Golden Tower Hotel,
Florença, IT
— Duas suítes
presidenciais reservadas em nome de Joseph Jonas. — Disse à recepcionista
enquanto sorria galanteador. A mulher portadora de um corpo magro e bronzeado
sorriu envergonhada e logo se pôs a dedilhar no computador à sua frente.
Demetria encarou Joseph incrédula e logo se manifestou.
— Joseph, o que está
fazendo? — Perguntou vendo que ele puxava do cartão de crédito
para registar a despesa dos dois quartos.
— Eu não sei o que você
costuma fazer com um cartão de crédito, mas eu estou pagando. — Disse óbvio
enquanto entregava o cartão à moça.
— Eu não quero que pague
por mim. Não quero ficar a dever nada a você. — Disse ofendida pelo gesto.
Joseph olhou-a sorrindo e retrucou.
— Mas vai ficar devendo.
E eu vou cobrar. — Disse pegando o cartão de crédito e os dois cartões de
acesso aos quartos.
Joseph pouco se importava
com o quanto aquilo lhe custaria, não faria diferença em relação aos muitos
números da sua conta bancária. Ele nunca deixaria Demetria pagar sua estadia.
Ele era um cavalheiro acima de tudo e mesmo sabendo que aquilo era uma viajem
de negócios, faria de tudo para que ela pudesse aproveitar sua estadia em
Florença.
— Então e como vai
cobrar? — Perguntou seguindo-o até ao elevador do grande edifício.
Não gostava daquilo, mas
sabia que não valia a pena insistir. Aquele homem era mais teimoso do que um
cão velho e cansado. Joseph olhou-a pelo canto do olho, sorriu malicioso,
deixou que a porta do elevador se fechasse para que ficassem a sós e respondeu.
— Um jantar e apenas um
jantar. — Disse fazendo com que ela corasse envergonhada.
— Continuo não
concordando com isso. — Disse baixo, mas ainda contrariada. Não queria que ele
percebesse o nervosismo que ela ganhou quando ele falou em jantar. Ela nunca jantou
com um homem antes, não com um tão poderoso e galanteador assim. Mais uma vez
sentia o nervosismo à flor da pele e amaldiçoou-se por isso acontecer
precisamente com Joseph.
— É um simples jantar. — Respondeu
ainda sorrindo. Encarou-a e viu que ela olhava o chão envergonhada. — Podemos
falar sobre a empresa ou sobre a sua adaptação a Dallas. — Sugeriu fazendo-a
relaxar. — Sei que é algo novo e sei que ainda não criou muitos amigos por lá.
Não deve ter sido fácil deixar New Jersey de um dia para o outro. — Supôs
compreensivo.
Demetria levantou o rosto
para encará-lo e viu-o sorrindo. Ele estava assim desde que aterraram em
Florença e ela estava estranhando aquela simpatia, compreensão e boa
disposição. Onde estava o ódio e o desprezo que ele tinha por ela? Onde estava
o olhar de indiferença e o rosto duro como pedra? Ela não entendia essa mudança
dele e perguntou-se o que ele estava tentando conseguir dela.
— Porque está sendo tão
simpático? O que está tentando conseguir Joseph? — Perguntou sem perder tempo e
ao mesmo tempo tentando não parecer rude. Fossem quais fossem as intenções dele
com aquele jantar, ela saberia. — Onde está aquele ódio e desprezo que tem por
mim? — Perguntou cruzando os braços e virando-se para encará-lo.
Mesmo não querendo
admitir nem para ela própria, Demetria esperava que pelo menos em Florença,
Joseph parasse de ser tão arrogante com ela. Esperava que ele quisesse levá-la
pra jantar para algo que não estivesse relacionado à empresa. Esperava conhecer
um pouco mais de Joseph, mesmo sabendo que poderia não gostar.
As perguntas de Demetria
fizeram com que Joseph se recordasse do porquê de ele a desprezar tanto. Sim,
ele a desprezava. Desprezava o tipo de mulher que ela era. Não suportava ter
que conviver com mulheres inocentes e fracas, mas por momentos naquele jato
tinha-se esquecido completamente de quem ele era obrigado a ser. Olhando aquele
rosto delicado e frágil, Joseph esqueceu-se que foi uma mulher como Demetria
que mudou completamente a sua vida.
Respirou fundo e adotou
uma postura firme. Era assim que ele era e que tinha que ser. Amargo e
poderoso. Com uma expressão sarcástica no rosto, virou-se de frente para
Demetria, pronto para destruir qualquer teoria que ela estivesse a formar em
sua cabeça. Qualquer conto de fadas seria destruído pelo tipo de homem que ela
mais odiava.
