Mansão Jonas, Dallas, TX
As luzes da mansão estavam maioritariamente apagadas e o silêncio dominava
o ambiente. Quem visse de fora poderia pensar que era uma mansão assombrada,
quem lá vive ou quem já visitou sabe que é uma das mansões mais luxuosas que
podia existir. Foram poucos os que tiveram sorte de a conhecer, Joseph não era
de receber visitas na própria casa. O único que tinha o direito de fazê-lo
quando bem entendesse, tinha falecido.
Joseph olhou para o próprio jardim da janela de seu escritório e observou a
noite escura. Era como se olhar no espelho. Era solitário, intimidante,
poderoso e amargo. Chegava até a ser triste. Não que ele ou alguém se
importasse. Tinha mais em que pensar e o toque de mensagem recebida era prova
disso.
“Estou infiltrado. Boa impressão que o senhor causou.
Senhor sinistro… Até que combina com você. - Austin”
Sorriu brevemente
ao ler a mensagem de texto. Sabia que tinha contratado um idiota para trabalhar
com ele, mas Austin se superava. Relaxou ao saber que teria mais informações
brevemente. Estava cansado de lidar com crianças e queria resolver tudo isso de
uma vez. Pena que o destino nem sempre era justo.
Ouviu batidas na
porta e praguejou ao ver que não teria descanso tão rápido como pensava. Estava
cansado e só queria uns momentos em silêncio com seu whiskey. Era tudo o que
precisava. Ordenou a quem quer que fosse para que entrasse e voltou a sentar-se
em sua cadeira de executivo que ficava de frente para a porta. Esperou
pacientemente até que viu uma mulher de pele enrugada, mas saudável, adentrar
seu escritório com uns papéis na mão.
— Desculpe
interrompê-lo Joseph, mas preciso que assine estes papeís para amanhã.
— Porque tenho
que ser eu Maria? É assim tão importante que não possa esperar? — Perguntou
cansado.
— Eu disse que
são necessários para amanhã! Lamento que o senhor não passe tempo suficiente em
casa para saber o que acontece por aqui, e que eu saiba o senhor é que é… — Não
terminou a frase ao ver o rosto cansado de Joseph e o olhar de aviso que este
lhe lançava. — Não me olhe assim. Pode despedir-me se assim quiser. Mas você
sabe que precisa de mim aqui. Por isso que não o faz. E se não quer ouvir mais
do que o que já ouviu, apenas assine esses papeis e eu lhe deixarei em paz.
Sabe que se não fosse necessário eu não o incomodaria. — Falou por fim. Joseph
apenas a observou e sorriu de lado. Tantos anos de convivência e era isso que
acontecia. Maria era a única pessoa do mundo capaz de desafiá-lo daquele jeito.
Mais ninguém se atrevia a fazê-lo.
Analisou os
papéis e sorriu. Maria raramente o via sorrir, mas sabia que ele tinha motivos
para isso nesse momento. Estava orgulhoso da novidade. Ela mesma estava orgulhosa.
— Isto é
verdade? — Perguntou olhando Maria, ainda sorrindo.
— É verdade sim.
— Disse enquanto se posicionava ao lado de Joseph.
— Estou
orgulhoso dela. — Falou agora assinando os papéis.
— Ficará ainda
mais orgulhoso se estiver lá para ver. — Alfinetou. Joseph suspirou cansado.
Sabia onde aquela conversa ia dar.
— Maria não
comece. Você sabe que eu...
— Sim eu sei. — Interrompeu
fazendo carinho no cabelo de Joseph. Um carinho materno que ele apreciava,
apesar de não o demonstrar. — Também sei que está errado. Você vai se
arrepender do que está fazendo. Vai perdê-la e depois só lhe sobrará solidão e
dor. Você sabe do que estou falando Joseph, conhece a dor da perda. — Insistiu.
— Maria, você
sabe que não vai me convencer. — Avisou
— Oh eu sei.
Você é a pessoa mais teimosa que eu conheço. Mas por muito que você não esteja
presente e isso a machuque, você a quer por perto e não pode negar isso. Seu
instinto de proteção fala mais alto. Você tem que aprender a aceitar e a lidar
com seus instintos. — Falou pegando os papéis da mão de Joseph. Bastou apenas
uns passos em direção à porta para ouvir joseph chamar por ela com seu tom de
voz agoniado. Ele nunca a enganava.
— Isso
machuca-a? De verdade? — Perguntou com os olhos brilhando de angústia. Algo que
raramente se via em Joseph Jonas.
— Tente ver com
seus próprios olhos de vez em quando Joseph. Ganharia muito mais. — Disse
sorrindo compreensível.
— O que quer
dizer? — Perguntou confuso.
Maria suspirou.
Joseph nunca entendera realmente seus conselhos até à hora de os usar. Preferia
vasculhar a memória à procura de algo que o ajudasse com o problema do momento
em vez de evitar esse mesmo problema.
