The Joule,
Dallas, TX
— O que eu faço Selena? O que
eu faço agora? — Perguntou Demetria no telefone enquanto andava de um lado para
o outro no quarto de hotel. — Ele tem o quadro errado! O que eu faço? Eu menti pra ele. Eu disse que aquilo era um simples
pôr do sol de Florença e agora ele vê que é um quadro com um retrato de nós
dois. Como eu vou olhar na cara dele? Que vergonha.
— Não é vergonha nenhuma.
Agora pare de agir como uma doida descontrolada e abra a porta pra mim. — Disse
sorrindo.
— O quê? Como vou...
— Apenas abra a porta
Demetria. — Disse impaciente.
Demetria caminhou até à porta
da suíte e abriu-a com convicção. Deu um grito agudo ao ver Selena parada no
corredor com uma enorme mala ao lado e com o celular ainda na mão. Sem esperar
nem mais um segundo, Demetria lançou-se nos braços da melhor amiga e abraçou-a
com força, sorrindo de felicidade. Fazia mais de uma semana que não se viam e a
saudade já era muita.
— Entra. — Disse puxando-a pra
dentro do quarto. Selena largou a mala num canto e observou Demetria dos pés à
cabeça. Ela parecia tão diferente. — Porque está me olhando assim? — Perguntou
Demetria confusa.
— Você parece diferente. Eu
sabia. — Sussurrou mais pra ela mesma do que pra amiga.
— Diferente como? O que você
sabia?
— Desde que a gente falou por
webcam através do Skype que eu reparei que você estava diferente. Estava mais
feliz. Com um sorriso no rosto que eu há muito não via. E quando Joseph
apareceu na sua suíte você sorriu que nem uma boba apaixonada. Mesmo tentando disfarçar
eu reparei em cada detalhe e aí soube que algo tinha acontecido.
— Selena, tanta coisa
aconteceu. — Disse suspirando. Finalmente podia falar com alguém sobre seus
sentimentos. Não precisava continuar a sufocar-se. — Tanta coisa estranha e
confusa. Tem coisas que ficaram resolvidas, mas tem outras que me deixaram
confusa. Eu não sei lidar com isso. O Joseph é... Diferente, confuso.
— Senta aqui. — Pediu Selena
depois de se sentar em cima da cama perfeitamente arrumada. — Me conta tudo e
não me esconda nada.
Demetria começou a contar tudo
o que acontecera desde o inicio da viagem e Selena ouvia atentamente,
interrompendo sempre que algo a surpreendia.
— Como assim ele te humilha
num elevador e depois invade o seu quarto de hotel e te beija enquanto você
toma banho? Ele é bipolar? Oh meu Deus! Demetria, você estava completamente nua
naquela banheira! Ele é tarado? — Perguntou sem conseguir fechar a boca de
espanto. Demetria corou envergonhada e pegou numa das grandes almofadas para
esconder o rosto. — Nem vem! Me explica isso como se eu fosse muito burra
porque eu não estou entendendo.
Demetria respirou fundo e
agarrou a almofada com força contra o peito. Continuou a contar tudo e explicou
a Selena o que ela tinha sentido e o que tinha feito. Selena percebeu que era
sério e logo segurou sua mão, mostrando que estaria ali pra ela se ela
precisasse. Demetria acabou por contar tudo o que acontecera com ela, mas não
revelou a história de Joseph. Explicou pra melhor amiga o que tinha acontecido,
mas não revelou os motivos pessoais que levavam Joseph a ter aquela atitude.
Ela confiava em Selena, mas não queria contar algo que fazia parte da vida de
Joseph. Era pessoal de mais.
— Amiga, você viveu um conto
de fadas. Florença deve ser uma cidade linda e você viveu esses dias todos com
o seu principe ao seu lado.
— Ele não é meu principe
Selena. Ele não quer nada comigo e é melhor assim.
— Confessa que não o tira da
cabeça. — Insistiu vendo a teimosia da amiga. — Demetria, você já se apaixonou
por ele, e se ainda não está, claramente está ficando aos poucos. Nunca vi você
tão feliz como nesses dias. Até mudou a sua maneira de vestir. Está uma gata.
Joseph faz bem a você. Ele te ajuda a superar os traumas do passado. Por isso
que deixou se envolver.
