27/01/2015

Inocente Demetria - 13º Capítulo


Castelo de Miramare, Trieste, IT

Demetria saiu do box e enrolou-se na toalha. Em seguida olhou-se no espelho enquanto secava os cabelos compridos e sorriu. Ela ia a um baile com Joseph e isso aconteceria num monumento histórico. E dos mais lindos que existia. Não podia deixar de lado a sensação de não pertencer ali, mas ela estava vivendo o sonho de muita garota e iria aproveitar da melhor maneira que podia. Quando terminou de secar os cabelos, lembrou-se de que não tinha vestido. Joseph tinha ficado de cuidar disso e até agora não lhe tinha dito nada. E se ele tivesse esquecido? Num ato de puro pânico, correu até ao quarto, quase deixando cair a toalha, e parou de imediato ao ver Joseph sentado na beira da cama com uma caixa grande, retangular ao lado dele. Ele estava sorrindo e quando a viu naquele estado, sorriu ainda mais.

— Você já me viu seminua duas vezes em menos de quarenta e oito horas. Isso tem que acabar. — Disse cansada, tentando se esconder mais dentro da toalha branca que batia a menos do meio da coxa. — Como entrou?
Joseph riu do comentário dela e retirou uma chave do bolso.
— Tenho uma segunda chave deste quarto. Assim como tinha do outro.
— Eu não sei como você faz isso. — Disse incrédula vendo que o robe dela estava nas mãos dele.
— Basta dizer à rececionista que você é minha noiva e que quer ficar virgem até ao casamento e que como pode acontecer alguma coisa, é melhor eu ficar com uma chave do quarto também. — Disse completamente descontraído enquanto Demetria parecia ter um ataque.
— E você ainda diz isso com a maior naturalidade do mundo! — Exclamou roçando um pé no outro enquanto tremia de frio. — E se estiver um homem na receção ao invés de uma mulher? Também lhe pisca o olho? E sim, eu sei que faz isso. — Disse ouvindo-o gargalhar.
— Homens sabem que ás vezes é preciso fazer algo incomum para proteger o que lhes pertence.
— E eu lhe pertenço? — Perguntou erguendo a sobrancelha.
— Eu sinto que tenho que cuidar de você e quero cuidar de você, mas isso não faz de você minha. — Respondeu olhando-a nos olhos. Demetria corou com a resposta de Joseph e baixou o rosto sorrindo. — Está com frio?
— Sim. Me passa o robe por favor? — Pediu estendendo a mão.
— Robe de seda. — Avaliou acariciando a peça. — Tem bom gosto. Vem buscar. — Disse colocando-se de pé.
Demetria apertou mais a toalha contra o corpo e caminhou lentamente até ele. Joseph riu da timidez dela. Parecia uma gatinha assustada. Quando ela chegou perto, Joseph estendeu-lhe a mão e sorriu. Demetria pegou e deixou-se guiar por ele.
— Fique mais perto. — Pediu. Demetria avançou um passo, deixando-os muito próximos.
— Já pode me dar o robe agora?
— Vire-se de costas pra mim. — Demetria virou-se sem entender e respirou fundo quando sentiu o peito de Joseph encostando em suas costas. — Não tem espelhos aqui, não posso vê-la totalmente nua, pode relaxar.
— O que quer dizer? — Perguntou completamente tensa, segurando a toalha com ainda mais força.
— Deixe cair a toalha. — Ordenou sussurrando ao seu ouvido.
— O quê? Não! — Negou querendo se afastar. Joseph segurou-a pelos quadris e manteve-a no lugar.
— Prometo não olhar.
— Como vou saber que vai cumprir? — Perguntou sem coragem de olhá-lo.
— Eu escondo meu rosto e fecho os olhos.
— Como?
— Assim. — Disse afastando o cabelo do ombro dela e escondendo o rosto na curva do pescoço dela, dando pequenos beijos na pele nua e ainda molhada pelo banho recente. Sentiu Demetria arrepiar e sorriu. — Deixe cair a toalha. — Disse levando uma das mãos até à coxa dela, à barra da toalha, puxando-a levemente.
