Apartamento de Demetria, Princeton,
NJ
Demetria estava
encolhida na poltrona da sala do apartamento que dividia com Selena. O Inverno
estava próximo e as noites já eram frias. Uma caneca de café quente mantinha
suas mãos aquecidas enquanto ela observava a movimentação da rua que via
através da grande janela. Já estava anoitecendo e Selena trabalharia até tarde
no estúdio, por isso naquela noite seria só ela e o cachorro da amiga que
estava adormecido em seus pés.
Não conseguia
parar de pensar nas voltas que sua vida deu até àquele momento, no quanto tinha
amadurecido e aprendido. Infelizmente aprendera mais com as coisas más do que
com as boas, mas tudo acabava tendo o seu lado bom. Pelo menos era assim que
ela gostava de pensar. Preferia pensar que tinha aguentando todo aquele
sofrimento para que mais tarde pudessem vir as coisas boas, a felicidade e até
quem sabe o amor.
Mesmo depois de
passar anos se negando a qualquer sentimento profundo relacionado a um homem,
bem lá no fundo de sua mente, Demetria ainda tinha a esperança de que as coisas
pudessem melhorar, tinha a esperança de que um dia algo ou alguém a fizesse
mudar e ideias como Selena dissera no outro dia no shopping. O grande problema
é que nada parecia querer mudar. Tudo continuava na mesma ou até mesmo piorando
cada vez mais. A verdade é que o fato de não conseguir arranjar um bom emprego
estava conseguindo deixá-la desesperada. Precisava urgentemente de um trabalho
que mantivesse ocupada a ela e principalmente sua mente masoquista.
Outro problema
era definitivamente o dinheiro. Nunca fora o tipo de mulher que só pensa em
dinheiro. Era uma pessoa humilde e honesta que nunca pensava em futilidades e
no dinheiro que precisaria para gastar nisso. Ela não era gananciosa como os
magnatas das grandes empresas, ela nunca agiria como eles quando passam por
cima de tudo e todos para conseguirem o que querem, nunca iria manter uma vida
de máscaras, falsos relacionamentos e mentiras só para manter a fama e
publicidade. Demetria sabia que valia mais do que tudo isso, era gananciosa por
bons resultados a nível profissional. Queria ser reconhecida pelo bom trabalho
e não pela conta bancária. Tinha potencial para mais e era a isso que tinha que
se agarrar todos os dias para continuar tentando arranjar o emprego que
precisava. Tudo isso antes que suas economias acabassem.
Bebericou um
pouco do seu café e fechou os olhos para apreciar o líquido quente atravessando
sua garganta. Sempre se lembrava dessa mesma sensação quando a mãe lhe
preparava chocolate quente todas as noites antes de deitar, estivesse calor ou
frio o mimo sempre estava presente antes de se preparar para fechar os olhos e
sonhar. Era algo delas, íntimo e maternal. Demetria lembrava bem de como sempre
gostava de conversar com a mãe sobre todos os assuntos imaginários que pudesse
haver entre elas. Não havia segredos. Achava ela. Era claro que com aquela
idade a inocência estava presente e Demetria não era capaz de perceber bem como
as coisas aconteciam. Tinha apenas catorze anos. Era nova demais para que
pudesse entender coisas que nem mesmo os adultos entendiam. Mas foi quando numa
manhã fria que ela chamou pelo nome da mãe e não a encontrou, que ela entendeu
que a vida não era um conto de fadas.
A noite anterior
tinha sido agitada e Demetria nunca tinha visto a mãe chorar e o pai tão bravo
como naquele momento. Tinha se sentido inútil por não ter conseguido ajudar a
mãe e tinha se culpado por ter ficado assustada e ter fugido para o quarto em
vez de a apoiar. Hoje Demetria percebia que ela não merecia qualquer sentimento
de culpa, não merecia sequer pena, não depois de ter fugido e a abandonado.
Quando se deu
conta, uma lágrima escorria lentamente por seu rosto. Agradecia por ter estes
momentos sozinha de vez em quando. Selena era a melhor amiga que podia existir,
mas Demetria sempre preferira o silêncio e a solidão. Era sua maneira de ser.
