Princeton Shopping Center
— Estou-te dizendo Selena, aquele
homem era muito sinistro. — Falou enquanto sentava de frente para Selena e
pousava o tabuleiro de comida na mesa.
— Era gostoso? — Perguntou sorrindo
maliciosa.
— Qual foi a parte do 'ser sinistro',
que você não entendeu? — Repreendeu. — Ele era… Esquisito. — Não acreditava que
estava contando isso para sua melhor amiga. Sabia que Selena não a deixaria
sossegada enquanto não desse os detalhes de como aquele homem tinha aparecido.
Demetria não conseguira esquecê-lo
desde aquela quarta-feira. Aquele homem era demasiado misterioso, e a pior
coisa em Demetria? Ela sempre gostava de mistérios que não devia sequer tentar
desvendar.
— Tudo bem, mas você viu-o num
funeral, o que você esperava vindo de um cemitério? Uma banca de sorvete e
casais apaixonados? — Deu uma mordida no hambúrguer e olhou pra Demetria
esperando uma resposta.
— Eu sei que isso devia ser normal
por ser em um funeral, mas ele não parava de me encarar. Parecia até que
estava... Me estudando. Sei lá. Foi muito estranho. — Deu de ombros.
Lembrava-se muito bem do olhar que
percorreu seu corpo naquele cemitério. Não gostou nada do que via nele. Apenas
mais um homem a subestimando como todos os outros.
— Já pensou que o homem podia estar
interessado em você?
— Parecia que ele queria ver através
de mim! — Disse incrédula. Viu o sorriso divertido no rosto de Selena e
suspirou. — Que tipo de homem que está interessado em você faz isso antes do
primeiro encontro? — Perguntou agora divertida. Tinha ouvido muitas histórias
da sua melhor amiga ao longo dos anos para saber como contornar a situação.
— Verdade. — Respondeu fazendo uma
careta. — Normalmente ele quer mais do que ver através de você, ele quer logo
estar dentro de você. — Comentou como se fosse a coisa mais normal do mundo.
— Selena, posso apreciar meu
hambúrguer sem molho de sacanagem, por favor? — Questionou séria.
— Tudo bem senhorita puritana. — Falou
rindo. Selena sabia lidar com Demetria melhor que ninguém. Compreendia os
traumas que ela obtera desde que tudo acontecera. Só não compreendia por que
ela não tentava superá-los. — Mas ainda acho que ele está, sim, interessado em
você. Ou então é você que está confundindo e ele estava encarando outra pessoa,
afinal, era um funeral, devia ter várias pessoas lá.
— Na verdade tinha muitas. Tinha até
jornalistas e policia. — Disse pensativa. Não sabia o porquê da presença dos
jornalistas e policiais, mas também não tentaria saber.
— Você está brincando, né? Como eu
fui perder isso? — Perguntou incrédula. — Mas espera aí, isso não está certo. O
que jornalistas e policiais faziam no funeral do seu avô? Estava havendo um
funeral de uma celebridade ao lado?
— Não. Aquele era o único funeral no
cemitério. — Suspirou. Não queria se envolver nesse assunto de jornalistas e
policia. Não precisava disso em sua vida.
— Então o que eles lá faziam?
— Não faço ideia do que possa ser. E
sinceramente, não me quero envolver Selena. — Disse tentando acabar com o
assunto.
— Seu avô era alguém importante no mundo
da economia ou algo assim? — Insistiu. Selena também não achava normal haver
imprensa e policia no funeral de Jason. Pelo pouco que sabia sobre o avô de
Demi ele tinha uma pequena fazenda e alguns terrenos em Dallas, onde sempre
viveu.
— Meu avô? — Perguntou com um tom de
descrença na voz. — Claro que não Selena. Ele sempre foi muito dedicado àquela
fazenda lá no Texas. Passava o tempo a viajar cuidando de vendas de terrenos.
Bem, acho que isso contribuiu para a economia do nosso país, de alguma forma.
— Se você diz. — Deu em ombros. — Talvez
esse homem sinistro que você falou seja alguém importante e conhecesse seu avô
dessas vendas. Talvez fosse por ele que os jornalistas lá estavam. — Supôs. Ela
não iria desistir enquanto não obtivesse mais informação sobre esse homem
misterioso.
Demetria precisava de um namorado e
Selena sabia que esse homem ainda ia ser assunto de muitas conversas entre
elas. Demetria nunca falava de homens, ou quase nunca.
— É uma opção. — disse claramente
querendo mudar de assunto. Selena suspirou e fitou o rosto abalado da amiga.
— Me desculpa não ter ido ao funeral
com você. Estou me sentindo horrível por não ter podido ir. — Disse sincera.
— Ei! Não se preocupa. Você não podia
viajar até Dallas para ir a um funeral, tinha que trabalhar. Não é fácil
arranjar trabalho no mundo da moda e você acabou de começar a sua carreira de
estilista. Não pode perder o foco.
— Demetria, era seu avô. — Disse óbvia.
Demetria suspirou.