— Experimente
ver as coisas com o coração de vez em quando. Você usa demasiado essa cabeça e
isso é péssimo. Isto não é a Magestic Incorporated Joseph, é a sua casa. Você
pode perder qualquer coisa lá fora, mas não perde o lar. Só precisa cuidar
dele. — Falou sorrindo enquanto via joseph engolir as palavras que com certeza
lhe custavam a ouvir. — E não me peça para explicar algo que é óbvio. — Joseph
apenas assentiu. Ele compreendia. — Aconselho-o a ir vê-la. Não perde nada por
isso. — Finalizou andando calmamente até à porta do escritório.
— Obrigado. — Disse
amargurado. Maria apenas o olhou e sorriu antes de sair.
Joseph pensou e
repensou em tudo o que Maria tinha dito. Chegou à conclusão de que não podia
mudar as coisas agora, não enquanto não cuidasse de Demetria. Sim, cuidar.
Nunca pensou que teria que cuidar de alguém que era apenas alguns anos mais
novo que ele. Tinha vinte e sete anos e isso nunca esteve em seus planos, mas
ele sabia que tinha que o fazer. Tinha que cuidar dela em nome de Jason. Tinha
feito uma promessa e iria mantê-la a todo o custo, mesmo que Demetria fosse
como fosse.
Flashback On
Os dois homens
andavam calmamente pelo jardim da mansão Jonas. Ambos sorrindo felizes enquanto
falavam do novo campeonato de golf que se aproximava. Risadas femininas eram escutadas
a metros de distância e isso só alargava o sorriso de Jason Lovato. Joseph
nunca entendera realmente o porquê de Jason gostar tanto da risada de uma
mulher. Seu amigo nunca fora dado a amantes e sua teoria era de que um homem só
poderia amar verdadeiramente uma mulher em toda a sua vida. Joseph não
partilhava da mesma opinião.
— Então Joseph,
ouvi dizer que está envolvido num caso com Sarah. Verdade ou boato? — Perguntou
divertido.
— Você sabe
escolher suas assistentes, não tenho culpa nisso. — Respondeu malicioso.
Jason riu do
descaramento do amigo e deu-lhe umas palmadinhas no ombro. Desde que conhecera
Joseph pela primeira vez, sabia que ele era um galã. Sabia também que Joseph
ainda se iria apaixonar loucamente. Conhecia a espécie. Só faltava a mulher certa.
Aproveitaram boa
parte da tarde e Jason ainda tentava criar coragem para contar a novidade que o
amigo precisava saber. Conhecia Joseph, sabia que ele não era sentimental, mas
sabia que era a pessoa mais leal que conhecera. Era o homem ideal para cuidar
de sua pequena quando já não fizesse mais parte desse mundo. Era o único em
quem confiava de olhos fechados, o resto eram apenas peças num jogo de xadrez.
— Joseph, tem algo
que eu preciso contar-lhe. — Comentou enquanto sentavam num dos bancos junto à
fonte de mármore.
— Você sempre
precisa Jason. Não viria aqui de propósito se não tivesse nada que me desejasse
contar. Eu é que ás vezes prefiro acreditar que vem apenas para apreciar minha
companhia. — Disse rindo acompanhado do homem de idade ao seu lado. Ele já
sabia que Jason tinha algo sério pra falar com ele. Para ter adiado a conversa
por tantas horas desde que chegou, é porque era algo grave. Não imaginava o que
podia ser.
— Joseph, já
fazem anos que a gente se conhece. Eu já tenho uma certa idade e já vivi muito
tempo para aprender o que é a vida. Conheço as pessoas ao meu redor e sei quem
está do meu lado e quem não está. Sei que você também sabe. Muitos não apoiam e
criticam o fato de eu ter você, um moço de vinte e seis anos, como meu braço
direito dentro daquela empresa. A verdade é que nenhum deles é merecedor da
minha confiança como você é. Eu vejo você como um neto. Sangue do meu sangue.
— Agradeço sua
confiança e todo o apoio que me deu quando eu mais precisei. Você estava lá
quando mais ninguém estava. Eu nunca vou esquecer isso. — Disse cruzando os
braços fortes e bronzeados sobre o peito duro. Os olhos castanho mel estavam
fixos em algum ponto do horizonte, mas sua mente estava relembrando várias das
conversas que tivera ao longo do tempo com seu confidente.
— Nós somos
parecidos. Nenhum de nós é demasiado emocional além do que deve ser e somos
ambos ótimos profissionais. É por sermos pouco emocionais que peço para que
saiba lidar com esta notícia e é por sermos bons profissionais que eu lhe peço
para manter isto em privado. Sabe o que eu quero dizer. — Sim, Joseph sabia. E
se antes tinha alguma dúvida, então agora tinha certeza de que essa notícia não
seria boa. — Fui diagnosticado com câncer cerebral. — Joseph não queria
acreditar. Esperava qualquer coisa, menos aquilo. Um nó formou-se em sua
garganta e fez o possível para não expressar qualquer emoção. Ele não era
emotivo.
— Câncer? — Perguntou.
