Magestic Incorporated, Dallas, TX
— Você sempre
gostou de ver a vista através dessa janela. — Falou enquanto colocava duas
pedras de gelo em cada um dos dois copos de whisky.
— O que tem pra
mim Austin? — Perguntou ignorando a observação do colega de trabalho. Joseph
não precisava de suas observações. Muito menos das mais óbvias.
— Várias coisas que
lhe podem ser úteis Joseph. — Respondeu sério. Sabia que Joseph não era um
homem muito sociável, não quando se tratava de intimidade. Sentou-se na cadeira
em frente à grande mesa de vidro e pousou o copo de Joseph na superfície fria.
Esperou que Joseph se sentasse do outro lado para lhe entregar a pasta que
tinha em mãos. Joseph pegou-a sem rodeios e abriu-a, começando a analisar todos
os documentos e fotos que lá estavam até que encontrou o certificado de
nascimento.
— Ela nasceu aqui? Em Dallas? — Questionou confuso. Não imaginava que ela tinha nascido na mesma cidade do avô e da mãe. Uma mulher como aquela cria raízes muito facilmente. Seria difícil se afastar. Porque estaria a viver em New Jersey então?
— Ela nasceu aqui? Em Dallas? — Questionou confuso. Não imaginava que ela tinha nascido na mesma cidade do avô e da mãe. Uma mulher como aquela cria raízes muito facilmente. Seria difícil se afastar. Porque estaria a viver em New Jersey então?
— Sim. Nasceu
aqui e viveu os primeiros anos de vida antes dos pais decidirem mudar-se para
New Jersey. — Explicou vendo a expressão desconfiada de Joseph.
— Hum, bem longe
da família da mãe. Algum motivo grave aparente? — Pegou numa das fotografias e
analisou-a. A mesma mulher do cemitério saía de um shopping em New Jersey
acompanhada de uma outra mulher. Era bem visível o contraste entre as duas. Uma
era confiante e com uma aparência de causar inveja em muitas mulheres e a outra
era a mesma menininha inocente que Joseph vira no cemitério. Inocente e idiota.
— Não que se
tenha tornado público, mas pelo que averiguei, o pai dela não se dava muito bem
com Jason. Jason não apoiou o casamento. Por algum motivo.
— Interessante.
Mais alguma coisa? — Perguntou largando a certidão de lado e pegando no próximo
documento.
— Esse documento
é o histórico escolar. Como pode ver ela sempre teve ótimos resultados, excepto
num único ano. Achei isso bem interessante. Não faz sentido uma aluna desse
calibre ter uma falha dessas em seu histórico.
— Verdade
Austin. Não faz! Motivo? — Perguntou frio. Se queria conhecer a vida de
Demetria tinha que saber tudo o que acontecera e a razão disso.
— Não havia relatórios
de saúde ou de qualquer outra razão que justificasse essa falha. Nada concreto.
Talvez tenha sido por causa de namorados. — Supôs.
— Ou algo
familiar. Investigue isso. Quero saber mais. Quero a razão disso ter acontecido
e quero saber quem pode estar envolvido. — Olhou para Austin e acrescentou com
um tom de voz que faria arrepiar qualquer um que não o conhecesse. — Se a
pessoa for um problema, já sabe o que tem que fazer Austin.
— Sei Joseph.
Irei investigar isso e tentar obter a maior informação que conseguir. — Afirmou.
Sabia que era o que Joseph queria ouvir.
— Ela estudou na
Universidade de Princeton? — Perguntou erguendo outro documento. Austin
conseguia ver a surpresa no rosto de Joseph, sabia que tinha sido lá que ele
tinha estudado.
— Sim. Gestão
Administrativa. Coincidência, não? — Perguntou sorrindo.
— Não acredito
em coincidências Austin. — Afirmou olhando-o. Austin não iria discutir. Joseph
sempre parecia ter a certeza daquilo que dizia. Ele tinha o controle. — Tudo
tem um propósito, por mais ridículo que este o seja. Com certeza Jason teve
algo a ver com isso, de outro modo, como ela iria suportar as despesas de uma
universidade como Princeton? Pelo que sei os pais não eram propriamente ricos.
Tem que ter mão de Jason Lovato nisso. Ele deve ter influenciado a escolha dela
de alguma forma.
— O que o faz
pensar que ela não pode ter escolhido essa área de livre e espontânea vontade?