— Eu sei, mas eu não posso
Selena. — Disse se levantando e caminhando até à janela grande do quarto. — Eu
não posso me apaixonar por ele. Vou acabar me machucando. Eu prometi a mim
mesma que nunca mais seria machucada por um garoto.
— Demetria, você diz isso por
causa de tudo o que Andrew fez você passar. Mas você não consegue ver a
diferença, você não quer. Você sente-a, mas não a vê.
— O que quer dizer?
— Quero dizer que o Joseph não
é um garoto. Ele é um homem e que pelos vistos sabe tratar bem uma mulher. Você
mesma me disse que ele te fez sentir amada, que tem uma atração por você. Você
o atrai como a mulher linda que é, e não como a garota ingénua que o Andrew
usou e desprezou. Você sente a diferença, e a diferença é que você gosta de ser
tocada por ele, você queria que ele te beijasse mais e é por isso que você
ficou desapontada quando ele propôs serem só amigos. Eu sei que você queria
mais, que esperava mais. E você também sabe.
Demetria sabia que Selena
tinha razão, mas o que Selena não sabia é que Joseph só sentia atraído por ela
porque ela era parecida com a atinga paixão dele. Mesmo ele dizendo que não,
Demetria sabia que era assim que as coisas eram, e ela não queria ser comparada
e nem substituta da Alison.
— É tudo tão complicado. — Disse
suspirando sem saber mais o que dizer.
— Você é que complica
Demetria. O que custa dar uns amassos no magnata bonitão? — Perguntou
maliciosa. — Que o Austin não me escute, mas o Joseph é muito gostoso.
— Sim, ele é. — Disse
sorrindo. — Mas não é meu. Ele só sente atração por mim, mas não vai fazer
nada. Ele prometeu ao meu avô que cuidaria de mim e isso não inclui me levar
pra cama.
— É, nisso tem razão. É uma
pena mesmo porque amiga, aquele homem deve ser uma fera na cama. — Disse rindo
e recebendo uma almofada na cara em seguida. Demetria não conseguiu evitar e
acabou rindo junto com ela. Sentia falta das besteiras que a amiga dizia.
— Já chega de falar de mim. O
que você faz em Dallas afinal? Veio a trabalho? — Perguntou enquanto desfazia a
mala da viagem.
— Eu vim a Dallas por quatro
motivos.
— Quais?
— Primeiro porque estava com
saudade de você. — Disse fazendo Demetria sorrir e correr para abraçá-la
apertado. — Segundo porque sou fofoqueira e queria saber cada detalhe dessa sua
viagem com o Joseph. Terceiro porque eu e Austin estamos nos pegando em tudo
quanto é lado e eu fico com saudades dele quando ele vem pra Dallas...
— O que significa que está se
apaixonando por ele. — Interrompeu sorrindo.
— O que significa que estou
ficando amarradona. Apaixonada ainda não. — Corrigiu. — E por quarto e último,
estou de férias durante essa semana e vim ajudar-te com a mudança para casa do
seu avô, que agora é sua.
Quando estava a caminho do
hotel onde estava hospedada, Demetria recebeu um telefonema de Peter avisando
que a casa já estava liberada e que ela podia começar a mudança assim que
quisesse.
— Espera, como você sabe que
vou começar as mudanças se eu mesma só fui avisada hoje?
— Austin consegue ser
eficiente quando quer. — Disse rindo do duplo sentido usado na frase.
— Vocês não se largam agora?
Gamaram? — Perguntou sorrindo.
— Ele gamou claro. — Disse
convencida enquanto ajudava Demetria que se atrapalhava com um vestido
comprido.
— E você colou. Não larga
mais. — Afirmou rindo ao ver a cara boba que a amiga fazia.
— Ai Demi, ele é diferente
sabe? Me trata como uma princesa, só goza depois de eu ter um orgasmo que me
faz gritar ao ponto de acordar os vizinhos, o que prova que não é egoísta, é
gostoso e ainda gosta do meu cachorro. Tem homem melhor que esse?
Demetria riu
descontroladamente das coisas que Selena dizia e só se acalmou quando ouviu seu
celular tocar.
— Onde está o seu bicho?