Demetria distraiu-se com os beijos de Joseph em sua pele e inclinou a cabeça, deixando-a cair no ombro de Joseph enquanto libertava a toalha que foi puxada pela mão masculina no mesmo instante. Sentiu-se nua e exposta. Não só o corpo como o interior dela também. Era como se Joseph conseguisse ler os seus pensamentos, ver a sua alma. Ele sabia como tocá-la e sabia a onde ela queria ser tocada sem que invadisse seus limites. Sentiu um calor subir por seu pescoço quando Joseph colou todo o seu corpo ao dela e sentiu-se estremecer quando ele rodeou seu corpo com os braços fortes, sussurrando palavras lindas ao seu ouvido.
— Você é linda. — Murmurou deslizando as mãos pelas coxas dela. — Desejável. — Subiu ambas as mãos até seus quadris e puxou-a para ele, fazendo-a perceber o volume grande dentro da calça. — Cheirosa. — Inspirou o perfume dela e deslizou as mãos pela lateral do seu corpo, passando pela cintura, costelas e roçando na lateral dos seios nus. Demetria arfou com o contato e mordeu o lábio, levando uma mão até aos cabelos da nuca dele.
— Você prometeu. — Sussurrou ofegante. Joseph chupou sua nuca suavemente e sentiu-a arrepiar de novo.
— Não olhei pra você, mas consigo te ver do mesmo jeito. — Sussurrou sem deixar de acariciar o corpo de Demetria que se contraía com os toques dele.
— Como você...
— Se um homem não for um covarde, — Começou ainda de olhos fechados. — ele vai saber reconhecer o corpo de uma bela mulher quando a tem nos braços. Vai saber lhe dar o devido valor. Você é linda Demetria. — Afirmou rouco. — Por dentro e por fora. Não preciso de vê-la com os olhos para conhecer o seu corpo, para saber como é perfeita. As mãos e os lábios desejam mais que os olhos. Sempre.
Demetria estava hipnotizada pelas palavras de Joseph e pelo poder que ele exercia sobre ela. Nunca ninguém a tinha feito sentir-se daquele jeito. Amada, desejada e encantada. Só se sentira assim quando Joseph a beijara, no dia anterior e agora desejava que aquilo se repetisse. Sabia que era errado querer se envolver com alguém como Joseph, sabia que aquele conto de fadas iria acabar mais tarde ou mais cedo, mas ela queria voltar a sentir os lábios dele nos dela. Era assim tão errado querer ser beijada por alguém que exercia tanto poder sobre ela? Era assim tão errado sentir-se excitada por alguém que sabia como tocá-la, como beijá-la?
Joseph pegou a mão de Demetria lentamente e tirou-a de sua nuca, mesmo gostando de tê-la acariciando seus cabelos. Desceu o braço juntamente com o dela e começou a deslizar o roupão por seu corpo acima, cobrindo-a. Em seguida abriu os olhos e virou-a pra si, encarando-a. Demetria olhou nos olhos dele e reparou que eles estavam mais escuros do que o normal. Joseph sorriu e deslizou o dedo indicador desde o colo de Demetria até seu umbigo, passando pelo vale dos seios. Sabia que bastava baixar o olhar para vê-la completamente nua, mas não o faria, não precisava. Em vez disso pegou nas duas laterais do roupão e fechou-o delicadamente.
— Você é uma mulher linda. Nunca deixe que digam ou que a façam sentir o contrário.
Demetria assentiu e cruzou os braços sobre o próprio corpo, sorrindo envergonhada. Sentia o corpo formigar e sentia calor. Muito calor.
— Trouxe o seu vestido. — Avisou Joseph pegando na caixa que estava sobre a cama e entregando a Demetria. — Espero que goste da escolha. Acho que vai ficar bem no seu corpo.
— Obrigada. — Sussurrou, tentando se recompor. Caminhou até à cama e pousou a caixa, abrindo-a. Viu um lindo vestido azul escuro, brilhante, mas discreto. Era longo e o tecido era leve. Era perfeito. — É lindo. — Sussurrou boba, com os olhos brilhantes. — Perfeito. — Completou fazendo Joseph sorrir orgulhoso pela escolha.
