Apartamento de Demetria, Princeton, NJ
— Selena! Cheguei! — Gritou depois de
fechar a porta. Selena correu da cozinha até à sala com um grande sorriso e Demetria
não conseguiu evitar sorrir de volta.
— Então conseguiu? — Perguntou animada.
Viu a tristeza tomar conta do rosto da melhor amiga e foi até ela de braços
abertos para um abraço. — Tudo bem Demi. Você vai conseguir.
Demetria queria acreditar naquilo, queria
realmente, mas estava ficando cada vez mais complicado acreditar que
conseguiria arranjar o emprego que tanto desejava. Estava se considerando um
fracasso e sentia-se incapaz de continuar sua procura.
— Está muito complicado Selena, muito
mesmo. Parece que escolhi o caminho errado. — Suspirou sentando-se no grande
sofá preto. — Acho que devia ter seguido outra área qualquer. Eu não nasci para
dominar uma empresa, nem para os cargos pequenos me contratam, quanto mais para
gerir.
— Demetria, você é a melhor que eu
conheço. Você é inteligente e sabe como e quando agir em todas as situações.
— Sério? Porque, sinceramente, eu não
estou conseguindo agir nesta situação Selena. Eu não sei o que fazer. Se eu não
tiver uma oportunidade brevemente, eu vou desistir e vou trabalhar em qualquer
outra coisa. Eu não posso ficar à espera que uma oportunidade de trabalho me
venha bater à porta. Isso nunca vai acontecer!
Selena ia responder quando se ouviu o
soar da campainha. Franziu o cenho e olhou Demetria. Não esperavam visitas
naquele momento.
— Vou abrir. — Falou encaminhando-se à
porta de entrada. Demetria apenas escondeu o rosto em suas mãos e suspirou. O
dia não estava sendo fácil e quem quer que fosse naquele momento, não tinha
vindo na melhor altura.
Ouviu a voz de Austin e sorriu
brevemente. Gostava do amigo de Selena, apesar de achar estranho o fato de eles
serem tão íntimos com apenas algumas semanas de ‘amizade’. Mesmo Austin estando
tão presente na vida delas nessa ultima semana, ainda havia coisas que Demetria
suspeitava, como por exemplo, o fato de o ver sempre com um celular nas mãos e
conversas suspeitas e o fato de uma conversa entre eles levar sempre direto à
família de Demetria. Não entendia esse interesse de Austin em sua vida pessoal.
Não eram amigos e muito menos partilhavam qualquer outro tipo de ligações. Ele
era estranho, mas mesmo assim Demetria sorria sempre que o via. Era impossível
não sorrir quando ele estava presente.
Ouviu Selena cumprimentá-lo e ouviu
mais duas vozes masculinas. Uma delas calma e melodiosa e outra completamente
diferente. Esta ultima era firme, intimidante e rouca o suficiente para
provocar um arrepio na espinha. Demetria sentiu-se tremer e fechou os olhos.
Não gostava da sensação de poder que uma simples voz tinha sobre ela.
— Demetria, está tudo bem? — Perguntou
Austin ao vê-la encolhida nos próprios braços.
Das várias conversas que tinham tido,
não tinha conseguido decifrar Demetria. Não conseguira obter quase nenhuma
informação sobre a família dela, mas tinha percebido que algo muito mau tinha
acontecido no passado para fazê-la mudar de assunto sempre que ele tentava
saber mais. Demetria gostava dele, sim, mas não confiava. Ela desconfiava de
todos os sinais que ele deixou para que ela notasse. Era um teste e ela tinha
passado brilhantemente. Demetria não confiava facilmente nas pessoas, não se
deixava ser manipulada e muito menos enganada. Era um ótimo começo. Tudo isso
era bom, mas tinha percebido que ela andava assustada e frágil desde que o avô
morrera. Ela não conseguia fingir por muito que tentasse.
— Está tudo bem sim. — Respondeu
elevando o rosto.
Demetria tinha um lindo sorriso no
rosto, afinal, Austin não era responsável por nenhum dos seus problemas, mas
esse mesmo sorriso desapareceu no momento em que ela pôs os olhos em Joseph
Jonas. Era o homem sinistro do cemitério, em seu lar.
— Prazer, sou Joseph Jonas. — Disse
frio.
Joseph não demonstrava qualquer emoção.
Tinha os olhos castanhos de mel mais doces que Demetria alguma vez tinha visto,
mas sua postura provava o contrário. Sabia que estava paralisada, provavelmente
parecendo uma idiota.
— Demetria, você está pálida. Eu vou
preparar um chá pra você. Você teve um dia difícil e esses últimos tempos não
têm sido fáceis. Deve estar a ficar doente. — Falou Selena completamente
apressada. Demetria despertou do seu transe e logo evitou a confusão que estava
causando.
