17/01/2015

Inocente Demetria - 3º Capítulo


Apartamento de Demetria, Princeton, NJ

Demetria estava encolhida na poltrona da sala do apartamento que dividia com Selena. O Inverno estava próximo e as noites já eram frias. Uma caneca de café quente mantinha suas mãos aquecidas enquanto ela observava a movimentação da rua que via através da grande janela. Já estava anoitecendo e Selena trabalharia até tarde no estúdio, por isso naquela noite seria só ela e o cachorro da amiga que estava adormecido em seus pés.
Não conseguia parar de pensar nas voltas que sua vida deu até àquele momento, no quanto tinha amadurecido e aprendido. Infelizmente aprendera mais com as coisas más do que com as boas, mas tudo acabava tendo o seu lado bom. Pelo menos era assim que ela gostava de pensar. Preferia pensar que tinha aguentando todo aquele sofrimento para que mais tarde pudessem vir as coisas boas, a felicidade e até quem sabe o amor.

Mesmo depois de passar anos se negando a qualquer sentimento profundo relacionado a um homem, bem lá no fundo de sua mente, Demetria ainda tinha a esperança de que as coisas pudessem melhorar, tinha a esperança de que um dia algo ou alguém a fizesse mudar e ideias como Selena dissera no outro dia no shopping. O grande problema é que nada parecia querer mudar. Tudo continuava na mesma ou até mesmo piorando cada vez mais. A verdade é que o fato de não conseguir arranjar um bom emprego estava conseguindo deixá-la desesperada. Precisava urgentemente de um trabalho que mantivesse ocupada a ela e principalmente sua mente masoquista.
Outro problema era definitivamente o dinheiro. Nunca fora o tipo de mulher que só pensa em dinheiro. Era uma pessoa humilde e honesta que nunca pensava em futilidades e no dinheiro que precisaria para gastar nisso. Ela não era gananciosa como os magnatas das grandes empresas, ela nunca agiria como eles quando passam por cima de tudo e todos para conseguirem o que querem, nunca iria manter uma vida de máscaras, falsos relacionamentos e mentiras só para manter a fama e publicidade. Demetria sabia que valia mais do que tudo isso, era gananciosa por bons resultados a nível profissional. Queria ser reconhecida pelo bom trabalho e não pela conta bancária. Tinha potencial para mais e era a isso que tinha que se agarrar todos os dias para continuar tentando arranjar o emprego que precisava. Tudo isso antes que suas economias acabassem.
Bebericou um pouco do seu café e fechou os olhos para apreciar o líquido quente atravessando sua garganta. Sempre se lembrava dessa mesma sensação quando a mãe lhe preparava chocolate quente todas as noites antes de deitar, estivesse calor ou frio o mimo sempre estava presente antes de se preparar para fechar os olhos e sonhar. Era algo delas, íntimo e maternal. Demetria lembrava bem de como sempre gostava de conversar com a mãe sobre todos os assuntos imaginários que pudesse haver entre elas. Não havia segredos. Achava ela. Era claro que com aquela idade a inocência estava presente e Demetria não era capaz de perceber bem como as coisas aconteciam. Tinha apenas catorze anos. Era nova demais para que pudesse entender coisas que nem mesmo os adultos entendiam. Mas foi quando numa manhã fria que ela chamou pelo nome da mãe e não a encontrou, que ela entendeu que a vida não era um conto de fadas.
A noite anterior tinha sido agitada e Demetria nunca tinha visto a mãe chorar e o pai tão bravo como naquele momento. Tinha se sentido inútil por não ter conseguido ajudar a mãe e tinha se culpado por ter ficado assustada e ter fugido para o quarto em vez de a apoiar. Hoje Demetria percebia que ela não merecia qualquer sentimento de culpa, não merecia sequer pena, não depois de ter fugido e a abandonado.