Limpou a lágrima e observou o cão de Selena que aparentava dormir
profundamente. Ressonava e isso fez Demetria rir. Aquele era o cão mais
preguiçoso que ela já vira em toda a sua vida. Acariciou-o com o pé descalço e
sentiu que ele se enroscava ainda mais nela. Sempre gostou de cães, mas nunca
se dera ao luxo de ter um. Antes de cuidar de um cão tinha que saber cuidar
dela mesma.
Olhou pela
janela de novo e observou a rua movimentada. Viu um carro preto e reparou que
um homem estava parado encostado a ele, provavelmente seria o dono. Já tinha
visto aquele carro anteriormente e aquele homem também. Não era o homem
sinistro do cemitério, era um homem que Demetria reparara no estacionamento do
shopping quando tinha ido almoçar com Selena dias antes. Era um homem diferente
do que tinha visto no funeral de Jason, este usava roupas casuais e não era tão
sinistro como o outro que Selena intitulara de "Deus Grego". Este
parecia mais simpático aos olhos de Demetria, mas o fato de estar parado fora
do carro em frente a porta do seu prédio olhando para a sua janela e para ela,
conseguia acabar com toda a simpatia e ser sinistro do mesmo jeito.
Levantou-se
lentamente e aproximou-se da janela para observar melhor. Viu o homem sorrir e
acenar pra ela. Arregalou os olhos e quase se engasgou quando viu o homem
levantar algo que tinha escrito "Olá Demetria, sou Austin :D".
Afastou-se rapidamente da janela e correu pra cozinha depois de tropeçar no cão
já acordado. Eu só posso estar ficando louca. Aquele homem não pode
simplesmente ter parado em frente ao meu apartamento e ter esperado me ver para
se apresentar. Como ele sabe meu nome? Não, ele não me conhece, não tem como,
isso é só paranóia. Pensou enquanto andava de um lado para o outro.
Olhou para a
janela e resolveu se aproximar só para ter a confirmação de que Austin ainda
estava lá, sorrindo largamente para ela e acenando. Negou freneticamente e
voltou para a poltrona e colocou-se de modo a que ele não pudesse vê-la. Fechou
os olhos e respirou fundo esperando pra que aquilo fosse uma alucinação e não
real. Tudo o que ela não precisava agora era de um maluco psicopata atrás dela.
Ficou vários
minutos de olhos fechados se acalmando até que ouviu a campainha tocar
fazendo-a pular de susto. Fosse quem fosse, ela tinha medo de abrir aquela
porta. Ficou olhando para o cão de Selena e este mandou-lhe um olhar
significativo enquanto andava até à porta.
— Não! Vem cá
Sparrow. Eu não vou abrir essa porta! — Sussurrou para o cão que a ignorou e
começou a arranhar a porta. Ouviu batidas fortes na porta e agarrou uma
almofada contra o peito enquanto se levantava e se aproximava da porta devagar.
— Eu vou me arrepender disso Sparrow. Pode ser o maníaco do carro preto! — Reclamou
enquanto afastava o cão da porta. Aproximou-se do olho mágico para ver quem
era, mas saltou para trás ao ver que a pessoa do outro lado esmurrava a porta.
Sentiu-se
alarmada e pegou o taco de basebol no canto da sala. Era o taco do time
favorito de Selena. Ela nunca percebera o porquê de ter um taco em casa. Agora
ela entendia que podia ser útil.
Manteve a almofada segura com um braço enquanto segurava o taco com a outra. Aproximou-se de novo da porta e ouviu uma voz que a fez relaxar.
Manteve a almofada segura com um braço enquanto segurava o taco com a outra. Aproximou-se de novo da porta e ouviu uma voz que a fez relaxar.
— DEMETRIA! SUA
DESGRAÇADA, ABRE ESSA MALDITA PORTA ANTES QUE EU A DEITE AO CHÃO! — Gritou
Selena do outro lado. Demetria suspirou e abriu a porta dando logo as costas e
voltando para o meio da sala. — Estava a ver que teria que ficar na rua o resto
da noite. Entra. — Disse agora num tom de voz que mostrava claramente que ela
estava sorrindo.