— Acho que vai ficar linda nele. Vai realçar a sua pele. — Comentou.
— Espera, você não disse que o baile era de máscaras? Eu esqueci completamente, não tenho máscara. Como vou entrar? — Perguntou já entrando em pânico por ter esquecido daquele detalhe.
— Sua máscara está comigo. — Descansou colocando as mãos nos bolsos da calça.
— Porque não a entrega também? — Perguntou confusa.
— Porque só precisa de máscara no baile, em frente a toda aquela gente. Não comigo.
E dito isso, encaminhou-se à saída, deixando Demetria com a dúvida se aquela frase tinha ou não um duplo sentido.
— Tem fotógrafos lá fora. — Avisou Joseph quando ainda estavam dentro da limusine, em frente à passadeira vermelha da escadaria.
— O quê? — Perguntou Demetria assustada. — Me diz que você está brincando. Por favor!
— Não precisa se preocupar. — Falou entrelaçando sua mão com a dela. — São só fotógrafos. Vamos passar direto, não precisa falar nada. Eu vou estar bem atrás de você.
— Mas e se algo acontecer, as fotografias, eu... Vou ficar exposta. — Disse por fim num sussurro.
Joseph olhou-a atento e entendeu qual era o verdadeiro problema. Ela não queria a sua vida nos jornais. Não queria ficar exposta para o mundo, assim como ele não queria que o mesmo acontecesse a Elizabeth. Sorriu ao lembrar da filha pequena e apertou mais a mão de Demetria, passando-lhe confiança.
— Você não pode ter medo de se expor. Nós nos expomos o tempo todo, para todo o mundo. Você pode querer proteger outra pessoa de ficar exposta, mas não você mesma. Você tem que ir lá e enfrentar de cabeça erguida. Mostrar que é melhor que eles.
— Isso é o que um pai diria a uma filha no primeiro dia de aula. Você parece um pai falando. — Joseph olhou-a atento, assustado com a possibilidade de ela saber de alguma coisa. — Como se isso fosse possível.
— Você diz isso como se fosse uma coisa ruim. Não consegue me imaginar como pai? — Sondou estranhamente ansioso pela a resposta.
— Sinceramente? Não. — Respondeu olhando-o. — Uma criança precisa de amor e carinho, de alguém que possa estar ao lado dela vendo-a crescer a cada dia, e principalmente, alguém que a ensine e que a proteja do que há de ruim lá fora. Eles têm muito tempo de viver a realidade quando forem adultos. A infância é a melhor idade. Você vive dentro daquela empresa Joseph. Não consigo imaginá-lo sendo pai. Não consigo imaginá-lo sendo capaz disso. — As palavras de Demetria atingiram-no como facadas e sentiu um aperto formar-se no peito. Ela tinha razão. Ele não era capaz de ser pai. Nunca foi. Demetria ficou assustada ao ver uma tristeza abater-se sobre o rosto de Joseph e aproximou-se, acariciando seu rosto suavemente. — Disse algo errado? — Perguntou preocupada.
— Não. — Negou prontamente. — Você tem razão, eu nunca serviria para ser pai. Temos que ir agora. — Disse mudando de assunto. — Eu fico com você o tempo todo, não precisa se preocupar. — Sorriu forçadamente e viu-a sorrir em resposta.
— Você faz parecer tão fácil. — Disse respirando fundo.
— Seu avô me ensinou bem. Ele era um homem inteligente.
— Como você o conheceu?
Joseph pensou por um momento, ponderando revelar a história inusitada, mas resolveu não o fazer. Era cedo para que ela descobrisse tudo aquilo.
— É uma longa história. Daquelas que merecem uma boa garrafa de álcool. Temos que ir. Aqui, sua máscara.