Quando se deu conta, uma lágrima escorria lentamente por seu rosto. Agradecia por ter estes momentos sozinha de vez em quando. Selena era a melhor amiga que podia existir, mas Demetria sempre preferira o silêncio e a solidão. Era sua maneira de ser. Limpou a lágrima e observou o cão de Selena que aparentava dormir profundamente. Ressonava e isso fez Demetria rir. Aquele era o cão mais preguiçoso que ela já vira em toda a sua vida. Acariciou-o com o pé descalço e sentiu que ele se enroscava ainda mais nela. Sempre gostou de cães, mas nunca se dera ao luxo de ter um. Antes de cuidar de um cão tinha que saber cuidar dela mesma.
Olhou pela janela de novo e observou a rua movimentada. Viu um carro preto e reparou que um homem estava parado encostado a ele, provavelmente seria o dono. Já tinha visto aquele carro anteriormente e aquele homem também. Não era o homem sinistro do cemitério, era um homem que Demetria reparara no estacionamento do shopping quando tinha ido almoçar com Selena dias antes. Era um homem diferente do que tinha visto no funeral de Jason, este usava roupas casuais e não era tão sinistro como o outro que Selena intitulara de "Deus Grego". Este parecia mais simpático aos olhos de Demetria, mas o fato de estar parado fora do carro em frente a porta do seu prédio olhando para a sua janela e para ela, conseguia acabar com toda a simpatia e ser sinistro do mesmo jeito.
Levantou-se lentamente e aproximou-se da janela para observar melhor. Viu o homem sorrir e acenar pra ela. Arregalou os olhos e quase se engasgou quando viu o homem levantar algo que tinha escrito "Olá Demetria, sou Austin :D". Afastou-se rapidamente da janela e correu pra cozinha depois de tropeçar no cão já acordado. Eu só posso estar ficando louca. Aquele homem não pode simplesmente ter parado em frente ao meu apartamento e ter esperado me ver para se apresentar. Como ele sabe meu nome? Não, ele não me conhece, não tem como, isso é só paranóia. Pensou enquanto andava de um lado para o outro.
Olhou para a janela e resolveu se aproximar só para ter a confirmação de que Austin ainda estava lá, sorrindo largamente para ela e acenando. Negou freneticamente e voltou para a poltrona e colocou-se de modo a que ele não pudesse vê-la. Fechou os olhos e respirou fundo esperando pra que aquilo fosse uma alucinação e não real. Tudo o que ela não precisava agora era de um maluco psicopata atrás dela.
Ficou vários minutos de olhos fechados se acalmando até que ouviu a campainha tocar fazendo-a pular de susto. Fosse quem fosse, ela tinha medo de abrir aquela porta. Ficou olhando para o cão de Selena e este mandou-lhe um olhar significativo enquanto andava até à porta.
— Não! Vem cá Sparrow. Eu não vou abrir essa porta! — Sussurrou para o cão que a ignorou e começou a arranhar a porta. Ouviu batidas fortes na porta e agarrou uma almofada contra o peito enquanto se levantava e se aproximava da porta devagar. — Eu vou me arrepender disso Sparrow. Pode ser o maníaco do carro preto! — Reclamou enquanto afastava o cão da porta. Aproximou-se do olho mágico para ver quem era, mas saltou para trás ao ver que a pessoa do outro lado esmurrava a porta.
Sentiu-se alarmada e pegou o taco de basebol no canto da sala. Era o taco do time favorito de Selena. Ela nunca percebera o porquê de ter um taco em casa. Agora ela entendia que podia ser útil.
Manteve a almofada segura com um braço enquanto segurava o taco com a outra. Aproximou-se de novo da porta e ouviu uma voz que a fez relaxar.
— DEMETRIA! SUA DESGRAÇADA, ABRE ESSA MALDITA PORTA ANTES QUE EU A DEITE AO CHÃO! — Gritou Selena do outro lado. Demetria suspirou e abriu a porta dando logo as costas e voltando para o meio da sala. — Estava a ver que teria que ficar na rua o resto da noite. Entra. — Disse agora num tom de voz que mostrava claramente que ela estava sorrindo.