— Desafiou. Austin conhecia o modo que Joseph tinha ao pensar sobre mulheres.
Ele conseguia olhar para uma mulher e ver como ela era. Austin ainda se
perguntava se algum dia Joseph iria encontrar alguém no seu caminho que mudasse
sua maneira de pensar. Muitas mulheres tinham tido essa oportunidade. Nenhuma
delas conseguira. — Ela entrou na universidade através de uma bolsa de estudos,
obteve a melhor qualificação e acabou entrando com mérito. Ela pode realmente
ser cem por cento consciente daquilo que quer, pode gostar da ideia de ser
gestora de empresas. É visível que ela se esforçou naquilo que fazia, foi a
melhor aluna da sua área. — Insistiu.
— Austin, eu vi
essa mulher no funeral de Jason. — Retrucou. Ele sabia o que vira e achava que
não estava enganado. Ele nunca se enganara sobre uma mulher. Excepto uma única
vez e isso bastou para que ele aprendesse. Não seria Austin a tentar fazê-lo
mudar sua maneira de lidar com as coisas. — Vi como se vestia e vi suas
atitudes. Ela não se destacava no meio de todas as outras mulheres e
definitivamente, não aparenta ser o tipo de mulher que se envolve em negócios.
Você sabe que nosso trabalho é feito por homens inteligentes capazes de
negociar. São poucas as mulheres que se atrevem a nos desafiar. Você sabe que a
competição é grande, sabe que elas não aguentam a pressão e por isso acabam
saltando barco fora. Nós vivemos de aparências e você sabe. Agora diga-me
Austin. — Pegou uma das fotografias e mostrou para o colega. A mesma fotografia
das duas mulheres que observara anteriormente. — Acha que ela poderia aguentar
toda a pressão? Acha que poderia viver de aparências? Acha que a falta de
experiência dela pode competir com o que há lá fora? — Austin não respondeu.
Sabia que Joseph estava certo. Seu trabalho não era fácil e havia vários
sacrifícios que precisavam de ser feitos, mas acreditava que não deviam
subestimar Demetria Lovato.
— Talvez tenha
razão. Talvez tenha mão de Jason nisso. — Não iria discutir com Joseph. Não
valia a pena. — Ele não lhe contou nada sobre a neta? Nada que pudesse ajudar?
— Só me falou o
nome dela e mais algumas coisas que são irrelevantes no momento. — Falou
despreocupado. Ninguém tirava Joseph do sério. Poderia discutir com ele que ele
sempre teria uma contra-argumentação. Era como se nada tivesse acontecido. Sua
postura e firmeza eram invejadas por qualquer um nessa profissão. — Não teve
tempo para mais.
— Entendo. Sinto
muito. Sei que eram grandes amigos.
— Sim éramos. — Disse
simples. Joseph não era do tipo sentimental. Sentia falta do amigo e
companheiro de trabalho, sim, mas não iria se lamentar pelos cantos daquela
empresa. — Estamos fugindo do assunto principal, que é Demetria.
— Certo,
desculpe. — Pediu apressado. Não tinha medo dele, mas tinha respeito. Joseph
tinha razão, eles estavam fugindo do assunto principal. Respirou fundo e
continuou a contar todas as informações que tinha conseguido obter até ali. — Ela
não tem redes sociais e parece não ter muitos amigos. A única amiga que eu
consegui obter informação foi uma tal de Selena Gomez, a mulher que está com
ela nessa fotografia. Parece ser a melhor amiga de infância.
— Não me
surpreende que o seja. Parece ser bem o tipo de Demetria. — Murmurou. — Namorados
ou algo do género? Gays não contam, Austin. — Disse impaciente. Sabia que
Austin estava se contendo para não rir nesse momento, mas a situação não era
cómica. Era séria de mais para que se pudesse rir.
— Não. Não tenho
informações de homens ligados a ela excepto um que atualmente está a viver em
França. Eram colegas de escola.
— Que tipo de
história têm, ou tinham? — Namorados não era boa coisa naquele momento. Joseph
não precisava de histórias mal resolvidas na vida de Demetria. Se precisasse,
ele mesmo as resolveria para eliminar seus obstáculos.
— Pelo que
percebi até agora é uma história bem privada. Não consegui saber quase nada a
não ser que eram muito amigos e algo aconteceu para que eles se separassem, algo
grave. Pelo menos para um deles. Pesquisei informação sobre ele e parece que é um
completo idiota.
