23/01/2015

Inocente Demetria - 9º Capítulo


Aeródromo, Dallas, TX

Eram sete e meia da manhã e Joseph já estava completamente impaciente à espera de Demetria no aeródromo. A decolagem estava prevista para as oito horas e Demetria já devia ter chegado com sua bagagem.
— Senhor Jonas, não quer entrar e esperar confortavelmente? — Perguntou uma das hospedeiras do jato particular.
— Não, obrigada. — Respondeu pegando no telemóvel. Digitou o número que já conhecia melhor que qualquer outro e esperou que atendessem a chamada enquanto se afastava de qualquer um que pudesse escutar a conversa.

— Alô, Joseph? — Atendeu uma voz feminina já familiar do outro lado da linha.
— Sim Maria, sou eu. Elizabeth ainda está em casa? — Perguntou franzindo o cenho ao ver o motorista tirar sua mala do carro com dificuldade.
— Sim, está tomando o café da manhã. Quer falar com ela? Pensei que já estivesse viajando. — Comentou sorrindo.
— Ainda não, mas vou. Passa o telefone pra ela por favor. — Pediu educadamente. Esperou pacientemente e sorriu ao ouvir a voz melodiosa da filha perguntando quem era. Pôde ouvi-la implorar pelo telefone quando soube que era ele, o que o fez sorrir ainda mais.
— Papai? — Perguntou. A voz da pequena tinha saído mais ansiosa do que ele esperava e amaldiçoou-se por não estar em casa a tomar o café da manhã com ela antes dela ir pra escola.
— Sim, sou eu. Como você está? — Perguntou preocupado. Tinha conversado com Maria sobre a viajem e tinha explicado também para Elizabeth, mas sem grandes detalhes. Nunca era fácil ter que viajar e ficar dias sem ver a filha, apesar de isso se ter tornado um costume nos últimos anos.
— Estou bem papai. — Disse num tom de voz alegre e inocente. Joseph podia perceber que ela estava sorrindo. — E você como está? — Perguntou fazendo-o rir. Isso chamou a atenção de alguns dos funcionários e por isso afastou-se mais um pouco, virando-se de costas pra eles.
— Estou bem também. — Respondeu ainda rindo. — Liguei pra dizer que te amo antes de entrar no avião. — Admitiu num tom de voz baixo para que ninguém o escutasse.
— Então diga, estou escutando. — Disse determinada. Joseph voltou a rir e revirou os olhos. A sua garotinha estava crescendo e a cada dia se parecia mais com ele.
— Papai te ama Beth. — Disse por fim, sorrindo.
— Também te amo papai. — Joseph sentiu seu coração apertar e sorriu orgulhoso.
— Eu sei Beth._Suspirou. — Vai se comportar enquanto eu estiver fora está bom?
— Vou sim pai. Pode trazer um presente pra mim da Itália? — Perguntou a menina do outro lado.
— Trago sim. — Afirmou. — Tenho que ir agora. — Avisou olhando o relógio de pulso.
— Está bem pai. Se cuida hein! — Brincou a garotinha. Joseph voltou a rir e despediu-se.
— Te amo. Beijo grande. — Desligou o telemóvel e voltou a colocá-lo no bolso da calça social.
Quando se virou deu de cara com uma Demetria de braços cruzados e sorridente. Não se tinha apercebido quando ela chegara e engoliu em seco ao ver que ela estava próxima o suficiente para poder escutar a conversa que tivera.
— Não sei quem é a mulher, mas só de saber que ela o fez rir dessa maneira tão genuína, já a admiro. — Disse sorridente por ter visto um Joseph genuíno pela primeira vez.
— Deu pra escutar a conversa dos outros? — Perguntou sondando-a, tentando saber o que tinha escutado. Ela não podia saber. Assim como qualquer outra pessoa.
A verdade é que ninguém além de Jason sabia que Joseph tem uma filha. Ele não sai à rua com ela e por isso não corria o risco de alguém descobrir que ele não é apenas um magnata famoso como também é pai solteiro. Fazia isso para proteger Elizabeth e ao mesmo tempo para protegê-lo a ele.
Sabia que devia viver uma vida normal criando a filha na frente de qualquer pessoa, deixando que os outros vissem que ela tinha um pai mesmo não tendo a mãe, mas não queria que ela ficasse exposta. Não queria que ela deixasse de ter uma infância normal ao lado de outras crianças para passar a ser o centro das atenções de um escândalo da alta sociedade. Não iria permitir que fizessem isso com sua filha, mas para protegê-la tinha que falhar como pai e isso doía mais a cada dia que ela ia crescendo.