— Pensei que
você ia demorar no estúdio. Não estava esperando por ninguém. Demorei porque
tem aquele maníaco do carro preto lá em baixo e fiquei assustada! Ele sabe meu
nome e isso é impossível! — Disse distraída andando de um lado para o outro.
Sparrow apenas observava a cena sentado com a língua de fora enquanto sua cauda
abanava de um lado para o outro.
— Me desculpa
por ter assustado você, não era a intenção. — Disse uma voz masculina
suavemente. Demetria arregalou os olhos assustada, parou de andar rapidamente e
virou-se para Selena que sorria. Parado ao lado dela estava o maníaco do carro
preto.
— Essa é minha
melhor amiga Demetria Lovato, Demi, esse é Austin Carter.
— Prazer. — Respondeu
Demetria sorrindo forçadamente.
Austin
analisou-a de alto a baixo e sorriu. Demetria estava descalça, com uma bermuda
surrada e uma t-shirt branca, velha. Seu cabelo estava preso num coque mal
feito e seu sorriso, claramente forçado, era composto por perfeitos dentes
brancos e lábios vermelhos carnudos. Estava à vontade na própria casa e mesmo
assim tinha algo nela que mostrava o quanto era guerreira. Prova disso era o
taco de basebol que tinha em mãos. Ele tinha razão. Não se devia subestimar
Demetria Lovato. Felizmente iria deixar que Joseph descobrisse isso por ele
mesmo.
— O prazer é
todo meu Demetria.
— Então… Demi,
porque você está com meu taco de basebol na mão? — Perguntou Selena enquanto
se sentava no sofá maior e indicava a Austin para que se sentasse ao seu lado.
— Eu não estava
esperando que você chegasse agora e, me desculpa Austin, mas eu não o conheço e
você não me conhece e o fato de saber meu nome sem me conhecer, bem, me
assustou um pouco. O mundo não é seguro hoje em dia. Me desculpe por essa
recepção. — Disse sincera.
— Por um lado
foi minha culpa. Eu sei que você tem andado um pouco paranóica nesses últimos
dias e não avisei que Austin nos vinha visitar.
— Tudo bem, não
tem problema.
— Desculpem
perguntar, mas porquê paranóica? Esse não parece ser um bairro perigoso. — Perguntou
Austin fingindo interesse em algo que já sabia.
— O avô de
Demetria faleceu há pouco tempo e isso foi uma grande perda. Eu própria cheguei
e conhecê-lo uma vez e ele era um homem encantador. O funeral foi há pouco
tempo e Demetria conheceu… — Foi interrompida por Demetria.
— Eu não o
conheci, eu só o vi, bem longe, a metros de distância Selena. Austin não dê
atenção ao que ela diz, sempre faz uma grande história em volta de uma palavra.
— Disse fazendo o homem rir.
A verdade é que
ele queria ouvir mais. Queria saber como Demetria se sentia em relação à perda
recente do avô e queria saber a opinião dela sobre Joseph. Acabaram tendo uma
conversa produtiva enquanto bebericavam os cafés que Demetria tinha preparado.
Selena confiava plenamente no homem que tinha conhecido umas semanas atrás e
Austin ficou sabendo o que precisava e até o que não precisava mas que lhe
seria útil.
Tentou disfarçadamente
enviar uma mensagem de texto a alguém que definitivamente a estava esperando,
ansioso por mais novidades. Demetria reparou no gesto, mas acabou por
ignorá-lo. Suspeitava que algo estava errado, mas também sabia que tinha
gostado de Austin. Era uma pessoa espontânea e aparentemente confiável. Apesar
de não ter comentado, não esquecera que o vira no shopping dias antes. Parece
ter sido a única.
AI MEU CORAÇÃO!
ResponderEliminarNácredito q vc t´postando essa fic de novo, é a minha fanfic favorita!
Posta mais pf
Beijos
posta maaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiis
ResponderEliminar