— E a meu ver,
se ele é idiota, parece que são almas gémeas. Se ele a abandonou e abandonou o
que tinham, o quer que seja que eles tinham, é porque provavelmente ela não deu
pra ele. — Disse despreocupado enquanto Austin arregalava os olhos. Joseph
fitou-o e sorriu divertido. — Você não acredita que esta mulher seja liberal,
acredita? Dá perfeitamente para ver que ela é do tipo inocente e eu já lhe
disse isso. Ela não tem noção do perigo quando ele está presente. É fraca e
incapaz de se impor. Não é o tipo de mulher que estamos procurando para o
cargo… Como eu também já demonstrei. Sinceramente, pensei que ela fosse um
pouco mais como Jason. Parece que me desiludi. — O tom sério em sua voz
mostrava realmente a decepção. Austin só se perguntava como Joseph esperava que
Demetria fosse. Esperava que ela fosse como algumas de suas amantes?
— Não acha que
pode estar enganado? Quero dizer, pelas fotos que consegui dela e pelo que vi
quando a segui diversas vezes, ela realmente parece o que você diz. Você até
tem razão em tudo o que disse, ou quase tudo, mas nós realmente não a
conhecemos.
— Sim Austin,
tem razão quando diz que não a conhecemos, mas se tem uma coisa que eu conheço
bem, são as mulheres. Lido com elas todos os dias e não me refiro a uma cama.
Não apenas. E você já devia saber que eu raramente me engano. Eu sei o que digo
quando falo de Demetria. E pretendo não falar muito mais vezes.
— E não acha que
isso pode mudar? Não acha que ela possa mudar? Quer dizer, ela tem o nosso
futuro em suas mãos e nem o sabe ainda. Por muito que ela não seja a pessoa
certa para a posição em que vai ficar dentro desta empresa, ela tem que ficar.
Nenhum de nós pode ir contra isso. Está escrito e só ela poderá mudar isso.
Talvez, se ela souber da responsabilidade que tem nos ombros... Bem, pode ser que
aprenda.
— E você acha
que eu poderia ensiná-la? — Questionou incrédulo.
— Não tem
ninguém nesta empresa que o possa fazer melhor que você. — Disse sorrindo
divertido. — Joseph, você é um dos melhores negociadores a nível nacional,
conhece esta empresa como a palma da sua mão e conhece o trabalho de Jason
melhor que ninguém. É a pessoa indicada para a tarefa. — Explicou. Viu que Joseph
ponderava a sua ideia e sorriu internamente.
— E se não
funcionar? — Desafiou Joseph enquanto bebericava seu whisky.
— Métodos
drásticos. — Respondeu sem rodeios.
— Não podemos
passar logo para o plano B? Isso vai ser entediante.
— Desde quando
uma mulher é entediante para Joseph Jonas? — Questionou divertido.
— Desde que essa
mulher é Demetria Lovato.
— Você não sabe
que segredos ela pode ter. As mulheres além de complexas podem ser bastante
misteriosas. Ela pode ser um enigma. Sei que gosta de enigmas Jonas.
— Esse é fácil
de mais. Quero que continue suas investigações e quero, e preciso, de
informações sobre a família dela. Não é possível que não tenha qualquer
indicação sobre isso.
— Ela saiu de
casa para ir viver com Selena desde que entrou para a universidade.
— Seus pais têm
que estar na cidade. Procure! — Ordenou.
— Quando o
advogado da família Lovato terá autorização para fazer a leitura do testamento?
— Quando eu puder
estar presente para ouvi-la. — Respondeu simples. Ao ver a confusão no rosto do
amigo, explicou. — Eu mesmo darei a ordem de leitura, não se preocupe.
Austin terminou
seu whisky e levantou-se para voltar ao trabalho. Depois de ver a porta ser
fechada, Joseph pegou uma das fotografias da mesa de vidro. Esta, diferente das
outras, continha apenas Demetria sentada num baloiço de parque. O vestido azul
florido que ia até seu joelho destacava sua pele branca e seus cabelos estavam
soltos dançando no vento. Parecia estar pensando e mantinha um sorriso triste
nos lábios. Inocente e frágil. Tudo o que uma mulher não deveria ser. Joseph
conhecera alguém como Demetria uma vez. E isso foi o bastante para saber que
ela também não prestava.
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