Demetria sorriu enquanto ele a ajudava a colocar a máscara e em seguida viu-o colocar a dele, simples e preta, combinando com o smoking em perfeito estado. Quando o motorista abriu a porta Demetria já conseguiu ver os flashes que disparavam repetidamente, cegando quem quer que passasse. Ela não estava preparada para aquilo.
— Demetria. — Chamou Joseph já do lado de fora carro luxuoso, estendendo a mão
Segurando a mão masculina com firmeza, Demetria saiu do carro com todo o cuidado do mundo, tentando não tropeçar nos próprios pés ou pisar no vestido perfeito que Joseph escolhera. Nunca imaginou que estaria assim tão nervosa antes do dia do seu casamento. Sim, ela sempre sonhou em casar-se, mas esse sonho tinha sido destruído fazia tempo. Demetria sorriu quando viu o castelo de Miramare completamente iluminado e deixou-se ser guiada até à grande escadaria.
Demetria sentiu a mão quente de Joseph tocando o fim de suas costas e agradeceu por ele estar ali, perto dela. Quando avançou um passo para passar por entre os fotógrafos, foi atingida pelas fortes luzes das câmaras e fechou os olhos por instinto, parando no lugar.
— Olhe o chão. — Disse Joseph ao seu ouvido. — Seus olhos vão se adaptar.
Demetria fez o que ele tinha dito e voltou a caminhar. Quando estavam perto de passar por todos os fotógrafos uma enorme confusão se formou em volta deles. Demetria não sentia mais a mão de Joseph em suas costas e não o via em mais lugar nenhum, só flashes e um grande alvoroço. Ouviu-o chamar por ela, mas ela não conseguia vê-lo em parte nenhuma.
— Joseph! — Gritou sendo empurrada no meio da multidão.
— Demetria! — Gritou a voz entre os fotógrafos que o afastavam dela.
Ela conseguia ouvi-lo, mas não conseguia vê-lo. Sentiu-se ser empurrada de novo e desta vez não conseguiu manter o equilíbrio. Antes que caísse no chão, sentiu duas mãos frias amparando-a pelos braços. Virou-se para ver quem era e viu um homem pouco mais alto que ela de olhos azuis brilhantes e um sorriso sedutor. Encantador, pensou Demetria.
— Você está bem? — Perguntou o homem com um forte sotaque Italiano. — Estes flashes podem ser traiçoeiros para uma senhorita. — Falou estendendo a mão esquerda. Demetria segurou sua mão e viu que o homem sedutor a levava à boca, cortejando-a.
— Sim, estou bem. — Sorriu tímida. O homem era forte e tinha um queixo quadrado, marcando os traços fortes da descendência Italiana.
— Pode me dar a honra de me dizer o seu nome? — Perguntou gentilmente, quase esquecendo que dezenas de fotógrafos, e Joseph incluído, os observavam.
Demetria sentiu-se corar com tanta cortesia. Não estava habituada a tanta gentileza e aquilo apanhara-a totalmente desprevenida.
— Sou Demetria. — Respondeu retribuindo o sorriso que ele lhe dera.
— Lucas. Prazer em conhecê-la. — Disse avaliando-a, os olhos azuis cintilando. — Me daria a honra de ser minha acompanhante no baile? — Convidou.
Demetria olhou-o e em seguida lembrou-se de Joseph. Olhou para o lado esquerdo e encontrou-o parado, esperando uma resposta como qualquer outro. Ao ver que ele lhe dava as costas em direção ao interior do salão, Demetria sentiu que tinha demorado demais para responder, e ele a abandonara com um novo par.
— Lamento, mas eu já estou acompanhada. — Disse mesmo sabendo que Joseph não iria querer escutá-la.
— Uma dança então? — Insistiu Lucas.
— Tudo bem, uma dança acho que não tem problema. Tenho que ir agora. — Sorriu gentilmente e deu as costas, subindo a escadaria por onde Joseph tinha saído.