— Tudo bem Selena. Não preciso de nada.
Eu estou ótima. Você sabe que eu não fico doente facilmente.
— Super mulher? — Perguntou Austin divertido.
Demetria olhou de novo para Joseph que
continuava a não demonstrar qualquer emoção e olhou para Austin. Não sabia para
qual deles olhar. De alguma forma, sabia que eles já se conheciam. Talvez pela
forma como agiam, pela roupa ou até pelo fato de Austin ter dado um olhar
significativo a Joseph. Olhar esse que Demetria reparou pelo canto do olho.
— Não
Austin. — Respondeu simplesmente.
— Então,
como podemos ajudar os seus amigos Austin? — Perguntou uma Selena sorridente.
—
Amigos? — Interrompeu Demetria mesmo antes de Austin responder.
Austin
não respondeu e Joseph muito menos. Ela sabia que algo se passava ali. E tinha
a certeza de que logo saberia o que aqueles homens estavam fazendo em sua casa.
— Você
é inteligente Demetria. — Comentou Austin enquanto se aproximava um pouco mais.
— Você nunca deixou de desconfiar de mim. Você é boa.
Demetria
não disse nada. Sabia que ele estava certo.
— Como
assim desconfiar? — Perguntou Selena confusa.
— Selena,
eu nunca confiei de verdade no Austin. — Confessou Demetria. — Sempre tive meus
motivos.
— Ele
deu seus motivos. — Intrometeu-se Joseph. — Podemos ir diretos ao assunto agora?
Não quero perder mais tempo. — Disse arrogante.
Depois
que Austin e Selena saíram do apartamento, ambos os homens que restaram e
Demetria sentaram-se na longa mesa de vidro da sala de jantar. Os papéis do advogado
espalhados pela mesa despertavam a atenção de Demetria. Não fazia ideia do que
eles poderiam querer com ela.
— O
que querem de mim? — Perguntou com os braços cruzados sobre o peito. O olhar de
Joseph incomodava-a e ela nem precisava olhá-lo.
— Que
tipo de relação tinha com Jason Lovato? — Perguntou Joseph sem rodeios.
Demetria
franziu a testa. Não gostava do tom de voz que Joseph usava com ela.
—
Porque isso lhe importa? — Perguntou no mesmo tom. Joseph não gostou do tom de
desafio na voz dela e muito menos de ela ter sustentado seu olhar. Ninguém o
fazia.
—
Demetria. — Chamou Peter, o advogado. — Já ouviu falar da Magestic
Incorporated?
— Vagamente.
É uma empresa de tecnologia informática. Uma das mais famosas do mercado
nacional. Em 2009 foi-lhe dado o primeiro lugar no raking das empresas mais
influentes no mercado informático por servir software à maior parte das
pequenas empresas de todos os Estados Unidos. Mantém-se assim desde então. — Respondeu
curta, direta e mostrando sabedoria, o que surpreendeu Peter.
— Sabe
quem a geria? Sabe quem é o fundador da Magestic Incorporated? — Perguntou.
Demetria negou e Joseph bufou. Estava cansado de rodeios.
— Você,
como única neta, é a única herdeira da Magestic Incorporated e de todo o
património do seu avô, Jason Lovato. Neste momento sou eu quem comanda a
empresa. Você irá gerir. Vai ser a minha sombra nos próximos tempos para se
poder adaptar. Depois de eu e os restantes chefes de departamento acharmos que
está preparada, irá assumir a presidência da empresa.
Demetria
olhou séria para Joseph e de seguida olhou para Peter. Tentou assimilar todas
as palavras, mas não conseguiu, a gargalhada que explodiu em seguida não deixou
que sua mente aceitasse a verdade. Ela não acreditava em uma única palavra que
fora dita.
—
Porque está rindo? — Perguntou Joseph visivelmente irritado. Demetria parou de
rir e olhou-o em tom de deboche.
— Você
está tentando dizer-me que o meu avô, que nunca me visitou e que nunca me deu
oportunidade de visitá-lo desde os meus seis anos de idade, aquele que se
dedicava inteiramente a uma fazenda no meio de Dallas, é dono de uma das
maiores empresas do país? Como esperam que eu acredite nisso?
— Documentos
senhorita Demetria. Aqui. — Disse Peter entregando todos os documentos que
Demetria precisava ver e assinar.
Joseph
observou-a atentamente enquanto ela analisava cada um dos documentos.
Lembrava-se da descrição que Jason fizera dela e só uma coisa parecia bater
certo. Os olhos. Os olhos castanho chocolate de Demetria eram hipnotizantes,
com certeza, mas a tristeza e fragilidade que vira neles no dia do funeral,
ainda estavam lá. Tinha curiosidade em saber o porquê. Estaria relacionado a
Jason?