— Não se preocupe. Não ouvi seu segredo. — Respondeu sincera. — Só ouvi você rindo, o que me surpreendeu, e a última frase. Deixa de frescura Joseph. — Disse revirando os olhos. — Fico contente que esteja bem disposto, de verdade. Vão ser muitas horas dentro daquela coisa. — Falou apontando para o jato atrás deles. Joseph entendeu que ela não percebera muita coisa e sentiu-se aliviado por não ter que inventar uma mentira.
— Porque se atrasou? — Perguntou ouvindo os motores do pequeno avião começando a trabalhar.
Demetria percebeu que ele ia ignorar seu comentário anterior e logo se pôs a pensar em alguma mentira que ele pudesse engolir.
— Coisas de mulheres. Sabe como pode ser complicado. — Mentiu descaradamente. Joseph olhou-a pelo canto do olho enquanto se dirigia à escada do jato e sorriu sarcástico. Não acreditara em uma única palavra. Já pra não falar que os olhos castanhos dela estavam vermelhos e isso provava que ela tinha chorado.
— Claro, entendo. — Fingiu acreditar.
Demetria respirou aliviada ao entender que o assunto morreria ali e olhou para o chão enquanto seguia Joseph. Estava completamente distraída pensando no que tinha acontecido naquele quarto de hotel que nem reparou que Joseph tinha parado para se virar para ela. Chocou contra o homem alto e forte e perdeu o equilíbrio, quase se espatifando do chão. Sentiu-se ser amparada por Joseph que a segurou firmemente pela cintura e olhou para o rosto dele que estava mais próximo do que ela realmente esperava.
Joseph sentiu a respiração ofegante de Demetria e seus olhos desviaram para seus lábios carnudos e rosados. Sentiu a garganta ficar seca e largou-a quando percebeu que ela estava segura. Não podia ter qualquer pensamento de desejo com aquela mulher. Não iria permitir sequer pensar nela se não como a garota inocente e fraca que era.
— Pode subir. — Disse sério, dando passagem para que ela entrasse no avião. Demetria desviou o olhar do dele ao ver que era o Joseph arrogante que ela odiava e seguiu seu caminho sem se deixar abalar pela proximidade de segundos atrás.
Quando entrou no jato particular a sua reação foi de total surpresa. O pequeno avião não era tão pequeno assim e o seu interior era completamente luxuoso. Uma das hospedeiras, loira e com o peito avantajado, indicou qual era o seu assento ao mesmo tempo que a encarava de alto a baixo com uma expressão de nojo. Demetria sentiu-me incomodada com o olhar, mas sentou-se em seu assento sem dizer nada, virada de frente para onde entrara. Olhou para Joseph a tempo de ver que ele dava um olhar reprovador à hospedeira que baixou o olhar e sussurrou um pedido de desculpas.
Joseph sentou-se de frente para Demetria e pousou sua pasta pessoal no assento ao seu lado. Demetria acabou fazendo o mesmo com sua bolsa e tirou o telemóvel de lá, avisando Selena que iria decolar.
— Não se pode usar celulares quando o avião está para decolar. — Avisou Joseph mal humorado. A verdade é que tinha ficado curioso ao ver que ela sorria escrevendo a mensagem. Seria para algum homem?
— Eu sei. Não se preocupe. — Falou arrumando o telemóvel de novo. Joseph olhou-a seriamente ainda pensando naquele sorriso enquanto ela escrevia a mensagem e Demetria olhou-o sem entender. — Algo errado? — Perguntou confusa.
— Estava mandando mensagem para algum amigo? — Perguntou ainda mal humorado.
— Estava sim. — Respondeu vendo que Joseph remexia-se inquieto.
Joseph deixou o assunto morrer ali e prometeu quer iria decobrir quem era o homem para quem Demetria mandava mensagens e principalmente que mensagens. Ela não podia se distrair com namoros nesta viagem e iria dizer-lho mais tarde.
Demetria esqueceu-se de Joseph por uns momentos e tentou prender os cintos de segurança do assento. Não sabia como aquilo funcionava e Joseph sorriu ao vê-la atrapalhada. A hospedeira loira aproximou-se de imediato, prestando ajuda.
— Quer ajuda? — Perguntou a Demetria que a olhou séria.
— Não, ela não quer sua ajuda. E eu não quero você perto dela. Depois que decolarmos, traga-me um whiskey com gelo. — Ordenou Joseph se levantando e dando a volta à pequena mesa entre ele e Demetria.