Quando entrou no salão com as mãos entrelaçadas à sua frente o baile pareceu parar. Demetria estava perfeita no vestido longo e escuro que destacava o tom de sua pele e isso despertou a atenção de toda a gente. A maior parte masculina. Demetria não estava acostumada a sentir-se tão poderosa e importante como naquele momento. Parecia ser o centro das atenções e não gostava disso. Avistou Joseph parado no outro lado do salão com uma taça de champanhe nas mãos. Falava com outro homem que estava acompanhado por uma mulher já de certa idade, mas ainda assim linda. Caminhou graciosamente pelo meio do salão em direção a Joseph quando um homem de boa aparência se colocou no seu caminho. Joseph tinha os olhos nela, esperando uma atitude.
— Não é muito educado bloquear o caminho de alguém que esteja indo de encontro a seu par. — Respondeu com um sorriso. Um tapa sem mão era sempre a melhor solução.
O homem desculpou-se e deixou que ela seguisse o seu caminho. Quando Demetria chegou perto de Joseph, entrelaçou seu braço com o dele, deixando-o surpreso, olhando-a. Demetria apenas sorriu e esperou que ele fizesse as apresentações.
— Esta é Demetria Lovato, neta de Jason. — Apresentou sorrindo, sem deixar de olhá-la.
— É uma honra finalmente conhecê-la. — Respondeu o homem educadamente, fazendo Demetria olhá-lo. — Jason era um grande homem. Todos nós sentimos muito a sua perda.
— Sim ele era. — Afirmou sorrindo. Demetria analisou o casal à sua frente e reconheceu-os. — É um prazer conhecê-los Sr. e Sra. Ray.
Joseph olhava Demetria completamente encantado. Ela surpreendera-o ao reconhecer aquele casal e surpreendera-se ainda mais quando ela começou a falar da colaboração que estava prevista entre ambas as empresas. Ela estava fazendo um ótimo trabalho. Estava brilhando.
Quando o casal se afastou para falar com outras pessoas, Demetria e Joseph ficaram sozinhos, livre da atenção de outras pessoas, exceto uma.
— Pensei que teria um novo par. — Comentou Joseph sarcástico, enquanto bebericava o seu champanhe.
— Eu já tinha um par. Ele é que me abandonou. — Alfinetou fazendo Joseph olhá-la. Ele tinha um sorriso no rosto e uma sobrancelha erguida.
— Sabe quem era aquele homem? — Perguntou voltando a olhar a multidão no meio do salão.
— Só sei que se chamava Lucas. Nada mais. — Confessou.
— Ele é nada mais, nada mesmo que o menino riquinho filho dos donos da RG. Foi ele quem mudou os planos à última da hora e fez isto. — Disse indicando o salão.
— Até que fez um bom trabalho. Está tudo lindo. — Disse Demetria fazendo-o encará-la.
— Como se livrou dele? Ele tem fama. Quando vê mulher e quer aquela, não larga mais.
— Disse que estava acompanhada e isso bastou. — Respondeu sorrindo.
Joseph olhou-a sem acreditar, sabendo que havia algo mais e quando Demetria iria contar que tinha prometido uma dança a Lucas, o telemóvel de Joseph tocou. Viu que ele olhava no visor e viu que ele ficava com uma expressão séria.
— Eu preciso de atender, já volto. — Disse separando-se gentilmente de Demetria e encaminhando-se até aos jardins do castelo, onde tinha poucas pessoas.
Quando Joseph terminou de falar com a filha pelo telefone, olhou no visor e sorriu ao ver a foto de fundo. Os olhos da pequena eram como os dele e ela era linda. Era o orgulho dele, mesmo que ele não o demonstrasse. Quando viu as horas, reparou que tinha demorado mais do que esperava e logo imaginou em como estaria Demetria, sozinha naquele salão. Ela podia precisar de ajuda com alguma coisa e ele não estaria lá. Sem perder mais tempo, caminhou rapidamente de volta ao salão, esperando encontrar Demetria no mesmo local onde a deixara anteriormente. Quando lá chegou, viu que ela não estava lá, mas viu que uma roda tinha-se formado no salão e que casais dançavam valsa dentro do círculo amontoado.