— Bicho Selena? Sério? E eu
não sei onde pus. — Disse procurando pelo quarto. Selena ajudou a procurar e acabou
achando primeiro que Demetria.
— Achei. Oh, é uma mensagem.
Vamos ver de quem é. — Demetria não se preocupou com que Selena lê-se a
mensagem, aquilo sempre acontecia e ela não se incomodava. — Oh Deus! É do
Joseph! Vou ler.
Demetria arregalou os olhos e
esperou que Selena acabasse de ler a mensagem. Lembrou-se do quadro e também se
lembrou que Selena ainda não sabia disso. Era uma preocupação que Demetria
tinha esquecido com a presença da amiga e agora essa preocupação tinha voltado.
Não queria nem imaginar a vergonha que iria passar.
— Oh Deus, tenho a certeza que
você vai arrepiar. Escuta com atenção o que ele escreveu. — Selena fez uma
pausa olhando para o visor do celular e logo passou a citar. — ”Boa noite.
Espero não estar a acordá-la pois sei que deve estar muito cansada, mas você
tem algo que me pertence. Não sei se já percebeu, mas houve uma troca dos
quadros. Você ficou com o quadro errado e me deu o certo. Obrigada pelo
presente. É realmente um lindo retrato. Consigo ver o brilho dos seus olhos e
isso é encantador. Gostaria de ficar com este retrato como uma lembrança da
viagem maravilhosa que me proporcionou. Há muito tempo que não me divertia.
Ainda assim gostava de saber poque me mentiu. Amanhã conversaremos
pessoalmente. Descanse. Se precisar de algo saberá como me contactar. Durma
bem.”
Demetria não disse nada,
enquanto Selena ria e fazia uma dancinha rídicula. Que mensagem de texto tinha
sido aquela? Ele estava chateado, ou satisfeito? Gostava do quadro ou não?
Porque queria ficar com ele e o que lhe iria dizer no dia seguinte? Demetria
levou as mãos à cabeça e respirou fundo, tentando acalmar os batimentos rápidos
do seu coração.
— Demetria, meu amor, eu não
sei que história de quadro é essa, mas ele foi super fofo. Ficou preocupado com
o fato de poder ter acordado você, ficou preocupado com o seu bem-estar, falou
do brilho dos seus olhos e disse que era encantador e ainda ordenou que
descansasse.
— Ele não ordenou coisa
nenhuma. — Disse já mais calma.
— Desculpa, mas isso pareceu
uma ordem sim. Ele preocupa-se com você. E isso é fofo. — Disse levando as mãos
junto ao peito.
— Ai Selena, eu fiz besteira.
Estou me sentindo mal por ter mentido pra ele.
— Não fica assim amiga, amanhã
você fala com ele e explica a situação. Tudo se resolve. Ele aparenta estar bem
com a situação, não tem porque se preocupar.
— Tem sim. Acredite que tem.
Mas tem razão. Amanhã eu cuido disso.
— Exato, agora vá, me conte
essa história de retrato que eu ainda não entendi tudo isso.
Selena e Demetria passaram o
resto da noite conversando e acabaram nem pregando olho. Seria dificil para
Demetria ir trabalhar no dia seguinte, mas iria fazê-lo do mesmo jeito.
— Bom dia Demetria. Como está?
— Perguntou Austin sorrindo quando encontrou Demetria esperando o elevador com
uma bolsa num ombro e com um quadro na mão do braço contrário.
— Com sono, cansada e a ponto
de te matar se você revelar isso para o Joseph. — Disse fazendo-o rir.
— O que houve? Você parece um
zombi.
— Culpa da sua namorada.
Apareceu ontem no meu quarto de hotel e estivemos conversando a noite toda. Não
dormi nem uma hora. — Disse entrando no elevador assim que este chegou.
— O quê? — Perguntou surpreso
atrás dela. — Demetria, você viajou de Florença para Dallas num voo direto e
ainda não dormiu nada? Faz quantas horas que não dorme?
— Não sei. Umas vinte e quatro
talvez? Algo assim. — Concluiu. — Eu vou sobreviver. Não se preocupe.
— Você não vai direto para o
escritório. Ainda temos tempo, vamos tomar um café.