— Então
quer dizer que eu tenho uma empresa em mãos e nem sabia? — Perguntou num tom de
voz baixo. Se antes tinha alguma dúvida de que sua vida era uma mentira, agora
tinha certeza.
— Você
é um pouco lenta em raciocínio. Teremos que trabalhar nisso também? — Joseph
estava tão impaciente e tão farto da presença da mulher à sua frente que era
capaz de dar as costas e sair simplesmente. Infelizmente não podia fazer isso,
tinha que levar aquela mulher com ele para Dallas imediatamente. Quanto mais
tempo demorasse fora daquela empresa, mais facilmente o caus se instalava.
— Se
vou ter que trabalhar com você, não quero nada. — Disse olhando Joseph nos
olhos. Sentiu seu corpo estremecer com o olhar duro que ela lhe lançou, mas não
baixou a guarda. Não deixaria que ele a intimidasse e humilhasse. Não deixaria
um homem ter esse poder sobre ela. — Eu recuso a herança. Recuso a empresa, os
terrenos, as casas, tudo! — Falou objetiva. — Não preciso de um homem arrogante
e amargurado me dando ordens. Eu mesma estou à procura de emprego neste
momento. Não quero o que meu avô me deixou, eu nem sei o porquê de ele o ter
feito. Isso é demais pra mim.
—
Que infantil você é. Parece que não me
enganei quando a vi naquele cemitério, é apenas mais uma menina inocente e
infantil que não dá a mínima para o que se passa fora do seu mundinho de conto
de fadas. — Disse debochado. Podia ver o rosto de Demetria ficando vermelho e
sentia-se extremamente satisfeito ao ver que causava esse efeito nela. — Não
seja egoísta a ponto de pensar só em você. Por acaso ainda não se deu conta de
que tem centenas de famílias dependendo da sua decisão? O futuro deles está em
suas mãos. Se recusar essa herança, tudo passa a pertencer ao estado e eu não
poderei fazer nada contra isso. Não poderei ficar com a empresa nem se eu
quisesse. Está na altura de parar de fazer birra e aceitar os fatos de que o
mundo não gira em torno de você.
Demetria
sentiu o ódio à flor da pele ao mesmo tempo que sentia seus olhos lacrimejarem.
Fazia tempo desde que alguém a fizera querer chorar, não que ela o fosse
permitir claro. Tinha o orgulho para proteger. Odiava homens arrogantes, odiava
magnatas que pensavam que podiam pisar nos outros e agora odiava Joseph mais
que qualquer outro homem no mundo. Bem, ainda haviam dois que conseguiam ser
piores que ele, mas ela iria riscá-los da lista mental que sua cabeça formava.
Pensou
em responder a Joseph, mas resolveu não o fazer. Ele tinha razão, ela não podia
simplesmente deixar que centenas de pessoas, talvez milhares por todo o país,
ficassem sem seus empregos por causa de seus medos. Ela sabia que aquilo era
algo grande em sua vida. A Magestic Incorporated era quase um império. Tinha
ouvido falar maravilhas da empresa antes e até já se tinha imaginado a
trabalhar nela, mas ser presidente era algo que ela não esperava. Era
impossível que a oportunidade de ter o trabalho que tanto desejava lhe batesse
à porta, certo? Errado. Aquela era a prova.
Olhou
os dois homens à sua frente e olhou a caneta ao lado dos documentos.
— Há
quanto tempo trabalhava para meu avô Peter?
— Desde
que ele fundou a empresa. Há quase trinta anos. — Respondeu sorrindo.
— Então
agora será meu advogado. — Disse sem olhá-lo. Se Jason tinha confiança em
Peter, ela também teria.
Joseph
observou impaciente enquanto Demetria assinava todos os documentos necessários.
Não queria mais lidar com ela, mas sabia que teria. Sabia que tinha que mantê-la
próxima a si durante muito tempo, prometera a Jason e não quebraria sua
palavra.
— Mais
alguma coisa que seja preciso assinar Peter? — Perguntou Demetria entregando
todos os documentos devidamente assinados.
—
Você não, mas Joseph sim. — Disse
sério.
—
Desde que quando eu tenho que assinar
alguma coisa? — Perguntou confuso. Não entendia, seu dever era trazer Demetria
para a empresa e o advogado seria o único a tratar de toda a burocracia.
—
Desde que Jason colocou o seu nome
neste testamento. A partir do momento em que assinar o documento que tenho em
mãos, você será dono de cinquenta por cento desta empresa. Demetria não é a
única herdeira.
Apartamento de Demetria, Princeton, NJ.