— Eu sei. Mas nós não éramos tão
próximos como você pode pensar. Não o via desde que era pequena. Minha mãe
sempre dizia que ele viajava muito e que por isso não aparecia no Natal ou
aniversários. Ou qualquer outra data do ano. — Selena conseguiu perceber o
remorso que Demetria sentia. Ela não era boa a esconder os sentimentos, as
pessoas é que a deixavam pensar que sim. Muitas delas por não se importarem,
outras por simplesmente respeitarem. Quando Demetria decidia algo, ela tinha que
o fazer. — Ele realmente não se importava tanto assim.
— Mas você sim. Tanto se importava
com ele que foi ao funeral. — Disse séria. Sabia como contradizer Demetria.
Sabia como fazê-la admitir seus verdadeiros sentimentos. Muitos anos de amizade
são valorizados para sempre. — Foi muita gente que você conhecia? — Perguntou
tentando acabar com a tensão que se formara entre elas.
— Meu pai estava lá. — Disse simples
fazendo Selena arregalar os olhos e engasgar com o suco que estava bebendo. — Não
falámos um com o outro se é isso que quer saber. — Adiantou já imaginando o que
se estaria passando na cabeça da amiga. Desde que tinha saído de casa que não
falava com o pai. Este não a procurara desde então e não seria ela que iria até
ele. Nem que estivesse morrendo.
— Quanto tempo mais vai ficar sem
falar com seu pai? — Selena sabia que esse era um assunto delicado para
Demetria. Desde que tinham ido viver juntas que se lembrava de ouvir Demetria
chorando noites inteiras. Até que da noite para o dia isso acabou.
— A vida toda se precisar. — Deu de
ombros num claro 'não importa'. Não mudaria sua opinião. Nem faria nada para o
perdoar. Não até que ele mostrasse ser merecedor do seu perdão.
— Você nunca vai perdoá-lo, pois não?
— Talvez um dia depois da morte.
Selena não disse mais nada sobre o
assunto. Sabia que seria difícil fazer a amiga mudar de ideias. Enquanto ela
estivesse magoada daquele jeito, nada ia mudar. E sabia que não era fácil
perdoar. Não o que acontecera. Tudo aconteceu como um tsunami na vida de
Demetria, e os estragos tinham sido enormes.
— Hum, mudando de assunto. Você
conseguiu aquele emprego no qual se candidatou? — Era clara a animação na voz
de Selena. Fazia meses que Demetria estava tentando encontrar um emprego na
área do qual se formou, Gestão Administrativa.
— Não. Pelo menos até agora não me
deram resposta em nenhumas das entrevistas a que fui. Nunca pensei que arranjar
emprego fosse assim tão difícil Selena. — Demetria suspirou. Andava à meses
tentando encontrar algo que fosse seu objetivo e ainda não encontrara nada.
— Você vai conseguir, vai ver. Você
foi a melhor qualificada do seu curso. Tem tudo pra ser uma gestora de sucesso.
— Sorriu confiante. Ela sabia como era difícil. Passara pelo mesmo uns meses
atrás.
— Tem razão. — Falou sorrindo. —
Tenho que ser confiante.
— Assim que se fala. Agora me fala
você. O gato do cemitério é gato mesmo ou é rato? — Demetria revirou os olhos.
Sabia que não podia escapar do interrogatório da amiga e repreendeu-se
mentalmente por lhe ter contado algo tão… Ridículo.
— É gato. — Disse se repreendendo
novamente por admiti-lo em voz alta.
— Só isso? É gato e pronto? —
Perguntou incrédula. — Conta mais Demetria Lovato! — Demetria não compreendia
porque Selena e todas as outras raparigas ficavam batendo palminhas quando o
assunto era rapazes. Era tão imaturo.
— O que você quer que eu diga mais
hein? Ele estava a metros de distância.
— E o que isso tem haver? Meu amor,
eu quero saber tudo. — Demetria suspirou quando Selena começou a enumerar pelos
dedos. — Raça, penugem, olhos, orelhas, bigodes, cauda, tamanho da pata e até
se faz 'ronron' ou se faz 'miau miau'. — Demetria riu das loucuras da amiga
enquanto ela continuava a falar despreocupadamente.
— Ah Selena, ele estava muito sério.
Parecia ser do tipo arrogante e aparentava ser bem mais velho. — Disse se
rendendo ao interrogatório da amiga. Já que não podia escapar da tortura, ao
menos que acabasse logo.
— Velho novo ou velho velho?
— Era uma daquelas cobras que deixa
charme por onde passa. — Falou dando de ombros.
— Cobra Demetria? Ele não é assim tão
mau, tenho a certeza. Mas isso significa que é um gostoso sedutor. — Falou
mordendo o lábio inferior. Demetria já sabia que Selena estava tendo
pensamentos impróprios. Resolveu ignorar.
— É impossível você saber que tipo de
homem ele é. Nunca o viu.
— O que ele vestia? — Perguntou
ignorando o comentário. Confusão era o que mostrava a expressão de Demetria.