Demetria concordou e
agradeceu. Apesar de já ter bebido um café quando saíu do hotel sabia que
precisava de outro e provavelmte outro mais tarde.
— Eu lembro que era mais fácil
virar a noite estudando pras provas da faculdade do que agora conversando com a
Selena. Eu não sei o que você fez com ela. — Disse com um tom de voz baixo.
— Eu gamei nela, foi o que eu
fiz. Ela é incrível Demetria. — Falou sorrindo bobo. Ambos colocaram-se na fila
para o café, esperando.
— Então estão bem um pro outro.
— Afirmou sorrindo.
— Quem está bem pra quem? — Perguntou
Joseph bem atrás deles.
Demetria deu um pulo de susto
e congelou no mesmo lugar. Que vergonha, pensava ela. O que iria dizer? Bom
dia? Não, ela não iria nem se virar para encará-lo.
— Bom dia Joseph. Estavamos
falando de mim e da Selena. Ela veio ontem pra Dallas.
— E é por isso que esta senhorita
não dormiu, estou certo? — Perguntou divertido enquanto pousava uma das mãos do
quadril de Demetria.
— É claro que eu dormi. —
Mentiu. — Você que não sabe do que está falando. — Disse ainda sem olhá-lo nos
olhos.
— Aí sim? Então olha pra mim.
— Joseph esperou pacientemente e Demetria acabou por olhá-lo a contragosto. — É,
você não dormiu.
— Está bem, eu admito. Eu e
Selena passamos a noite inteira fofocando, comendo besteiras e vendo filmes de
comédia. Fazia tempo que eu não a via. Não se preocupe. O trabalho vai ser
feito do mesmo jeito.
— Eu não estou preocupado com
o trabalho Demetria. Você foi brilhante em Florença e por enquanto estamos
livres de grandes negócios. Estou é preocupado com você. Nem devia ter vindo
trabalhar. Devia ter ficado a descansar.
— Eu tenho tempo pra descansar
depois. Eu estou bem. Obrigada por se preocuparem. — Agradeceu sorrindo antes
de se virar para a atendente. — Um café forte e de tamanho grande, por favor. —
Pediu educadamente. — E vocês, o que vão querer? — Perguntou já puxando da
carteira.
— Nem pense nisso Lovato. — Avisou
Joseph de cara feia, apertando o quadril dela com firmeza. Demetria suspirou,
mas insistiu.
— Não comece Joseph. É só um
café. — Disse revirando os olhos e voltando a mecher na carteira.
Joseph olhou para Austin e
suspirou cansado da teimosia dela. Num ato brusco tirou a carteira da mão dela
e entregou-a a Austin que já esperava por isso. Demetria olhou-o de cara feia e
tentou recuperar a carteira das mãos do amigo, sem suceso já que Joseph a
prendia contra ele.
— Você é um chato! — Disse
emburrada.
— E você é teimosa! — Retrucou
Joseph olhando-a nos olhos com satisfação.
— Não mais teimosa que você
seu ogro. — Disse fazendo todos à sua volta olhá-los, esperando uma resposta de
Joseph.
Joseph sorriu malicioso e
aproximou-se do ouvido de Demetria para que apenas ela escutasse.
— Só não te respondo a isso
porque estamos cercados de fofoqueiros, mas pode ter a certeza de que isso vai
ter resposta. Quero você no meu escritório daqui a duas horas. Dá mais do que
tempo para pensar numa forma de explicar o porquê de me ter mentido ontem sobre
o retrato. — Demetria engoliu em seco as palavras dele e sentiu que ele a
soltava. — Obrigada pelos cafés Stella. Fica em meu nome. — Disse se referindo
à conta. — Me dá a carteira da Demetria Austin. — Pediu sorrindo. — Preciso de
garantias e ela não vive sem documentos pessoais. — Falou divertido.
— Mas você é um desgraçado
mesmo. Austin não faz isso. — Pediu manhosa.
— Ah qual é! Temos crianças
agora? — Resmungou olhando os dois à sua frente. Viu que Joseph não deixava de
estender a mão e acabou por entregar a carteira, deixando-o satisfeito.
— Qual é o seu problema? Eu
posso te despedir. — Disse Demetria batendo o pé e cruzando os braços sobre o
peito.