Joseph foi forçado a fechar o punho com força, controlando a raiva que sentia ao ver aquela cena. Demetria estava dançando com Lucas, ambos deslizavam pela pista e chamavam a atenção de qualquer um. Ambos os corpos estavam muito próximos e Joseph não gostou de como Lucas a segurava nos braços.
Querendo fuzilar qualquer um que lhe aparecesse pela frente, Joseph saiu do salão mais rápido do que entrou. Caminhou de novo para os jardins e sentou-se num banco onde a luz não batia, longe de curiosos.
— Seu idiota, ela estava mais que bem. Você não estava lá. — Concluiu apoiando os cotovelos nos joelhos.
Quando a música terminou, Demetria separou-se imediatamente de Lucas, dando-lhe as costas e procurando por Joseph. Ela tinha-o esperado e quando ia à procura dele, foi quando Lucas resolveu querer dançar com ela. Tinha sido a pior dança da sua vida. A música certa, no sítio certo, com o cara errado.
Caminhou para o jardim e precisou dar voltas e mais voltas até encontrá-lo no escuro, sentado num banco e de braços cruzados sobre o peito. A cara emburrada. Parecia uma criança de castigo e isso fê-la rir enquanto se aproximava.
— Nas aulas de história os jardins gigantes dos castelos pareciam muito mais pequenos. — Disse tentando fazê-lo rir. Sem sucesso. — Aconteceu algo? Você veio cá pra fora e não voltou mais.
— Não que você tenha notado. — Disse sem olhá-la. Ainda estava emburrado.
— É claro que eu notei Joseph, é por isso que estou aqui. Fiquei preocupada.
— Não pareceu preocupada enquanto rodopiava pelo salão nos braços de outro. — Atiçou.
— Era o Lucas. — Explicou. — Você está com ciúmes? — Perguntou sentando-se ao lado dele. Joseph não respondeu. — Olha pra mim. Você está com ciúmes? — Insistiu.
— Estou. — Falou de má vontade, ainda sem olhar pra ela. Ouviu Demetria rir escandalosamente e levantou-se do banco completamente impaciente. — Agora ri?
— Claro, tem graça o fato de você parecer uma criança emburrada. — Falou se levantando também. Sorria sem parar e Joseph não entendia isso. — Porque tem ciúmes? Só porque dancei com Lucas?
— Só? Demetria, eu sou seu par, sua primeira dança devia ter sido comigo. Mais, você devia dançar apenas comigo! — Disse indignado, fazendo com que ela o olhasse sorrindo ainda mais. — Pode parar de sorrir? Isso é sério!
— Você devia se olhar no espelho nesse momento. — Disse ficando próxima a ele e pegando sua mão. — Foi só uma dança. Você já teve mais que isso. — Lembrou envergonhada, fazendo-o sorrir vitorioso. — Se fica mais feliz, vamos dançar.
Sem deixar de sorrir, Demetria levou a mão de Joseph até ao fundo de suas costas e pegou na outra, entrelaçando os dedos e elevando-os até ao nível dos ombros. Joseph não conteve um sorriso e puxou-a para perto dele, aproximando os corpos mais do que em qualquer outra dança.
— Eu conduzo. Você apenas brilha. — Sussurrou começando com os passos leves e graciosos.
Demetria não deixou de sorrir nem por um segundo e agradeceu mentalmente ao avô pela oportunidade de viver aquele momento. Agora ela sentia que estava tendo a dança certa, no momento certo, com o homem certo. Sabia que podia estar imaginando coisas. Sabia que quando voltasse para casa as coisas podiam voltar ao que eram antes. Mas ela estava descobrindo pequenas partes de Joseph que nunca pensou descobrir. Ele estava revelando-se alguém que ela não conhecia e ela estava gostando. Gostando até demais.
— Você é tão parecida com ela. — Sussurrou Joseph olhando carinhosamente para Demetria.
— Ela quem? — Perguntou confusa, ainda rodopiando nos braços dele.
— Alison. — Ouvindo isto, Demetria viu a magia desaparecer daquele mundo e ouviu repetidas vezes em sua mente, Joseph comparando-a a outra mulher.

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