— Para quê você quer saber o que ele
vestia?
— Para ter a certeza do tipo de homem
que ele é. — Falou como se fosse obvio. Demetria riu.
— Como você vai fazer isso? —
Desafiou.
— Apenas diga o que ele vestia e como
era e aprenda. — Demetria suspirou derrotada. Se havia alguém neste mundo que
entendia perfeitamente de moda e homens, esse alguém era Selena. Totalmente o
contrário dela.
— Ele tinha um corte de cabelo curto
e moderno. Eu acho. — Começou. Seria melhor colaborar se
queria que terminassem aquele almoço.
— À macho? — Perguntou erguendo uma
sobrancelha. Demetria apenas assentiu rindo.
— Usava um smoking preto...
— De grife? Qual? — Interrompeu
excitada.
— Você sabe que eu não entendo nada
disso. Mas acho que era Calvin Klein. Parecia um terno moderno e não aqueles
clássicos que você vê nos velhos de grandes empresas. Você sempre fala que os
melhores smokings eram de Calvin Klein por serem modernos e essas coisas, então
eu acho que era sim.
— Era como nos meus desenhos? —
Demetria apenas assentiu. — Calvin Klein. Ótima escolha. Continua. — Ordenou.
Demetria não entendia o sorriso no rosto da amiga, mas também não sabia se
queria entender.
— Usava sapato preto...
— De verniz? — Interrompeu de novo.
Revirou os olhos vendo a confusão no rosto da amiga. — Era aquele tipo de
sapato que brilhava na luz?
— Bem, não havia muito sol, mas sim
era.
— Tenho a certeza que era um Marc
Jacobs. — Falou sorrindo boba. Selena conseguia ser muito sonhadora quando a
conversa era moda.
— Como sabe tudo isso se nem viu?
— Bom gosto meu amor. Agora contínua
vá. — Demetria suspirou de novo. Definitivamente não entendia nada de moda.
— Usava uma casaco grande, grosso e
preto. Daqueles que vão até ao joelho.
— Hum. Demetria o seu gato é um gato
daqueles.
— O quê? Você enlouqueceu de vez! Ele
não é meu gato coisa nenhuma. Não começa Selena!
— Estou falando sério. Toda a roupa
que você descreveu só prova que ele tem bom gosto. Entende de moda e sabe o que
vestir nas ocasiões certas. Pelo corte de cabelo que você mencionou, aposto que
ele é um sedutor romântico. Daquele tipo de romances italianos. — Suspirou. — Aposto
que é ótimo na cama. O sexo deve ser incrivelmente e fodasticamente gostoso com
ele.
— Selena! — Repreendeu Demetria. — Enlouqueceu?
— Que nada. Você é que ganhou a sorte
grande e nem sabe. Sabe como é difícil arranjar um bom homem que faça um bom sexo
hoje em dia? A maior parte deixa muito a desejar.
— Por amor de Deus. Nós estamos na
praça de alimentação de um shopping. Esqueceu que isso é um local público?
— Ah Demetria, você é muito puritana.
No outro dia na paragem de ónibus estavam dois rapazes que deviam ter seus 17
ou 18 anos a falar da maior suruba que houve numa festa do final de semana
anterior. E falavam à frente das pobres senhoras de idade. Com detalhes! Aposto
que elas aqueceram como nunca.
— Eu não acredito nisso. — Sussurrou
olhando para os lados para ver se alguém ouvira. — E desde quando você teve que
apanhar o ónibus?
— Desde que tive que ir ao stand
pegar meu carro. — Disse como se fosse óbvio.
— Entendi. Mas de qualquer jeito, eu
não quero que você construa histórias loucas na sua cabeça.
— Aposto que ainda vão se encontrar
de novo, e se conhecer, e se dar bem, e viver uma linda história de amor, bem
como você merece. — Falou sorrindo. Ela sabia o que estava dizendo e sabia que
Demetria merecia. Demetria precisava se apaixonar.
— Selena, eu não tenho tempo para
coisas idiotas como essa. Contos de fadas não existem e homens bons também não.
São todos iguais e sempre acabam nos machucando no final. Além disso, eu tenho
uma carreira pra cuidar. Uma carreira que só por acaso ainda nem começou.
— Demetria olha pra mim. — Pediu
séria. — Nunca esquece o que eu te vou dizer agora. — Demetria esperou em
silêncio. Quando Selena falava assim significava que era pra ser ouvida sem
questionamentos. Não sabia como, mas o que ela dizia sempre acontecia. — Tem um
homem nesse mundo que ainda vai fazer você mudar de ideia. Ele vai fazer você
feliz como merece e você vai me dar razão. Você ainda vai se apaixonar. De
novo!
Demetria nada disse. Apenas encarou a
amiga que sorria para ela. Absorvia cada palavra que Selena dissera e
perguntava-se se seria possível que aquilo fosse verdade. Mas não, não era. Os
homens eram todos iguais e isso dificilmente iria mudar. Ela sabia disso.
uuuuuuhhhh essa historia amoooooo
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