— Na verdade, sou eu que
posso. — Interrompeu Joseph sorrindo. — Eu comando o departamento dele e é por
isso que ele só recebe ordens vindas diretamente da minha pessoa.
— Eu não sei qual é o problema
de vocês, mas eu não gostei de ter sofrido ameaça de despedimento duas vezes só
neste mês. Se você gosta de carteiras femininas, é problema seu Joseph. Mas me
deixe fora dos seus fetiches. — Disse fazendo Demetria gargalhar.
Joseph bufou da piada sem
graça e andou em direção ao elevador, deixando os dois colegas de trabalho
rindo. Demetria estava parada em frente à porta do escritório de Joseph e
tentava controlar a ansiedade. Tinha o retrato numa das mãos e já podia sentir
que ela suava.
— Porque não bate à porta de uma vez? Desde a viagem que ele anda muito
bem disposto. Todo o mundo anda comentando isso. Você deve fazer milagres na
cama. — Comentou Ashley atrás dela.
Demetria ignorou os comentários e bateu à porta rapidamente, tendo
autorização em seguida.
— Finalmente hein. — Disse Joseph despois dela entrar e fechar a porta.
— Aqui, isso te pertence. — Disse querendo entregar logo o quadro certo.
Joseph olhou-a e sorriu. Em seguida levantou-se e foi até ela, pegando o
quadro de suas mãos e descobrindo-o rapidamente. Observou a figura de Elizabeth
desenhada na tela e sorriu. Sorriu de orgulho pela filha linda que tinha e
sorriu pela ideia que Demetria tivera. Sabia que Beth iria adorar a suspresa.
— Obrigado. De verdade. Ficou lindo. — Agradeceu ainda olhando o quadro.
— Não tem que agradecer. Agora que a minha parte está feita, tenho
trabalho me esperando. Com licença. — Demetria caminhou até à porta, mas foi
impedida pelo tom de voz sério que Joseph usara.
— Porque mentiu? Porque mentiu logo pra mim Demetria?
Demetria respirou fundo e voltou-se para olhá-lo. Joseph tinha deixado o
retrato, novamente coberto, em cima do sofá junto à parede e agora olhava-a
atento. Estava de braços cruzados e com uma expressão que ela não sabia dizer
se estava aborrecido ou apenas impaciente. Isso a incomodou.
— Eu... — Ela não sabia o que dizer. Não sabia que palavras usar. Estava
morrendo de vergonha e a única coisa que conseguiu fazer foi olhar o chão e brincar
com as própias mãos.
— Estou à espera de uma resposta. Verdadeira desta vez, se assim for
possível. — Comentou agora sarcástico. Isso irritou Demetria e pareceu
satisfazer Joseph. Era isso que ele queria. Sabia que bastava ela estar
irritada para que as verdades saissem.
— Eu não sabia o que dizer. Quer uma resposta? Aí tem! Não sabia o que
você ia pensar ou dizer se soubesse da existência dele. Fiquei com receio de
que tivesse um ataque e descontasse em mim. Não sabia como ia ser quando
aterrássemos aqui em Dallas. Aqueles dias foram... Eu não sabia o que ia mudar,
não sabia se ia gostar de saber do retrato. Por isso menti. Não o queria deixar
lá, no meio dos restantes quadros incompletos e acabei ficando com ele. Eu só
não...
Demetria não conseguiu terminar a frase e não precisou. Joseph sorriu ao
perceber que aqueles dias não tinham sido apenas importantes pra ele como
também tinham sido pra ela. Isso fazia o seu dia. Saber que ela se importava.
— Eu não sou assim tão confuso Demetria. — Comentou não tendo tanta
certeza do que dizia.
— Acredite, você é. — Afirmou sem sombra de dúvidas.
— Tudo bem, até posso ser, mas não tem motivo pra mentir pra mim. Não ia
morder você. — Disse sorrindo e andando até à garrafeira, ao lado de Demetria.
— Eu gostaria de ficar com o retrato, se não se importar é claro. — Pediu
servindo-se de whiskey.
— Porque quer ficar com ele? — Perguntou curiosa. Abanou a cabeça negando
quando ele lhe ofereceu um copo de bebida com um gesto e esperou pela resposta.