Repreendeu-se mentalmente por fazer uma pergunta desnecessária. Ele entendera
muito bem. Jason suspirou e riu brevemente.
— Os médicos
dizem que já está bem avançado. Todos os sintomas que eu tive até agora… Devia
ter notado faz tempo. Pensei que fosse da idade sabe? Um homem fica cansado às
vezes. Nós, magnatas vivemos sob pressão constantemente. Não temos uma vida facilitada.
— Não há tratamentos?
Algo que se possa fazer? — Perguntou esperançoso. Não queria perder o patrão e
amigo. Quem lhe sobraria afinal?
— Joseph, um
homem tem que entender quando é a sua hora. Existe tratamento, mas não acredito
que vá funcionar. Nem os próprios médicos acreditam. Só iria adiar a hora e
aumentar o sofrimento. Eu prefiro que acabe logo. Sabe que eu não sou de
cerimónias.
— Nem para a
chegada da morte. — Disse sorrindo forçado. Aquele homem era seu exemplo.
Idolatrava-o mais que qualquer outra pessoa.
— Nem isso. Na
verdade, sempre vou estar olhando por você e Demetria.
Joseph virou o
rosto na direção do homem.
— Quem é Demetria?
— Perguntou curioso e confuso.
— Uma linda
garota de cabelos pretos, longos e ondulados. Um sorriso que faz qualquer um se
derreter e uns olhos cor de chocolate que são capazes de hipnotizar. — Descreveu
sorrindo. Joseph surpreendeu-se com aquele sorriso e forma de falar. Em todos
estes anos nunca tinha visto Jason com um sorriso tão verdadeiro. — Ela é minha
neta.
— Você tem uma
neta? — Perguntou Joseph surpreso.
— Ninguém sabe.
Além do meu advogado. — Falou agora sério. — Eu e ela não somos tão próximos
como eu desejava que fossemos. Não queria que ela tivesse uma vida como a minha
até estar preparada para isso.
— Como assim
estar preparada? Não estou entendendo.
— Joseph, eu sei
que já não tenho muito tempo, mas eu tenho um último desejo e confio em você
para realizá-lo. Só você pode fazê-lo. Prometa que o fará.
— Posso saber
primeiro do que se trata?
— Esse é mais um
dos motivos de eu gostar tanto de você. Nunca faça promessas que não sabe se
poderá cumprir. — Joseph não pôde evitar um sorriso. Tinha aprendido muito com
Jason e essa era uma das lições que nunca esquecia. — Meu desejo é que tome
conta de Demetria por mim. Cuide dela como se fosse a coisa mais importante do
mundo. Em breve saberá o que precisa através do meu advogado, mas tem que ser
você a encontra-la. Ela não conhece a minha vida realmente. Ficaria assustada
com o tanto que não sabe sobre mim. Você é único em quem eu realmente confio
para cuidar dela. Promete-me que vai cuidar dela?
Joseph analisou
bem o rosto de Jason e sorriu. Não podia recusar um último pedido vindo dele.
Não podia negar-se a fazer algo que era tão importante. Só havia uma dúvida em
sua cabeça, seria ele capaz de fazer isso? Nem da própria vida ele conseguia
comandar direito.
— Prometo. — Disse
por fim recebendo um abraço apertado de Jason. Não sabia se conseguiria, mas
faria o possível para se sair bem.
Flashback Off
Sabia que não
podia quebrar a promessa que tinha feito. Por muito que Demetria não fosse o
que esperava, não podia voltar atrás com sua palavra. Ele era um homem de
palavra.
Pegou no copo de whiskey sobre a mesa de vidro e caminhou de novo até à janela do seu escritório. Tinha que resolver tudo isso de uma vez. As informações que tinha já eram o suficiente. Estava na hora de acabar com toda aquela agonia. Demetria precisava saber o que tinha em mãos. Pegou seu Iphone do bolso da calça preta que usava e procurou o número de Peter Anderson, advogado dos Lovato.
Pegou no copo de whiskey sobre a mesa de vidro e caminhou de novo até à janela do seu escritório. Tinha que resolver tudo isso de uma vez. As informações que tinha já eram o suficiente. Estava na hora de acabar com toda aquela agonia. Demetria precisava saber o que tinha em mãos. Pegou seu Iphone do bolso da calça preta que usava e procurou o número de Peter Anderson, advogado dos Lovato.
— Alô?
— Peter? Daqui
fala Joseph, com certeza deve se lembrar de mim.
— Claro que sim.
Como vai? — Ouviu-o perguntar simpaticamente.
— Ótimo
obrigado. Liguei para avisar que a leitura do testamento vai ser semana que vem
em New Jersey. Na casa da cliente.
— Tudo bem, lá
estarei. Mais alguma coisa que precise?
— Não é tudo.
Obrigado. — Disse por fim desligando a chamada em seguida.
Não podia mais
esperar. A leitura do testamento iria acontecer e Demetria teria que saber
lidar com o que tem, se não souber… Bem, ele de certeza daria um jeito.
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