— Ser educado é diferente
de ser simpático. — Demetria olhou-o surpresa por ele dizer
aquilo. — Eu continuo te odiando e te achando desprezível. Você não tem classe
e nunca chegará aos pés de uma mulher de alta sociedade. Qualquer que seja a
sua ideia para este jantar, definitivamente não é a mesma que a minha. Este
jantar será apenas para falarmos da empresa que é a única coisa que nos liga.
Não comece a criar contos de fadas na sua cabeça porque eu nunca, mas nunca vou
ficar interessado em você.
— Sabe que mais? — Disse
controlando a vontade de chorar. Viu a porta do elevador abrir-se e deu um
passo para fora do mesmo. Pegou o cartão do quarto da mão de Joseph com o
cuidado de não lhe tocar e continuou. — Jante sozinho porque com certeza não
vou ter classe o suficiente para o acompanhar. — Virou as costas para andar
pelo corredor, mas voltou a virar-se para o encarar mais uma vez. — Parabéns,
se eu já te odiava antes, agora te odeio muito mais. Meu avô realmente tinha
uma ótima vida. — Disse apontando para todo o luxo à volta dela. — Ele só não
tinha o direito de me obrigar a viver a vida dele. — E com isso saiu em direção
ao quarto sem esperar qualquer resposta.
Demetria demorou uns
minutos para encontrar o quarto em que ficaria hospedada, mas quando o achou
sentiu-se aliviada por poder sair de um corredor em que seria provável
encontrar Joseph. Não queria olhar para a cara dele brevemente, mas sabia que
isso ia acontecer devido à reunião que ambos teriam na RG.
Quando entrou no quarto
não pode evitar sorrir. O quarto era decorado em tons de branco e bege, como
ela gostava. Ambas as cores lhe traziam paz e ela agradecia por aquilo no
momento. Viu as malas paradas perto da cama e imediatamente lembrou-se que
algum empregado as teria carregado até lá. Fechou a porta, trancando-a, e
dirigiu-se ao banheiro da suíte. Viu a banheira grande e dourada e apressou-se
a abrir a torneira da água quente, enchendo a banheira com sabonete liquido para
que criasse espuma. Tudo o que ela precisava agora, era um banho relaxante.
Deixou a água a escorrer
e caminhou de volta ao quarto. Pegou na mala maior e colocou-a em cima da cama.
Pegou um dos novos vestidos que tinha comprado e sorriu. O vestido, mesmo sendo
profissional, era lindo e com certeza era a cara dela. Mas ao colocá-lo em
frente ao corpo e olhando-se no espelho, o sorriso desfez-se e as lágrimas
voltaram.
Aquela não era ela. O
jato particular, os carros, os hotéis de luxo, as roupas de marca, aquela não
era ela de verdade. Não podia ser. Joseph tinha razão, ela nunca seria como
essas mulheres da alta sociedade, mas sabia que elas não eram melhores que ela.
Demetria sabia que era inteligente, talvez mais do que elas. Não iria deixar
que a olhassem como Ashley ou a hospedeira do jato. Não ia deixar que mais
mulheres o fizessem. Estava cansada de ser humilhada por ser ela mesma.
Pensava que estava
preparada para tudo aquilo, para a vida que o avô levava, mas a verdade é que
ela não estava, nem nunca estaria. Tudo isso porque não era quem ela queria
ser. Mas então, quem ela queria ser? Queria ser alguém melhor? Alguém que
pudesse superar os fantasmas do passado? Alguém que pudesse se sentir bonita
com o próprio corpo? Alguém que pudesse se sentir livre de todas as correntes
que lhe impuseram? Sim, ela queria. Sabia que o passado iria persegui-la, sabia
que os traumas continuariam lá, impedindo que seguisse em frente, mas ela não
queria que fosse assim.
Largou o vestido em cima
da cama e aproximou-se do espelho. Começou a tirar a roupa até ficar apenas com
o sutiã e cueca preta e analisou cada pedaço do corpo seminu. Não era tão
bonita como Ashley ou a loira do jato. Não tinha um cabelo deslumbrante e tinha
algumas sardas espalhadas pelo rosto. Seus lábios eram carnudos e rosados, mas
seu queixo era "esquisito", como diziam na escola. Não tinha seios
muito grandes e não tinha os músculos muito definidos. Não tinha um bronzeado
invejável e tinha curvas a mais. Seu quadril era largo e ossudo e suas coxas
eram grossas. Não era o modelo perfeito de mulher e nem nunca seria. Não se
podia destacar no meio de toda a beleza que constituía a alta sociedade. Se seu
avô a visse agora devia estar envergonhado. Envergonhado por ela não ter a
determinação e coragem que ele tinha e envergonhado por ela não saber
ultrapassar todos aqueles dilemas.