— Deixa
ver se eu entendi, você é herdeira de uma das maiores empresas dos Estados
Unidos, seu avô não cuidava de uma fazenda como a gente pensava, Joseph Jonas é
o homem sinistro do cemitério, que na verdade é um Deus Grego como eu mesma
nomeei, ele mesmo andou investigando toda a sua vida, ou grande parte, e você
está fazendo as malas nesse momento porque tem que apanhar um avião para Dallas
em apenas quatro horas? — Perguntou indignada enquanto observava Demetria
arrumar as poucas roupas que tinha.
— Selena
é tudo muito confuso para mim também, mas sim, é basicamente isso.
— Eu
vou sentir a sua falta. — Disse já chorando. Demetria olhou-a e suspirou
abrindo os braços para um abraço. Iria sentir falta de ver Selena todos os
dias, mas sabia que manteriam contato.
— Eu
não vou para Tóquio, sabe disso não sabe? — Falou fazendo a amiga rir.
— Claro
que sei, mas não é fácil! Nós sempre olhamos uma pela outra. Quem vai olhar por
você agora? Eu disse a Austin que se não cuidasse de você, eu mesma cortaria o
você sabe o quê. Seria a maior desgraça da vida dele!
— Selena!
Coitado do rapaz!
— Quando
for visitar você lá no Texas, espero que você seja menos puritana. Lá tem muito
cowboy que sabe montar. Tenho a certeza de que o seu gato, de nome Joseph
Jonas, também sabe. Aproveite para dar uma cavalgada, se é que me entende. — Falou
piscando para Demetria que corou bruscamente.
— Não
fale dessas coisas assim. Você é uma depravada Selena. E Joseph não vai ser
nada mais do que colega de trabalho! Não quero qualquer contato além do
necessário com aquele imbecil. — Falou socando as roupas para dentro da mala de
viajem.
— Ele
é gostoso, da alta sociedade e vai passar muito tempo com você. Devia aproveitar
para tirar o atraso. — Falou olhando as unhas.
— Eu
não vou te ouvir mais. Tenho exatamente duas horas para estar lá em baixo à
espera do carro que me levará ao aeroporto.
— Eu
também te amo. — Retrucou irónica. — Agora a sério, prometa-me que vai se
cuidar.
— Eu
mesma vou olhar por mim Selena. Vou ficar bem.
— E
não vai dizer nada ao seu pai? — Perguntou e viu o sorriso no rosto de Demetria
desaparecer. Aquele sempre seria um assunto delicado.
— Não
tenho que lhe dar justificações. E pelo que a minha vida vai mudar, ele saberá
de qualquer jeito. Isso simplesmente não importa.
Selena
não insistiu. Ajudou Demetria a fazer as malas enquanto riam no meio de
besteiras que Selena dizia e logo estavam fora do prédio, aguardando o
transporte que levaria Demetria até ao aeroporto.
— Me
liga todo o dia?
— Ligo
sim Selena. Eu vou ficar bem.
— Tudo
bem. — Suspirou. — Eu acredito que vá, você é uma guerreira, nunca se esqueça
disso! — Pediu segurando as duas mãos da melhor amiga.
Demetria
sentiu seus olhos arderem e logo tratou de segurar as lágrimas. Não iria
chorar.
“Todos os passageiros com destino a
Dallas, vôo 488, façam favor de se dirigir ao portal de embarque…”
Essa
era a frase que ecoava na mente de Demetria enquanto caminhava em direcção ao
avião. Acreditava que esse era o começo de uma nova fase de sua vida. Queria
acreditar nisso.
Quando
se deu conta, já estava sentada em seu assento perto da janela na primeira
classe. Olhava algum ponto lá fora e não dava atenção à conversa de Austin e
Joseph na sua frente. Estava com os pensamentos perdidos no passado.
—
Demetria! — Virou sua cabeça rapidamente na direção de Austin e sorriu. — Está
pronta para a Magestic Incorporated? — O sorriso divertido que pairava no rosto
do homem, mostrava claramente que este tentava animar Demetria. Sem resultados.
—
Sinceramente? — Perguntou olhando Joseph. Este sustentou o olhar sem
pestanejar. — Nem um pouco. — Disse descontraída ao ver a surpresa no rosto de
cada homem, incluindo Joseph. — Mas estou preparada para salvar o sustento de
centenas de famílias que o meu avô criou. Existe uma coisa chamada honra,
Austin. — Falou olhando o céu azul. — Se tiver que mudar toda a minha vida para
manter a honra dos Lovato, assim farei. — Olhou de novo para Joseph e disse com
o tom de voz mais duro que conseguia. — Não sou egoísta e eu vou provar isso.
quero q chegue logo quando ja estao completamente envolvidos
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