A mulher loira saiu de lá amuada e Demetria olhou-o confuso. Será que ele tinha visto o olhar que a hospedeira lhe tinha dado quando entrara? Era por isso que ele a olhou daquela maneira quando entrou e a tratara deprezivelmente agora?
Joseph ignorou o olhar que ela lhe dava e tirou as mãos dela delicadamente, fazendo-a largar os cintos.
— É fácil. Observa. — Pediu pegando nas duas partes do cinto e prendendo-o em seguida, de maneira a que ela entendesse. Os cintos ficavam justos ao corpo dela e ele sentiu que ela contraiu seus músculos quando ele lhe tocou na barriga reta. Querendo sentir aquilo de novo, demonstrou como se soltava o cinto e logo tirou as mãos de perto do seu corpo para que ela mesma fizesse. Ao ver que ela conseguiu apertar os cintos com sucesso, voltou a sentar-se no seu lugar.
— Obrigado. — Agradeceu Demetria. Sentia sua barriga formigando, tal como acontecera com sua coxa no outro dia em que ele a tocara.
— De nada. — Respondeu sem olhá-la.
Depois de duas horas de vôo, Demetria sentiu-se enjoada e correu para o banheiro, também luxuoso, do jato. Joseph ficou um pouco preocupado por sua saúde, mas sabia que aquilo era normal para quem pouco viajou de avião e por isso deixou-se ficar relaxado.
Encarou a bolsa de Demetria no assento ao lado dela e viu um envelope branco com letras pretas e grossas, escritas a letra de computador. Conferiu que Demetria ainda estava no banheiro e pegou no envelope, mesmo sabendo que era errado. Leu as letras na parte da frente do envelope e imediatamente o virou só para ler o que estava escrito atrás. No mesmo instante em que leu a frase ali contida, soube que era por causa daquilo que Demi tinha chorado e se atrasado naquela manhã.
"Para Demetria Lovato. De Patrick.", era o que dizia na parte da frente. "Sou seu pai. Nunca se esqueça disso.", estava escrito na parte de trás. Voltou a colocar o envelope na bolsa do mesmo jeito que o encontrou e no instante seguinte Demetria saiu do banheiro completamente pálida.
— Como se sente? — Perguntou para disfarçar sua curiosidade.
— Eu odeio aviões. — Respondeu meio tonta, fazendo-o rir brevemente.
Não se voltaram a falar por mais uma hora e Demetria acabou adormecendo completamente torta. Joseph olhou-a atento e analisou-a. Suas roupas eram comportadas e simples como sempre foi desde que a conhecera e sorriu ao ver que nem o fato de ir para Itália iria fazer mudar quem ela era realmente. Apreciou isso na garota que claramente tinha a força de uma mulher que ele poderia admirar um dia, mas não deixou que seus pensamentos fossem mais longe do que isso.
Levantou-se do assento e mudou a bolsa de Demi para onde estava sentado, acomodando-se assim no assento ao lado da mulher adormecida. Muito delicadamente para não a despertar, fez com que ela mudasse a posição do corpo e apoiasse a cabeça no ombro dele para que ficasse mais confortável. Surpreendeu-se quando ela se aninhou mais nele, agarrando seu braço ainda adormecida e sorriu ao vê-la dormindo tão tranquila.
Poderia atirar aquele momento na cara dela quando a quisesse deixar sem chão, mas sabia que não o faria. Não, ele preferia mantê-lo para si e recordar mais tarde. Elevou a mão esquerda para acariciar seu rosto carinhosamente e olhou atentamente os lábios entreabertos. Resolveu ceder ao que já vinha imaginando e tornou aquele momento ainda melhor ao aproximar-se para tocar levemente os lábios dela com os seus.
Deixou que o beijo inocente demorasse uns breves segundos, mas logo se afastou amaldiçoando-se por deixar-se levar pela inocência e fragilidade que ela deixava transparecer. Mesmo não sabendo o que pensar, não podia negar que gostou de sentir os lábios dela nos seus, mesmo que de uma forma involuntária. Acabou por acariciar o rosto dela de novo enquanto beijava sua testa carinhosamente e continuou aproveitando enquanto ela dormia para lhe fazer carinho não só no rosto como também na mão e no braço nu. Prometeu a si mesmo que quando ela acordasse não a tocaria mais, mas enquanto isso, iria aproveitar aquele momento de insanidade.

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