— Pensei que você ia demorar no estúdio. Não estava esperando por ninguém. Demorei porque tem aquele maníaco do carro preto lá em baixo e fiquei assustada! Ele sabe meu nome e isso é impossível! — Disse distraída andando de um lado para o outro. Sparrow apenas observava a cena sentado com a língua de fora enquanto sua cauda abanava de um lado para o outro.
— Me desculpa por ter assustado você, não era a intenção. — Disse uma voz masculina suavemente. Demetria arregalou os olhos assustada, parou de andar rapidamente e virou-se para Selena que sorria. Parado ao lado dela estava o maníaco do carro preto.
— Essa é minha melhor amiga Demetria Lovato, Demi, esse é Austin Carter.
— Prazer. — Respondeu Demetria sorrindo forçadamente.
Austin analisou-a de alto a baixo e sorriu. Demetria estava descalça, com uma bermuda surrada e uma t-shirt branca, velha. Seu cabelo estava preso num coque mal feito e seu sorriso, claramente forçado, era composto por perfeitos dentes brancos e lábios vermelhos carnudos. Estava à vontade na própria casa e mesmo assim tinha algo nela que mostrava o quanto era guerreira. Prova disso era o taco de basebol que tinha em mãos. Ele tinha razão. Não se devia subestimar Demetria Lovato. Felizmente iria deixar que Joseph descobrisse isso por ele mesmo.
— O prazer é todo meu Demetria.
— Então… Demi, porque você está com meu taco de basebol na mão? — Perguntou Selena enquanto se sentava no sofá maior e indicava a Austin para que se sentasse ao seu lado.
— Eu não estava esperando que você chegasse agora e, me desculpa Austin, mas eu não o conheço e você não me conhece e o fato de saber meu nome sem me conhecer, bem, me assustou um pouco. O mundo não é seguro hoje em dia. Me desculpe por essa recepção. — Disse sincera.
— Por um lado foi minha culpa. Eu sei que você tem andado um pouco paranóica nesses últimos dias e não avisei que Austin nos vinha visitar.
— Tudo bem, não tem problema.
— Desculpem perguntar, mas porquê paranóica? Esse não parece ser um bairro perigoso. — Perguntou Austin fingindo interesse em algo que já sabia.
— O avô de Demetria faleceu há pouco tempo e isso foi uma grande perda. Eu própria cheguei e conhecê-lo uma vez e ele era um homem encantador. O funeral foi há pouco tempo e Demetria conheceu… — Foi interrompida por Demetria.
— Eu não o conheci, eu só o vi, bem longe, a metros de distância Selena. Austin não dê atenção ao que ela diz, sempre faz uma grande história em volta de uma palavra. — Disse fazendo o homem rir.
A verdade é que ele queria ouvir mais. Queria saber como Demetria se sentia em relação à perda recente do avô e queria saber a opinião dela sobre Joseph. Acabaram tendo uma conversa produtiva enquanto bebericavam os cafés que Demetria tinha preparado. Selena confiava plenamente no homem que tinha conhecido umas semanas atrás e Austin ficou sabendo o que precisava e até o que não precisava mas que lhe seria útil.
Tentou disfarçadamente enviar uma mensagem de texto a alguém que definitivamente a estava esperando, ansioso por mais novidades. Demetria reparou no gesto, mas acabou por ignorá-lo. Suspeitava que algo estava errado, mas também sabia que tinha gostado de Austin. Era uma pessoa espontânea e aparentemente confiável. Apesar de não ter comentado, não esquecera que o vira no shopping dias antes. Parece ter sido a única.

2 comentários:

  1. AI MEU CORAÇÃO!
    Nácredito q vc t´postando essa fic de novo, é a minha fanfic favorita!
    Posta mais pf

    Beijos

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  2. posta maaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiis

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