelados. Quando chegaram ao avião, entraram rapidamente na seção de primeira classe e sentaram-se um de frente para o outro, exatamente como tinha sido no jato particular. Demetria pousou o saco com os quadros no assento ao lado e reparou em duas mulheres bonitas, bem vestidas e claramente com os olhos postos em Joseph. Felizmente ele estava demasiado ocupado com o cinto de segurança para notar e isso poupou um constrangimento.
— Você é louca. — Disse Joseph incrédulo depois de prender os cintos. Ainda estava ofegante da correria que teve com Demetria e ainda não acreditava que ele, um magnata famoso dos Estados Unidos, tinha corrido uma quase maratora em plena Florença.
— Fala o tarado que invadia o meu quarto todas as noites. — Rebateu fazendo as mulheres levantarem-se assustadas e mudarem para o outro lado do compartimento do avião.
— Não foi todas as noites._Esclareceu fazendo-a sorrir divertida. — E eu não sou tarado!
— Eu sei. — Disse simplesmente.
— Vai me deixar ver o presente? — Perguntou apontando para os quadros dentro do saco.
— Depois você vê em casa, está protegido e se tirar o pano, pode estragar até chegarmos. — Explicou vendo-o assentir satisfeito.
— São dois quadros, não devia ser só um? — Perguntou fazendo as mãos de Demetria tremerem.
— Sim. Comprei um quadro pra mim. É um pôr do sol de Florença. Achei-o bonito e resolvi trazer uma lembrança. — Desde quando mentia tão credivelmente?
— Fez bem então. — Disse sorrindo.
Depois disso o assunto de conversa mudou para trabalho e Joseph esqueceu-se completamente do saco ao lado de Demetria. Ela não queria que ele soubesse do retrato. Não sabia qual seria a reação dele e era por isso que o queria guardar apenas pra si mesma.

Aeroporto, Dallas, TX

Joseph andou até ao estacionamento do aeroporto e ao seu lado ia Demetria. Havia um carro diferente para cada um deles e Demetria respirou fundo quando chegaram perto deles. Será que tudo ia mudar novamente? Será que Joseph ia voltar a ter a mesma atitude de antes? Ela não sabia e a dúvida ficou em sua cabeça.
— O que achou da sua primeira viagem a Florença? — Perguntou Joseph relaxado.
— Ah, nada de mais sabe. Só viajei num jato particular, tive um baile em pleno castelo, dancei com dois magnatas super famosos. Você sabe. Coisas comuns que qualquer pessoa faz. — Brincou fazendo-o rir.
— Você tem um senso de humor que eu desconhecia. Gostava mais de você quando ainda se intimidava e corava com a minha presença. — Disse fitando-a profundamente. Demetria sorriu timidamente e sentiu-se corar, olhando o chão em seguida. — Pelos vistos ainda acontece. — Disse satisfeito. Demetria viu o saco de papel ao lado dela e viu ali a oportunidade de mudar de conversa.
— Aqui, não esqueça. — Disse Demetria pegando no saco com os quadros. Joseph entendeu a mudança de assunto, mas não disse nada. Sabia que eram amigos, mas também sabia que nem tudo mudara.
Quando Demetria olhou o interior do saco, quis se bater ali mesmo. Como não pensara naquilo antes? O que ia fazer agora? Os dois quadros eram do mesmo tamanho e ambos estavam protegidos por um pano branco, fino. Qual delas era o certo?
— Algum problema Demetria? — Perguntou vendo-a parada, olhando o saco.
— Não, nenhum. — Disse rapidamente. Rezou para que escolhesse o certo e pegou num deles, entregando-o a Joseph. — Espero que ela goste. — Disse mesmo sem saber quem era a garotinha.
— Obrigado. — Agradeceu. — E não só por ter-me ajudado a escolher o presente, mesmo sendo você quem escolheu. Estou agradecendo pela viagem também. Tudo dela. — Disse pensando na noite do baile, onde ele tinha contado metade da verdade e ela entendera.
— Não tem que agradecer. Tenho que ir agora. — Disse querendo tirar a dúvida que a sufocava. Não podia ter-se enganado. — Estou cansada da viagem. — Joseph assentiu o aproximou-se, segurando seu rosto delicadamente.
— Descanse. — Disse dando-lhe um beijo na testa, fazendo-a sorrir lindamente com o carinho. — Vejo você no trabalho amanhã.
Demetria assentiu e caminhou elegantemente em direção ao carro. Joseph esperou pacientemente que ela entrasse e partisse e só depois é que seguiu seu caminho.
Em questão de minutos Joseph entrava pela porta principal de casa, pousando as malas no chão do hall. A casa encontrava-se silenciosa. Silenciosa de mais para uma tarde de quinta-feira. A verdade é que ele esperava ser recebido com um grande grito e abraço de Elizabeth. Claro que isso não acontecer, já devia esperar por isso.
Suspirando cansado, Joseph pegou novamente nas malas e no presente de Elizabeth e subiu as escadas lentamente em direção ao quarto. Largou as malas num canto, o presente na cama e foi até ao banheiro tomar um banho. Aquilo tinha sido mais que uma simples viagem de negócios e o cansaço estava a fazer-se notar naquele momento.
Depois de ter o banho tomado e de ter vestido uma roupa confortável, Joseph sentou-se na cama e suspirou sentindo os olhos pesarem. Olhou para o lado da cama e viu o quadro. Sorriu ao lembrar do que Demetria o fizera passar e pegou nele, estava curioso para saber o que Demetria tinha aprontado e sem esperar mais pegou numa das pontas do pano fino e tirou, descobrindo o quadro. Surpreendeu-se ao ver a imagem refletida nele e sorriu. Ela era inacreditável.
Era um retrato deles dois, sorrindo divertidos enquanto ela o convencia a deixá-la naquela praça. Estava claro que Demetria tinha mentido quando disse que aquele quadro era um retrato de um pôr do sol de Florença e estava claro que tinha havido uma troca dos quadros. Joseph dedilhou os contornos do corpo de Demetria na tela branca e lembrou-se de quando tinha tido suas curvas entre os dedos. Lembrava-se da pele sedosa e lembrava-se do perfume. Lembrava-se das sensações que isso lhe causava e lembrava-se que não podia continuar com aquilo. Era errado e ao mesmo tempo tão preciso. Observou as feições dela com atenção e viu que apesar de aquele ser um retrato feito a lápis de carvão, conseguia-se perceber o brilho nos olhos dela. O sorriso perfeito refletia-se nos olhos dele na tela e ele parecia feliz como há muito não estava. Não se lembrava da última vez que sorrira completamente feliz e não se lembrava de alguma vez ter cometido uma loucura num país estrangeiro. Toda aquela viagem tinha sido uma loucura. Uma loucura boa que o fazia sentir-se bem com ele mesmo.

4 comentários:

  1. Está lindo, fofo... perfeitoo ♥
    Posta logooo

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  2. essa historia é maravilhosa, fico so esperando quando voce posta

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  3. Entrei no blog para dar uma olha e vejo Flavia postando Inocente Demetria. Preciso dizer que surtei ? Vim matar a saudades dos tempos de orkut <3 <3 <3
    Muuuito bom , Flavinha sempre a melhor !
    Bjos linda e continue postando em !

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  4. POSTA LOGO GAROTA PELO AMOR DE DEUS JA LI E RELI ESSES CAPITULOS NAO SEI QUANTAS VEZES. em caps pra dar mais emoçao mesmo u.u hehe

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