Deixou escapar um soluço
e viu seu rosto umedecer ainda mais com as lágrimas que escorriam. Ela nunca
seria suficientemente boa. Nunca tinha sido. Desde a sua primeira vez que era
assim. Conseguia lembrar-se bem dele e de seu rosto de indiferença e desprezo
depois que tinha terminado. A mesma expressão que Joseph usava ao olhá-la.
Lembrava-se das palavras dele e conseguia ouvi-las de novo, como se ele estivesse
dentro daquele espelho. “Você tem demasiada celulite e o sexo não foi bom com
você”.
Lembrava-se de como ele a
abandonou nua naquela cama. Sem um beijo, sem um eu te amo. Lembrava-se de como
ele a ignorou depois disso. Lembrava-se da humilhação e da vergonha que sentia por
ter sido usada daquela maneira e essa mesma vergonha pareceu possuí-la naquele
momento. Sentia vergonha de estar perto de Joseph. Sentia-se intimidada e
acabava perdendo toda a coragem e autoconfiança. Sentia-se incapaz de lhe fazer
frente ou de ser boa o suficiente para acompanhá-lo numa viajem de negócios a
Itália.
“Você não vale nada. É
como a sua mãe!” Lembrou fechando os olhos com força.
As vozes das piores
lembranças pareciam gritar de dentro do espelho e parecia que tudo estava
acontecendo de novo. Parecia que estava vivendo todo aquele sofrimento e
angústia que há anos ela tentava esquecer.
Num ato de desespero para
que tudo aquilo acabasse, deu um murro no espelho com o punho esquerdo e só o
som do vidro se partindo em cacos é que a despertou para a realidade de toda
aquela loucura.
Abriu os olhos e
deparou-se com o estrago que tinha feito. Desesperou-se quando viu um corte
grande em sua mão e logo aparou o sangue que escorria para não sujar o chão.
Ela não conseguiria. Não conseguiria seguir em frente com todos aqueles
pesadelos perturbando-a. Não conseguiria ser bonita e nem conseguiria ser quem
seu avô desejava que ela fosse.
Demetria correu para o
banheiro e depressa tirou as peças de roupa que faltavam. Entrou dentro da
banheira já quase cheia e fechou a torneira. Deitou-se e deixou que sua mão
cortada caísse dentro de água. Fechou os olhos com força ao sentir a ardência
que a água quente e a espuma causavam em sua pele e por momentos gostou daquela
sensação de dor.
Demetria nunca se
auto-mutilou nem nunca pensou em fazê-lo na verdade. Sempre aguentou as dores
angustiantes para si mesma e sempre descontou tudo nos estudos da melhor forma
que podia. Sempre tentou ser a melhor aluna para que pudesse ter uma vida
melhor no futuro e nunca preferiu escolher os caminhos mais fáceis como
auto-mutilação ou até mesmo drogas. Sempre foi forte na frente de alguém, mas
sozinha era a pessoa mais fraca que existia no mundo.
Agora, machucada naquela
banheira, deixou-se aproveitar aquela dor que pareceu fazer-lhe esquecer de
qualquer outra. Sabia que nunca o faria de propósito. Podia não se sentir bem
com seu corpo, mas nunca seria capaz de fazê-lo.
Deixou o corpo coberto
pela espuma relaxar por longos minutos, e deixou-se ficar de olhos fechados
enquanto os cabelos escuros boiavam na água. Foi quando sentiu um perfume
masculino e conhecido no ar que ela abriu os olhos para olhar para a porta.
Conteve o grito do susto e rapidamente tapou os seios com um braço enquanto
dobrava uma perna. Joseph estava parado na porta do banheiro e seu rosto estava
mais sério do que nunca.
— Co... Como entrou aqui?
— Perguntou depois de gaguejar. — Porque entrou aqui? Quem deixou você entrar?
Saia! — Ordenou por fim horrorizada.
Joseph ignorou todas as
perguntas dela e olhou o chão do banheiro. O sutiã e a cueca preta estavam
largados no meio do chão e ao lado estavam alguns pingos de sangue. Demetria
escondia-se debaixo da espuma o mais que podia e agradeceu por ter colocado
tanto sabonete liquido. Viu que Joseph a olhava ainda sério e desviou os olhos,
ainda úmidos, dos dele. Ela ainda tinha lágrimas no rosto e com certeza tinha
os olhos vermelhos. Ele faria perguntas e não era isso que ela precisava. Ele
não podia saber. Ninguém podia.
— O que vo... Você está
fa... Fazendo? — Perguntou quando viu que ele se aproximava da banheira a
passos firmes. — Saia daqui! Você por acaso é tarado?
— Acredite, não sou. — Respondeu
finalmente. Demetria sentiu um arrepio na espinha já bastante comum ao ouvir a
voz firme dele e arregalou os olhos ao ver que ele ignorou os protestos dela e
se ajoelhou ao lado da banheira. — Onde você se cortou? — Perguntou sério. Seus
olhos pareciam faiscar de raiva e Demetria assustou-se um pouco pela primeira
vez.