— Me trás boas lembranças Demetria. Eu não sei como foi com você, mas esta
viagem pareceu me deixar um homem novo. Eu me sinto diferente, e tenho a
certeza que não são só os ares de Florença. São lembranças que eu não quero
esquecer. Por isso gostaria de ficar com o retrato. Prometo guardá-lo com
carinho. — Explicou bebericando em sua bebida sem deixar de observá-la.
— Tudo bem. — Concordou andando até à grande janela do escritório. Sabia
que Joseph a observava, mas preferia ficar de costas pra ele. Por algum motivo
sentia-se melhor falando com ele se não o encarasse. — Pode ficar com ele. — Ela
gostava de ficar sim com o quadro, mas sabia que com Joseph ele estaria em boas
mãos.
— E você?
— Eu o quê? — Perguntou confusa observando a rua movimentada lá fora.
— Porque queria ficar com ele?
— Quando eu arrastei você para aquela praça, já sabia daquele artista de
rua. Tinhamos passado de carro, mas eu estava tão fixa a ver a cidade pela
janela que reparei em alguns dos quadros dele. Vi o quão bem ele desenhava.
Quando você me disse que a princesinha da foto gostava de arte, logo me veio em
mente a ideia de fazer um retrato daquela foto. Foi a única coisa que surgiu na
minha cabeça, mas achei que podia dar resultado. — Disse suspirando. — Como eu queria
que você visse o resultado apenas no final, tratei de te despistar. Quer dizer,
mais ou menos. Você é Joseph Jonas e isso diz tudo. — Falou soltando uma risada
fraca. Joseph sorriu ao ouvir aquilo e esperou que ela continuasse. — Fui até
ao senhor e falei com ele, perguntei se podia fazer o que eu pretendia. Ele
afirmou que sim e então esperei enquanto ele fazia o que tinha que fazer.
Observei todos os quadros à volta dele até que vi aquele. Perguntei se ele o
tinha desenhado naquele momento e ele respondeu que sim. Isso me surpreendeu
porque a gente só conversou por uns minutos e isso provou o quão talentoso ele
era. — Demetria fez mais uma pausa pensando nas palavras e logo continuou. Não
queria falar de tudo. Não queria falar do que o homem lhe disse. Sobre o amor
puro. — Ao lado dele tinham quadros inacabados e eu perguntei o porquê daquilo.
Sabe o que ele me respondeu?
— Não.
— Que as pessoas viviam rápido de mais, até para apreciar os próprios
momentos que a vida oferece. Não foram exatamente estas palavras, mas você
entende. — Disse dando de ombros. — Eu queria ficar com aquele quadro porque
não queria deixá-lo no meio dos outros inacabados. Eu aproveito os momentos da
vida Joseph. Tento não viver rápido de mais.
Joseph ouviu o silêncio e percebeu que Demetria não iria dizer mais nada.
Sabia que tinha terminado. Pousando o copo agora vazio em cima da mesa de
vidro, Joseph andou até Demetria e abraçou-a por trás, escondendo o rosto na
curva de seu pescoço. Isso apanhou-a de surpresa e ele sentiu que ela ficou
tensa. Ele próprio não sabia o que estava fazendo. Apenas fazia.
— Obrigado por não o ter deixado lá. — Disse ainda se referindo ao quadro.
Demetria suspirou e relaxou nos braços dele, mesmo ainda estando confusa.
Deixou a cabeça cair pra trás, no ombro dele, e em troca recebeu um beijo carinhoso
na bochecha.
— De nada. — Sussurrou fazendo carinho sobre as mãos dele pousadas em sua
barriga reta.
— Joseph onde estão aqueles papeis que...
Demetria assustou-se com a voz feminina presente na sala e fez Joseph
soltá-la rapidamente, corando envergonhada. Preferia que qualquer outra pessoa
os tivesse apanhado num momento mais... pessoal, mas não Ashley. Sabia que
ainda iria ter dores de cabeça em relação àquilo. Com aquela secretária, aquilo
seria como uma guerra.
— Com licença, eu vou trabalhar. — Disse baixo, caminhando a passos firmes
em direção à saída.
Não tinha olhado Ashley uma única vez, mas já sabia que seu descanso tinha
terminado.
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