— Eu não me cortei. — Mentiu.
Não sabia como ele tinha entrado, mas sabia que ele tinha visto os cacos de
espelho no chão do quarto.
— Não volto a perguntar
Demetria.
Bufando irritada,
Demetria trocou o braço que protegia o peito e mostrou a mão esquerda para
Joseph. O corte tinha sido grande, mas não tinha sido profundo, por isso o
sangue tinha estancado com a água e agora só ficava o corte que mais tarde iria
cicatrizar.
— Porque fez isso? Porque
chorou? — Perguntou levando a mão de Demetria até aos lábios.
Demetria encarou-o com a
testa franzida, confusa. Ele estava sério e seu olhar parecia fuzilá-la, mas
seus gestos eram carinhosos e suas palavras eram agora suaves, preocupadas.
— Eu não chorei. — Negou.
Ele não podia saber. De nada.
— Sim chorou. — Insistiu.
— Seu rosto está encharcado de lágrimas. — Falou observando desde o rosto dela
até ao final do corpo que ela tentava esconder o máximo que conseguia.
— É água. — Mentiu
rapidamente.
Joseph deu um sorrisinho
de lado e beijou sua mão carinhosamente. Em seguida deixou-a cair dentro de
água cuidadosamente e levou a mão esquerda até à nuca de Demetria, puxando-a
para si. Muito lentamente, começou a distribuir pequenos beijos pelas bochechas
dela, sentindo o gosto salgado das lágrimas que ela tinha derramado minutos
atrás. Pôde sentir a respiração de Demetria em seu rosto e segurou sua nuca
mais firmemente.
— Você chorou. — Concluiu
por fim olhando-a nos olhos. Demetria não aguentou e sentiu seus olhos
lacrimejar de novo. Ela estava frágil de mais para que pudesse pará-lo e por
momentos só quis sentir-se amada como nunca foi. — Toda a mulher é bonita do
seu jeito. Mulheres que imitam outras tornam-se vulgares. Você é apenas você.
Nunca sinta vergonha de quem você é. — Sussurrou aproximando os lábios dos
dela. Sentiu-a ficar tensa e afastar-se um pouco, com medo.
— Eu... Posso não ser
muito boa nisso, eu...
— Você vai ser. — Interrompeu
limpando uma lágrima que escorrera com o polegar. — Você vai ser.
Dizendo isso, Joseph não
perdeu mais tempo e muito calmamente juntou seus lábios aos dela. Já os tinha
sentido uma vez, mas desta vez ele conseguia sentir muito melhor a textura, o
sabor. Ficou com sede dela. Ficou querendo mais que um encosto de lábios e
tentou deslizar sua língua para a boca que ele tanto imaginou beijar. Demetria
estava confusa e quando percebeu o que estava realmente acontecendo, sentiu
várias sensações que há muito não sentia. O frio na barriga, o arrepiar com o
toque das mãos e o desejo de querer sentir mais. Entreabriu os lábios e deixou
que a língua quente dele invadisse e explorasse sua boca. Gemeu baixinho quando
a língua dele tocou a sua, massageando-a erótica e lentamente e esquecendo-se
de que estava nua, levou sua mão até ao antebraço dele, apertando-o.
Ele tinha experiência.
Massageava a língua dela, explorava sua boca e dava pequenas mordidas em seus
lábios. Demetria estava completamente inebriada com o perfume e toque daquele
homem e pela primeira vez, sentiu-se amada de verdade.
Quando Joseph separou o
beijo com pequenos selinhos molhados, teve que abrir os olhos de imediato para
encarar aquele rosto que nunca lhe pareceu tão frágil e tão triste. Sim ela
estava triste e o espelho partido no quarto era o resultado de algo grave que
tinha acontecido com Demetria. Ele tinha a certeza que ela nunca fora tocada
por um homem que a soubesse tocar. E iria descobrir o que tinha acontecido.
Faria de tudo para descobrir. Mesmo não querendo se envolver com aquela mulher
de corpo perfeito, ele tinha feito uma promessa a Jason. E cumpriria.
— Eu não sou ele. — Sussurrou
puxando a cabeça de Demetria para seu peito. — Eu sei tocar uma mulher.
Demetria não aguentou e
voltou a chorar, agora agarrada ao peito de Joseph. Não chorava mais de
tristeza. Não na totalidade. Chorava porque a única pessoa que a tinha feito
sentir-se amada e desejada em toda a sua vida, era a pessoa que ela odiava e
que a odiava também. Sabia que iria arrepender-se daquilo, mas ela sentia que
precisava de Joseph ao lado dela. Como nunca precisou de ninguém.
essa historia é tao *---*
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